Laudo ergonômico: o que é, objetivos e como fazer

Por Dr. José Aldair Morsch, 6 de janeiro de 2023
Laudo ergonômico

Você sabe em quais ocasiões a empresa deve apresentar um laudo ergonômico?

Embora seja mais comumente solicitado com finalidade jurídica, esse documento pode atender a demandas de segurança e saúde ocupacional.

Afinal, o relatório é elaborado por especialistas em ergonomia.

Dessa forma, fornece insights importantes para proporcionar maior conforto e proteção aos colaboradores.

E realizar adequações nos postos e organização do trabalho, evitando que os funcionários adoeçam.

Avance na leitura para entender o que é, como fazer e a diferença entre laudo ergonômico e análise ergonômica do trabalho (AET).

No final, você ainda encontra um bônus com soluções de telemedicina para assinar esses documentos online.

O que é laudo ergonômico?

Laudo ergonômico é um documento que atesta as condições de trabalho em uma empresa.

Geralmente, atende a uma demanda por análise específica em relação aos fatores psicofisiológicos capazes de afetar o corpo e a mente do empregado.

Para explicar melhor, vale citar a definição dada pela Norma Regulamentadora 17, que trata sobre ergonomia no trabalho, segundo a qual:

“As condições de trabalho incluem aspectos relacionados ao levantamento, transporte e descarga de materiais, ao mobiliário dos postos de trabalho, ao trabalho com máquinas, equipamentos e ferramentas manuais, às condições de conforto no ambiente de trabalho e à própria organização do trabalho”.

Todos esses componentes produzem impacto positivo ou negativo no bem-estar do colaborador, com o potencial de oferecer riscos ergonômicos importantes.

Ou seja, fatores decorrentes da falta de ajuste do trabalho em relação ao ser humano.

Cabe ao laudo ergonômico oferecer uma avaliação aprofundada de um ou alguns riscos ergonômicos, atestando não apenas sua presença na empresa, mas também a exposição ocupacional e seu impacto sobre a saúde do trabalhador.

Qual o objetivo do laudo ergonômico?

Na maioria das vezes, o documento é solicitado por um juiz na apreciação de processos trabalhistas que envolvem possíveis doenças relacionadas ao trabalho.

Nesse cenário, o laudo ergonômico contribui para afastar ou sustentar a hipótese de nexo causal entre as condições de trabalho e a patologia em questão.

Ou seja, o relatório ajuda a comprovar a exposição ocupacional a determinado agente patógeno.

Um caso comum é a rotina de movimentos repetitivos e postura inadequada, que podem desencadear LER/DORT (Lesões por Esforços Repetitivo / Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho).

Dados da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho revelam que, apenas em 2019, essas doenças provocaram o afastamento de quase 39 mil trabalhadores.

No entanto, é necessário o conhecimento de um especialista capaz de identificar quadros de tendinite e bursite, por exemplo, ou sintomas como sensação de peso, dor e cansaço crônico.

Eles devem estar relacionados a uma rotina de uso excessivo de músculos, articulações e tendões no trabalho para estabelecer o nexo causal.

Todos esses apontamentos são feitos no laudo ergonômico, que ainda pode ter como finalidade:

  • Colaborar para a prevenção de doenças ocupacionais e acidentes de trabalho
  • Resguardar a empresa de processos trabalhistas e penalidades
  • Apoiar e aprofundar outros relatórios ergonômicos, como a AET
  • Fornecer indicativos de pontos de melhoria.

A seguir, explico como fazer o laudo ergonômico.

Como fazer um laudo ergonômico?

Como cada laudo ergonômico visa esclarecer um tópico específico, não existe uma receita única para estruturar esse documento.

Sua versão completa, também chamada Laudo Ergonômico Consciente, é formada por três tipos de relatório:

  1. Laudo Ergonômico do Objeto
  2. Laudo Ergonômico do Posto de Trabalho
  3. Laudo Ergonômico Funcional.

Tomando como base o laudo consciente, o profissional responsável pode seguir as etapas abaixo para criar sua versão completa.

Priorize a questão central

Quem trabalha com ergonomia sabe que essa é uma ciência extensa, que estuda a relação entre homem e trabalho a partir de diferentes perspectivas.

Por isso, faz sentido começar estabelecendo o objetivo do laudo ergonômico que, como mencionei acima, deve responder ao menos uma questão central.

Pode ser que, para chegar a essa resposta, o profissional precise percorrer uma jornada longa, no entanto, a solução deve ser apresentada.

Em especial quando o laudo se propuser a fornecer provas para processos judiciais.

Nesses casos, é imprescindível seguir as regras determinadas pelo juiz.

Laudo ocupacional

Cabe ao laudo ergonômico oferecer uma avaliação aprofundada de um ou mais riscos ergonômicos

Estude as condições organizacionais de trabalho

Segundo o item 17.4.1 da NR 17, essas condições compreendem:

  • As normas de produção
  • O modo operatório, quando aplicável
  • A exigência de tempo
  • O ritmo de trabalho
  • O conteúdo das tarefas e os instrumentos e meios técnicos disponíveis
  • Os aspectos cognitivos que possam comprometer a segurança e a saúde do trabalhador.

Dependendo das fontes de perigo identificadas, pode haver problemas para os funcionários, como sobrecarga muscular estática ou dinâmica.

Siga para os quesitos ambientais

Fatores ambientais interferem no bem-estar no trabalho, além de ter potencial danoso à saúde.

Nesse contexto, cabe ao empregador manter níveis confortáveis de luminosidade, temperatura, ruído e umidade nos postos de trabalho.

Inclusive, existem orientações e limites de tolerância definidos pelas normas regulamentadoras para evitar o adoecimento dos funcionários.

Analise os fatores físicos

Postura, biomecânica corporal para o desempenho das atividades laborais e posicionamento do mobiliário e ferramentas são algumas condições estudadas nesta etapa.

Esforços físicos, móveis inadequados, ritmo intenso e outros desarranjos elevam as chances de sobrecarga física para os colaboradores.

Faça avaliações qualitativas e/ou quantitativas

Depois de identificar os riscos, será preciso escolher a metodologia de avaliação para constatar a exposição ocupacional.

A escolha do método fica a cargo do especialista responsável, contudo, há recomendações nas NRs conforme cada agente de risco analisado.

Fatores organizacionais são mais difíceis de dimensionar, motivando avaliações qualitativas, enquanto o ruído conta com limites de exposição e ferramentas de análise descritos nas normas.

Verifique as medidas preventivas

A partir das análises acima, você poderá identificar um ou mais riscos ergonômicos na empresa.

O que não significa que estejam fora de controle, pois podem ser mitigados por meio de ações preventivas estruturadas dentro de iniciativas como o Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) e o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO).

A má postura pode ser corrigida com móveis adaptados e oferta de descanso para os membros inferiores e superiores, por exemplo.

Enquanto a luminosidade é passível de adequações simples, como a instalação de lâmpadas mais potentes ou a possibilidade de ajustar a quantidade de luz no posto de trabalho.

Elabore o relatório

Tendo em mãos todos os dados das análises e medidas preventivas, prossiga para sua descrição no laudo ergonômico.

Finalize o documento com sua assinatura manual ou digital – usada para garantir a autenticidade dos documentos de saúde ocupacional gerados em formato digital.

Checklist para laudo ergonômico

O ideal é que o seu checklist contemple as necessidades do laudo ergonômico, partindo do seu objetivo.

Trago como exemplo questões listadas nesta apresentação, considerando aspectos comuns à rotina administrativa das empresas:

  • O relatório de avaliação das condições ergonômicas foi elaborado e está disponível?
  • É proibida a execução de transporte manual de cargas com peso capaz de comprometer a saúde ou segurança do trabalhador?
  • Trabalhadores designados para o transporte manual de cargas receberam treinamento para prevenir acidentes e doenças?
  • O mobiliário atende às condições de conforto e segurança previstas na NR 17?
  • Bancadas, mesas, escrivaninhas e painéis proporcionam condições de boa postura, visualização e operação ao colaborador?
  • Há pedais com fácil alcance e dimensões suficientes para acomodar os pés?
  • Existem assentos para descanso durante as pausas dos funcionários que trabalham em pé?
  • Assentos utilizados atendem aos requisitos mínimos de conforto descritos na NR 17?
  • Atividades de leitura para digitação, datilografia ou mecanografia atendem ao disposto na norma?
  • Equipamentos de processamento eletrônico de dados com terminais atendem às condições de mobilidade, possuem teclado independente e móvel, regulamento de altura e distâncias?
  • As condições ambientais de trabalho são adequadas às características psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do trabalho executado?
  • Há iluminação adequada (níveis mínimos de iluminamento estabelecidos na NBR 5413), natural ou artificial, nos postos de trabalho?
  • Há pausas para empregados que exercem atividades que exijam sobrecarga muscular estática ou dinâmica do pescoço, ombros, dorso, membros superiores e inferiores?
  • Para tarefas de processamento eletrônico de dados, o limite de 8 mil palavras por hora, com pausas de 10 minutos a cada 50 minutos trabalhados, é respeitado?
  • A organização do trabalho está adequada?

As respostas a cada um desses item ajuda na construção do laudo.

Laudo de ergonomia

O laudo ergonômico tende a focar em uma questão central, enquanto a análise AET é mais ampla

Quem pode assinar um laudo ergonômico?

O laudo ergonômico faz parte das atividades de Engenharia de Segurança do Trabalho, conforme detalha a Resolução Confea 437/1999, que menciona os seguintes documentos:

  • Programa de condições e meio ambiente do trabalho na indústria da construção – PCMAT
  • Programa de prevenção de riscos ambientais – PPRA
  • Programa de conservação auditiva
  • Laudo de avaliação ergonômica
  • Programa de proteção respiratória

Como exemplos, cito a avaliação ergonômica preliminar e a análise ergonômica do trabalho (AET).

Ambas possuem propósito preventivo e devem, inclusive, fazer parte do plano de ação do PGR.

Explico melhor as diferenças entre esses documentos no próximo tópico.

Qual a diferença entre AET e laudo ergonômico?

A confusão entre AET e laudo ergonômico é bastante comum e tem seus motivos.

Em primeiro lugar, porque a análise ergonômica do trabalho é um tipo de laudo ergonômico, que só pode ser assinado por especialistas em ergonomia.

Contudo, como o laudo se presta a cumprir determinações judiciais, é um relatório distinto da AET.

Outra diferença está no escopo, já que o laudo ergonômico tende a focar numa questão central, ao passo que a AET é mais ampla.

Afinal, trata-se de um estudo que visa adequar as condições de trabalho às limitações e capacidades dos colaboradores.

A AET também é uma extensão da avaliação ergonômica preliminar, que deve ser feita, se possível, na fase de projeto ou enquanto os postos de trabalho são montados.

Laudo ergonômico tem prazo de validade?

Como não é mencionado nas normas regulamentadoras, o laudo ergonômico não tem validade preestabelecida.

Porém, faz sentido manter o documento junto à AET e demais relatórios que avaliam a ergonomia na empresa, dando suporte aos programas de segurança e saúde do trabalho.

Telemedicina na emissão de laudos ocupacionais

De acordo com a Portaria 211/2019, os documentos de saúde ocupacional podem ser entregues e arquivados em formato digital, desde que cumpram algumas regras:

  • Sejam apresentados no formato “Portable Document Format” – PDF de qualidade padrão “PDF/A-1”, descrito na ABNT NBR ISO 19005-1
  • Contenham certificação digital no padrão da Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira – ICP-Brasil
  • Sejam mantidos pelo empregador à disposição para apresentação à Inspeção do Trabalho.

A emissão dos laudos deve ser feita através de sistemas robustos e seguros, como a plataforma de Telemedicina Morsch.

O sistema permite a criação, assinatura digital e armazenamento dos arquivos na nuvem, onde ficam guardados por mecanismos de autenticação e criptografia.

Assim, fica mais simples e rápido finalizar os laudos, que podem ser assinados a distância por médicos do trabalho e outros especialistas.

O serviço está disponível para:

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Conclusão

Abordei neste artigo detalhes sobre os objetivos, tipos e como fazer o laudo ergonômico.

Essa dinâmica fica mais simples com o suporte da Telemedicina Morsch, que oferece soluções para a criação, compartilhamento e assinatura dos documentos digitais com segurança.

Conheça nossos serviços e aproveite as vantagens da transformação digital para preservar e monitorar a saúde dos colaboradores!

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Aproveite para ler outros textos no blog sobre medicina ocupacional e suas tendências.

Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin