Principais tipos, sintomas e tratamento para hepatite viral

Por Dr. José Aldair Morsch, 6 de julho de 2021
Como prevenir a contração de uma hepatite viral

Você provavelmente já ouviu falar em hepatite viral, mas sabe quais são os principais riscos e complicações geradas pela doença?

A patologia possui diversos tipos de manifestação, sendo que muitos deles são silenciosos e dificultam o diagnóstico precoce.

Isso porque, por mais que certos casos possam surgir de maneira leve, todos merecem atenção e exigem o devido tratamento, já que seu curso pode agravar-se e até se tornar fatal.

Assim, para que você entenda a condição e saiba como se proteger dela, preparei este artigo para explicar melhor o que é hepatite viral, quais seus principais tipos, causas, sintomas, diagnóstico, tratamento e meios de prevenção. 

O que é hepatite viral? 

Em primeiro lugar, toda inflamação que acomete o fígado se chama hepatite. Trata-se de uma patologia que afeta um dos órgãos mais importantes do sistema digestório, o qual atua na sua desintoxicação.

Como o próprio nome indica, as hepatites virais ocorrem por infecções virais, que podem vir de infecções por diferentes tipos de vírus. 

Normalmente, a condição surge de maneira silenciosa e só costuma chamar a atenção dos pacientes após uma complicação. O que reforça a importância da medicina preventiva para identificar precocemente e ter um tratamento bem-sucedido.

De acordo com o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, houveram 673.389 casos de hepatites virais no Brasil entre 1999 e 2019.

Já segundo os dados da OMS divulgados no UOL, estima-se que a patologia provoque 1,3 milhões de mortes anualmente em todo o mundo. 

Nesse sentido, os tipos A, B, C e D são os que mais atingem os brasileiros, sendo o primeiro recorrente na região Nordeste, o segundo e o terceiro na região Sudeste e o quarto no Norte. 

Ainda que a hepatite E não seja tão prevalente, ela também pode ser grave e exige tantos cuidados quanto as demais. 

Entenda melhor as características, taxas de incidência, sintomas e demais informações relevantes sobre as hepatites virais ao longo dos próximos itens. 

Principais tipos de hepatite viral 

Cada tipo de hepatite viral  possui particularidades próprias. Porém, antes de conhecer os meios de transmissão, sintomas e tratamentos para cada caso, veja como eles se caracterizam: 

Hepatite A

A hepatite A é uma doença infecciosa que ocorre por conta do vírus HAV, ou vírus A da hepatite. 

Na maioria das situações, a condição é benigna, mas sua letalidade e a gravidade dos seus sintomas aumentam conforme a idade dos pacientes. 

Segundo o supracitado Boletim Epidemiológico, estima-se que a hepatite A representa 25% das hepatites no Brasil. 

Hepatite B

Já o vírus da hepatite B, ou HBV, às vezes não provoca sintomas, sendo comum que os pacientes só o identifiquem décadas após sua infecção, quando a gravidade é maior.

No entanto, cerca de 36,8% das hepatites no país são B, o que a coloca no segundo lugar entre as que mais atingem os brasileiros. 

Hepatite C

Por sua vez, a hepatite C é um processo inflamatório que o vírus HCV gera, e pode ser agudo ou crônico. 

Também é uma doença silenciosa, que causa inflamação persistente no fígado. É a mais comum no Brasil, com prevalência de 37,6%.

Hepatite D

Conhecida como hepatite Delta, a doença se desenvolve por conta do vírus HDV e tem associação com a hepatite B. Isso porque as infecções acontecem simultaneamente ou como resultado de uma infecção crônica pelo HBV. 

Mesmo sendo a mais grave de todas, com progressão acelerada para cirrose e alta mortalidade, a hepatite D é uma das menos comuns, atingindo apenas 0,6% da população. 

Hepatite E

Por fim, a hepatite E tem causa no vírus HEV, sendo uma doença aguda, de curta duração e autolimitada.

Apesar de ser benigna em grande parte dos casos e raramente se tornar crônica, ela pode ser grave em gestantes. Sua incidência é baixa e sequer consta no Boletim Epidemiológico. 

O que causa e como ocorre a transmissão de uma hepatite viral?

As hepatites virais têm transmissão variável, que muda de acordo com o seu tipo específico.

O que causa uma hepatite viral?

Confira como são as causas de cada uma delas:

Causas e transmissão da hepatite A

A hepatite por HAV, ou “hepatite infecciosa”, tem esse nome porque seu vírus é transmitido por meio do contato entre as pessoas com infecção. 

Além disso, ela também está presente em águas e alimentos contaminados, geralmente por conta da falta de tratamento de esgoto, em um modo de transmissão fecal-oral. 

Causas e transmissão da hepatite B

No caso do vírus HBV, a transmissão ocorre por fluidos corporais, como sangue, secreções, entre outros.

Isso a torna uma doença sexualmente transmissível, ou que se adquire pelo uso de objetos pessoais infectados, pelo compartilhamento de seringas ou outros perfurantes. 

Caso gestantes se infectem, também há o risco de que a hepatite B passe de mãe para filho. 

Causas e transmissão da hepatite C

A transmissão do HCV é muito semelhante à do HBV, já que o vírus está presente no sangue dos indivíduos contaminados.

Portanto, sua causa tem relação com fluidos corporais de pessoas doentes. 

Causas e transmissão da hepatite D

Nesse caso, as formas de infecção também são iguais às da hepatite B, mas ainda há o agravante de que as doenças têm relação. 

Além de terem os mesmos meios de transmissão, o HDV pode ocorrer simultaneamente ao HBV ou como consequência de sua manifestação crônica. 

Causas e transmissão da hepatite E

A hepatite E tem as mesmas causas da hepatite A. Ou seja, pode ocorrer pela transmissão entre os pacientes ou por meio fecal-oral.

Ainda vale relembrar que sua ocorrência é bastante rara no Brasil, sendo mais comum em países da Ásia e da África. 

Quais são os sintomas da hepatite viral?

Da mesma forma que ocorre com as causas, a hepatite viral possui sintomas que se apresentam de diferentes maneiras entre seus tipos. Sendo assim, veja como reconhecer a doença em cada situação: 

Sintomas da hepatite A

Os sinais iniciais da hepatite A são inespecíficos, incluindo dor de cabeça, febre, mal-estar, cansaço e dores musculares.

Também é comum que sintomas gastrointestinais surjam em seguida, como vômitos, dor abdominal, enjoo e constipação ou diarreia.  

Além disso, eles aparecem entre 15 e 50 dias após a infecção, com duração menor que dois meses. A icterícia (pele e olhos amarelados) também é uma característica comum da HAV, que ocorre na fase após o surgimento de urina escurecida. 

Sintomas da hepatite B

A hepatite B não tem sintomas em grande parte dos casos. Por isso, seu diagnóstico às vezes ocorre décadas após a infecção.

Inclusive, os sinais surgem em estágios mais avançados da patologia e têm ligação com outros problemas que ocorrem no fígado. Os mais comuns incluem dor abdominal, icterícia, febre, tontura, enjoo e fadiga. 

Sintomas da hepatite C

Na grande maioria dos pacientes, a hepatite C não gera sintomas. Por isso, a realização de exames de rotina por parte das pessoas, e de testagens espontâneas entre a população, é fundamental para combater sua ocorrência e possíveis agravos. 

Sintomas da hepatite D

Assim como nas demais hepatites virais, o HDV pode ter sintomas inespecíficos ou inexistentes, sendo fundamental realizar exames de rotina para identificá-la. 

Porém, quando ocorrem, os sinais também incluem dores abdominais, urina escura, enjoo, cansaço, tontura, febre e icterícia. 

Sintomas da hepatite E

Normalmente, a hepatite E causa uma infecção de curta duração, que se limita de 2 a 6 semanas. 

Em adultos jovens, sua manifestação é indistinguível clinicamente de outras hepatites virais agudas. Já nas crianças, ela pode não ter sintomas ou ser extremamente leve. 

Além disso, os sinais iniciais podem incluir febre, dores musculares, mal-estar e cansaço excessivo, além de icterícia, enjoo, vômitos, dor abdominal e diarreia ou constipação. 

No caso das gestantes, há maiores casos de insuficiência hepática aguda, mortalidade ou perda fetal. Isso é mais comum entre o segundo e terceiro trimestre de gravidez. 

Como é feito o diagnóstico de hepatite viral?

Durante a consulta médica, o profissional de saúde pode solicitar diferentes tipos de exames para confirmar a presença de uma hepatite viral.

Como é feito o diagnóstico de hepatite viral?

Entretanto, cada tipo da doença possui marcadores específicos, e os procedimentos variam da seguinte maneira:

Diagnóstico da hepatite A

Após o surgimento dos sintomas, algumas análises determinam o diagnóstico por meio do reconhecimento dos anticorpos que atuam contra o HAV. 

Nesse sentido, eles podem incluir o anticorpo IGM, que combate infecções recentes; IGG, que são anticorpos de memória para o contato por toda via de infecção; e IGA, que estão presentes no trato gastrointestinal. 

Diagnóstico da hepatite B

A carga viral da hepatite B gera inflamações no fígado, que aumentam alguns marcadores sanguíneos como o AST e o ALT. Estes são identificáveis apenas por meio de exames laboratoriais.

Além disso, é feita a análise do órgão por meio de ultrassom, ou ainda por elastografia, que determina sua dureza – a qual pode alterar-se por ação da doença. 

Diagnóstico da hepatite C

Sempre que a carga viral da hepatite C é muito alta e se torna crônica, o diagnóstico determina o grau de comprometimento do fígado.

Isso também é feito por exames de sangue, ultrassom ou elastografia. Além disso, certos casos podem exigir biópsia do órgão. 

Diagnóstico da hepatite D

A hepatite Delta tem seu diagnóstico por meio da presença de anticorpos específicos. Nesse caso, os marcadores são para anti-HDV. 

Diagnóstico da hepatite E

Na hepatite E, os testes sorológicos identificam praticamente os mesmos anticorpos analisados na hepatite A, como o IGM e o IGG. 

O que é preciso para o tratamento de uma hepatite viral? 

Com a confirmação, o diagnóstico para hepatite viral orienta tratamentos de acordo com o tipo da doença e o grau de acometimento do indivíduo, o que inclui:  

Tratamento para hepatite A

A hepatite A não possui uma terapia pré-definida. Tudo varia de acordo com o quadro clínico, que dita as intervenções a que o paciente tem direito.

Normalmente, são prescritos medicamentos para controlar a desidratação e os sintomas em geral. Contudo, situações mais graves podem exigir a hospitalização, como na ocorrência de insuficiência hepática aguda. 

Mesmo com a importância da intervenção medicamentosa, lembre-se de nunca recorrer à automedicação, pois certas substâncias podem trazer riscos e agravamentos sérios sem a indicação de um especialista. 

Tratamento para hepatite B

Tanto na forma aguda quanto na crônica, a hepatite B também tem tratamento com base em remédios, que combatem os sintomas e evitam complicações como a cirrose.

Porém, em todos os casos, é importante que o paciente também mude certos hábitos, evitando o consumo de álcool e outras substâncias nocivas ao fígado. 

Tratamento para hepatite C

É comum combater a hepatite C por meio de antivirais, que servem para enfrentar a ação do HCV no organismo.

Contudo, como nas demais situações, as terapias podem variar de acordo com a situação do paciente e suas necessidades. 

Tratamento para hepatite D

A hepatite D também exige o uso de medicamentos específicos para os sintomas e condições do paciente, junto a boa alimentação, repouso e veto de bebidas alcoólicas. 

Tratamento para hepatite E

O combate da hepatite E segue a mesma lógica que descrevi acima, com medicamentos específicos para o quadro e a suspensão do álcool, de alimentos nocivos e esforços físicos. 

Como prevenir a contração de uma hepatite viral?

Como prevenir a contração de uma hepatite viral?

Os métodos de prevenção das hepatites virais evidentemente tem ligação com as causas de cada um dos seus tipos de manifestação, o que pode incluir cuidados como:

Prevenção da hepatite A

Como a hepatite A tem transmissão entre as pessoas ou de modo oral-fecal, é importante evitar contato com pessoas doentes, prezar por saneamento básico e hábitos de higiene, tratamento de água, evitar esgotos a céu aberto, entre outros cuidados.

Inclusive, há uma vacina contra o HAV disponível no SUS, mas apenas para portadores de doenças crônicas na medula óssea ou receptores de transplante do órgão. 

Prevenção da hepatite B

Considerando que a hepatite B pode ocorrer por fluídos corporais, é fundamental utilizar preservativos durante relações sexuais, não compartilhar itens pessoais e garantir a esterilização de objetos perfurantes, seja em tratamentos de acupuntura, estúdios de tatuagem e serviços semelhantes.

Também há uma vacina para o HBV no SUS para pessoas mais vulneráveis, como portadores de DSTs, profissionais de saúde, gestantes e imunodeficientes. Contudo, a recomendação de consumo é para menores de 50 anos.

Prevenção da hepatite C

Os cuidados contra a hepatite C seguem a mesma lógica que descrevi acima, por meio do cuidado e da prevenção com pessoas e objetos. No entanto, ao contrário do HAV e HBV, não há uma vacina para o vírus HCV. 

Prevenção da hepatite D

Mais uma vez, a prevenção tem relação com os cuidados no contato sexual, no compartilhamento de objetos e na proteção geral. Também há a possibilidade de vacinação para a hepatite D. 

Prevenção da hepatite E

Para finalizar, voltamos às mesmas medidas da hepatite A, já que as principais vias de transmissão do HEV também são orais-fecais e via contato entre pessoas.

Portanto, é fundamental manter hábitos de higiene, contar com saneamento básico e tratamento de esgoto, evitar proximidade com pacientes doentes e assim por diante.

Conclusão

Conforme abordei ao longo do artigo, as hepatites virais podem se manifestar de diferentes maneiras, mas todas elas trazem riscos e exigem cuidado entre os pacientes.

Por serem silenciosas e muitas vezes de potencial crônico, é fundamental adotar seus meios de prevenção e prezar pelos exames de rotina, que ajudam no diagnóstico precoce e dão melhores chances de sucesso para os tratamentos.

Se você gostou deste artigo e quer ficar por dentro de temas tão importantes quanto a hepatite viral, não deixe de acompanhar nossos próximos conteúdos.

Clique aqui para assinar a newsletter do blog e compartilhe o texto com os seus amigos.

Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin