Eletroencefalograma e TDAH: o exame ajuda a diagnosticar o transtorno?

Por Dr. José Aldair Morsch, 24 de janeiro de 2023
Eletroencefalograma TDAH

Será que eletroencefalograma e TDAH têm relação?

Essa possibilidade vem sendo estudada por médicos e pesquisadores nos últimos anos, já que seria interessante dispor de um exame capaz de detectar o transtorno.

O método apoiaria as ferramentas tradicionais de diagnóstico, que se baseiam em avaliações clínicas e comportamentais do paciente.

Apresento a resposta para essa questão nas próximas linhas, além de informações sobre o EEG, TDAH e a contribuição da telemedicina para otimizar a entrega de laudos.

Boa leitura!

Eletroencefalograma detecta TDAH?

Não, o eletroencefalograma não é capaz de diagnosticar o transtorno do déficit de atenção com hiperatividade.

Essa constatação tem base em diversos estudos, como esta análise divulgada pela Sobramfa (Sociedade Brasileira de Medicina de Família), que afirma:

“Para avaliar a utilidade clínica do EEG, pesquisaram-se sistematicamente várias bases de dados. Foi encontrado um único estudo que mostrou que a combinação de EEG e avaliação clínica foi 88% exata, mas não relatou nenhuma precisão diagnóstica para qualquer teste em separado”.

Segundo o documento, pesquisas avaliadas ainda mostraram que, para o diagnóstico do TDAH, o EEG isolado apresentou taxa de mais de 5% de falsos positivos, porcentagem julgada inaceitavelmente alta.

Por que o eletroencefalograma não diagnostica TDAH?

Principalmente porque ainda não foram encontrados biomarcadores ou padrões relacionados à TDAH e que possam ser observados a partir dos gráficos do EEG.

Esse é um dos apontamentos de estudos como “Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) – avaliação do padrão no EEG e estado nutricional de crianças e adolescentes de Brasília/DF”.

Após avaliar 70 pacientes entre 9 e 18 anos e que apresentavam critérios clínicos de TDAH, os autores observaram alterações no EEG somente entre meninos, sem evidências que permitissem um diagnóstico preciso, concluindo que:

Não houve associação entre sinais clínicos de TDAH e alteração no EEG, nem alterações do estado nutricional”.

No entanto, pode ser que algum exame complementar colabore para detectar o transtorno neurocomportamental no futuro.

Em especial porque pesquisas sugerem que o TDAH surge a partir de anomalias no funcionamento da região frontal orbital do cérebro, devido ao desequilíbrio na liberação dos neurotransmissores dopamina e noradrenalina.

Como diagnosticar TDAH?

O diagnóstico do TDAH é clínico, considerando o histórico do paciente, comportamento e pontuação em escalas de avaliação.

Uma delas é o SNAP-IV, validado como ferramenta de diagnóstico da patologia em crianças e adolescentes.

Trata-se de um formulário que considera os critérios estabelecidos pelo DSM-IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), em que devem ser dadas as respostas “nem um pouco”, “só um pouco”, “bastante” e “demais” a 18 afirmações.

Se a resposta for “bastante” ou “demais” para pelo menos seis entre as nove primeiras afirmações, o paciente atende ao critério de TDAH com perfil de desatenção.

Se houver seis ou mais “bastante” ou “demais” nas respostas para as afirmações 10 a 18, há sintomas de hiperatividade e impulsividade.

Caso o paciente combine os dois critérios acima, pode apresentar TDAH misto, com sinais de desatenção, hiperatividade e impulsividade.

Mas o SNAP-IV não deve ser empregado de forma isolada, como orienta a Associação Brasileira de Déficit de Atenção (ABDA).

Após preencher o formulário e identificar sintomas sugestivos, o médico ou equipe multidisciplinar devem aplicar outros quatro critérios para o diagnóstico do TDAH:

  • Alguns dos sintomas devem estar presentes antes dos 7 anos de idade
  • Os sintomas causam problemas em, pelos menos, dois contextos diferentes, como na vida social e na escola, em casa e na escola etc.
  • As manifestações do transtorno prejudicam a vida escolar, social ou familiar do paciente
  • Caso haja outra doença mental, é possível que os sintomas não sejam provenientes do TDAH, o que requer uma avaliação minuciosa.

O TDAH também pode ser diagnosticado em adultos, geralmente utilizando critérios similares e outras escalas de avaliação.

Como interpretar o resultado do eletroencefalograma?

Para interpretar o EEG corretamente, é preciso contar com gráficos de qualidade, que revelem a atividade elétrica do cérebro, e ter conhecimentos profundos sobre os padrões cerebrais, tipos de onda e alterações na frequência.

Não é à toa que essa tarefa é reservada a médicos neurofisiologistas clínicos ou eletroencefalografistas.

Basicamente, eles verificam os tipos e características das ondas do eletroencefalograma, correlacionando-as a sintomas e estado de consciência do paciente.

Esses dados são comparados às referências de normalidade, a fim de determinar se o laudo do EEG é normal ou alterado.

Normalmente, são observadas ondas beta (13 -30 HZ) enquanto o paciente está desperto, e ondas alfa (7-13 HZ) durante seu relaxamento.

Já a diminuição da atividade cerebral é marcada por ondas theta (4-7 HZ), e o sono REM, por ondas delta (4-0 HZ).

EEG TDAH

Sintomas presentes antes dos 7 anos de idade são um dos critérios para o diagnóstico do TDAH

Telemedicina no laudo do eletroencefalograma

Unidades de saúde que realizam exames como o eletroencefalograma e a polissonografia podem se beneficiar da telemedicina neurológica.

Essa especialidade conecta sua equipe a especialistas remotamente, incluindo eletroencefalografistas experientes.

Para solicitar o serviço, é só acessar a plataforma Morsch e contratar um ou mais laudos a distância.

Um médico generalista ou técnico de enfermagem habilitado podem conduzir o EEG normalmente, compartilhando os registros no sistema de telemedicina.

O software Morsch requer apenas login e senha num dispositivo conectado à internet, pois fica hospedado na nuvem.

Em seguida, um de nossos especialistas analisa os gráficos e anota suas conclusões no laudo médico, assinado digitalmente para garantir a autenticidade.

Tudo é rápido, fácil e com grande qualidade diagnóstica.

O documento é entregue em minutos na plataforma, dando suporte ao diagnóstico de diversas patologias neurológicas.

Embora seja acessado facilmente por pessoas autorizadas, o software Morsch conta com mecanismos de proteção como autenticação e criptografia.

Conheça melhor as vantagens da telemedicina neurológica aqui.

Conclusão

Ao longo deste artigo, apresentei detalhes sobre eletroencefalograma e TDAH – distúrbio que segue com diagnóstico baseado em critérios clínicos.

Por enquanto, não há exames que revelem biomarcadores e outras características que permitam confirmar ou afastar a suspeita dessa doença.

Contudo, o EEG é útil para o diagnóstico de intoxicações, tumores cerebrais, epilepsia e outras patologias neurológicas.

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Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin