Intoxicação digitálica no ECG: como identificar e acelerar o diagnóstico

Você consegue identificar a intoxicação digitálica no ECG?

Devido à ação dos medicamentos digitálicos sobre a contração do músculo cardíaco, o eletrocardiograma é capaz de sinalizar quando há efeito tóxico.

Ao registrar o ritmo cardíaco, o método diagnóstico revela distúrbios na frequência, como as taquiarritmias, que podem indicar intoxicação.

Localizar esses achados e relacioná-los com manifestações clínicas auxilia no diagnóstico e contribui para a escolha do tratamento adequado.

Em especial porque, quando se usam fármacos como a digoxina, os níveis terapêuticos são próximos daqueles capazes de provocar efeitos adversos.

Discorro sobre esse tema nas próximas linhas, falando sobre causas, possíveis tratamentos e de que forma a telemedicina colabora para o diagnóstico da intoxicação digitálica.

Vamos em frente?

Como identificar intoxicação digitálica no ECG?

Antes de falar dos achados eletrocardiográficos, ressalto que o diagnóstico da intoxicação digitálica deve ser composto por pelo menos três fatores:

1. Histórico de uso de medicamentos digitálicos
2. Sintomas cardíacos, neurológicos e/ou gastrointestinais
3. Alterações no eletrocardiograma.

Para responder à questão acima, vamos começar pelas anormalidades no ECG, que se expressam como arritmias.

O achado mais comum são as extrassístoles desencadeadas por contrações precoces dos ventrículos.

Nesse caso, o diagnóstico aponta para intoxicação digitálica aguda, principalmente se houver associação entre extrassístoles e hipercalemia.

Outras arritmias de padrão rápido que podem sinalizar o efeito tóxico são:

• Taquicardia ventricular bidirecional: distúrbio raro e frequentemente relacionado à intoxicação digitálica. A TV bidirecional é polimórfica, ou seja, apresenta complexos QRS com diferentes morfologias. Os QRS são largos (duração maior ou igual a 120 ms) e sua morfologia alterna entre a característica de bloqueio de ramo esquerdo (BRE) e direito (BRD)
• Taquiarritmias atriais com bloqueio atrioventricular: arritmias associadas ao bloqueio parcial ou total da condução de impulsos elétricos dos átrios aos ventrículos, evidenciado pela extensão do intervalo P-R
• Fibrilação ventricular: ritmo cardíaco potencialmente fatal, caracterizado pela contração superficial das câmaras inferiores do coração, o que torna o traçado do ECG caótico, composto por ondas de amplitude e duração variáveis e falta de evidência dos complexos QRS.

O aparecimento de ondas U patológicas, inversão ou achatamento da onda T, depressão do segmento ST e intervalo Q-T encurtado são outros indícios suspeitos para a intoxicação digitálica no ECG.

Além dos sinais no ECG, o diagnóstico deve considerar sintomas como:

• Anorexia
• Náuseas
• Vômitos
• Confusão mental
• Xantopsia.

Na sequência, falo sobre possíveis causas para essa condição.

O que causa a intoxicação digitálica?

Basicamente, as causas estão relacionadas ao aumento na ingestão ou problemas na excreção de digitálicos.

Então, vamos voltar um passo para falar dessas drogas, usadas no tratamento de doenças como a insuficiência cardíaca congestiva (ICC), devido a seus efeitos cardiotônicos.

Derivados de plantas da família Digitalis sp., esses fármacos têm ação inibidora da bomba de sódio (Na/K-ATPase).

Conforme o artigo “Digital no Moderno Tratamento da Insuficiência Cardíaca”, publicado na Revista Brasileira de Cardiologia, essa ação resulta no:

“Aumento de sódio no meio intracelular, favorecendo a troca do sódio pelo cálcio, resultando em aumento da contratilidade. Outras ações podem ser de maior valor, como o efeito vagal, melhora da sensibilidade dos barorreceptores, redução da concentração de norepinefrina, diminuição da atividade simpática, aumento da liberação de BNP, do peptídeo natriurético atrial e, redução da ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona”.

Hoje em dia, não se aconselha ultrapassar a dose de 0,25mg.

Emprega-se, na maioria das situações, 0,125mg ao dia, pois doses mais altas tendem a provocar intoxicação.

Já a dificuldade para eliminar a substância no organismo pode ser reflexo de insuficiência renal grave, pois os digitálicos têm a maior parte excretada na urina.

Outras causas possíveis são:

• Hipocalemia
• Uso de fármacos que induzem hipotensão e bradicardia
• Insuficiência cardíaca descompensada.

A idade é um ponto sensível, uma vez que idosos costumam fazer uso contínuo de substâncias capazes de provocar interações medicamentosas com a digoxina.

Como tratar a intoxicação digitálica?

O tratamento depende especialmente da condição clínica e a presença de fatores de risco, como as causas descritas acima.

Em geral, a abordagem se divide entre combate aos sintomas e manejo específico para reversão da intoxicação digitálica, usando o anticorpo anti-Fab.

Conforme orienta a III Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica:

“O reconhecimento precoce desses sinais e sintomas [de intoxicação digitálica], bem como ajuste eletrolítico associado à suspensão da digoxina, normalmente são suficientes para a reversão do quadro. Em caso de intoxicação potencialmente letal e/ou refratária, caso esteja disponível, pode-se utilizar anticorpo anti-Fab”.

Quanto às manifestações clínicas, algumas condutas relevantes são:

• Administração de cristaloides para restaurar a perfusão renal, combatendo a hipotensão
• Atropina ou estimulação cardíaca endovenosa se houver bradiarritmia com instabilidade hemodinâmica.

Ainda sobre diagnóstico e tratamento, vale conhecer as soluções da telemedicina, como apresento na sequência.

Telemedicina e o diagnóstico de intoxicação digitálica no ECG

Não há dúvida sobre a importância da interpretação do ECG para o diagnóstico e tratamento da intoxicação digitálica.

Assim como outras inúmeras doenças cardiovasculares, sinalizadas por alterações no traçado do eletrocardiograma.

Emergências como infarto pedem rápido manejo para estabilizar o paciente, evitando complicações graves capazes de levar à morte ou deixar sequelas.

Nesse cenário, é indispensável contar com um time de cardiologistas especializados no ECG, a fim de obter o laudo médico com agilidade.

Porém, essa não é a realidade de muitos serviços de saúde, principalmente quando ficam distantes dos centros urbanos, onde há carência de especialistas.

A boa notícia é que dá para suprir essa demanda com o auxílio do telediagnóstico da Telemedicina Morsch.

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Observando cada fator que comentei nos tópicos anteriores, ele avalia os achados e produz o laudo médico, assinado digitalmente para garantir a autenticidade.

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Conclusão

Relativamente rara, a intoxicação digitálica no ECG deve ser diagnosticada e revertida assim que possível, prevenindo eventos adversos.

Ao final deste artigo, espero ter tirado dúvidas sobre os principais sinais dessa condição, que pode se apresentar durante o tratamento de cardiopatias.

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