O que é neuropsiquiatria e qual a diferença para a psiquiatria convencional?

Por Dr. José Aldair Morsch, 19 de janeiro de 2021
O que é neuropsiquiatria?

A neuropsiquiatria é uma área que cresce cada vez mais na medicina, dando nova perspectiva ao tratamento de problemas relacionados à saúde mental.

Por abranger e integrar estudos e intervenções da área psiquiátrica e neurológica, ela garante mais precisão e eficiência no tratamento dos pacientes, tendo impacto direto em sua qualidade de vida!

Não é novidade que problemas como ansiedade, insônia, dores de cabeça, perda de memória e depressão são cada vez mais comuns na sociedade moderna.

Assim, por se tratar de questões sérias e que exigem cuidados especiais, a atuação de bons especialistas é indispensável.

Normalmente, dependendo da natureza de cada sintoma, há uma diferenciação entre os casos que exigem um psiquiatra e daqueles que necessitam de um neurologista.

Em resumo, a neurologia é voltada às doenças do sistema nervoso e seus impactos nas demais funções do organismo humano.

Por sua vez, a psiquiatria tem a psique como foco, prevenindo, atendendo, detectando, tratando e reabilitando as diversas patologias que podem acometer a mente.

A fim de eliminar essa diferenciação, integrar as possibilidades oferecidas por cada área e ampliar a excelência dos cuidados junto aos pacientes, a neuropsiquiatria visa abranger os domínios da neurologia e da psiquiatria em uma única especialidade.

Para que você domine o tema e entenda suas possibilidades, a seguir, vou abordar melhor:

  • O perfil exigido para o profissional neuropsiquiatra;
  • As principais diferenças em relação à psiquiatria comum;
  • Além das doenças que podem ser tratadas no segmento.   

Quais são as funções e responsabilidades de um especialista em neuropsiquiatria?

Como mencionei acima, trata-se de uma área médica e científica que reúne conhecimentos de psiquiatria e neurologia em uma única especialidade.

No contexto da saúde, ela consiste em uma subespecialidade da clínica médica, que é voltada aos cuidados e aos tratamentos de pacientes com alterações comportamentais e de bases neurológicas.

Dessa maneira, a formação dos médicos na área depende de habilidades e domínios que vão além daqueles existentes na formação psiquiátrica considerada tradicional.

Ou seja, para contemplar os tratamentos daqueles com patologias neurológicas comportamentais ou neuropsiquiátricas, o médico psiquiatra precisa de formação complementar.

Ainda entre os conhecimentos que devem ser adquiridos nesse processo de qualificação, estão aqueles ligados aos:

  • Diagnósticos diferenciais;
  • Avaliações;
  • Tratamentos farmacológicos;
  • Prognósticos;
  • Manejo psicossocial dos pacientes com o perfil citado.
Como a neurologia e a psiquiatria se complementam na neuropsiquiatria,

Para garantir um melhor entendimento sobre como a neurologia e a psiquiatria se complementam na neuropsiquiatria, é importante elucidar como as duas áreas se conceituam.

Confira um breve resumo que preparei sobre ambas:

Neurologia

A neurologia é voltada a doenças que afetam o sistema nervoso humano, como:

  • Parkinson;
  • Meningite;
  • Alzheimer;
  • Epilepsia;
  • Depressão, entre outras semelhantes.

Basicamente, ela é voltada a condições ligadas à parte orgânica, que normalmente se manifestam por meio de dores musculares, dores de cabeça, entre outros sintomas ligados.

Portanto, podemos afirmar que o neurologista é o profissional responsável pelo tratamento e diagnóstico das doenças que acometem o cérebro, bem como seus nervos, músculos e medula, responsáveis por orientar o organismo e guiar os 5 sentidos.

Psiquiatria

Já a psiquiatria se foca em questões mentais e emocionais, como:

  • Transtornos psíquicos;
  • Problemas de relacionamento;
  • Disfunções comportamentais, entre outros da mesma natureza.

Assim, o psiquiatra é o profissional indicado para tratar questões como insônia, angústia, mudanças de apetite, isolamento, tentativas de suicídio, pensamentos autodestrutivos, entre outros sintomas ligados à psique humana.

Dessa maneira, a psiquiatria atua no diagnóstico de condições mentais, bem como no tratamento medicamentoso feito por meio de remédios alopáticos.

Neuropsiquiatria

Com as noções de neurologia e psiquiatria bem definidas, é mais fácil compreender como as duas áreas se relacionam através da neuropsiquiatria.

Em poucas palavras, a área investiga e trata patologias psiquiátricas levando também em consideração as bases orgânicas que as motivam.

Da mesma maneira, a neuropsiquiatria também diagnostica e combate doenças neurológicas considerando suas manifestações psiquiátricas!

Por mais que a neuropsiquiatria se diferencie em muitos pontos da psiquiatria convencional, ainda é comum que muitos confundam as duas noções.

No próximo item, vou demonstrar melhor como as duas áreas se diferenciam!

Como a neuropsiquiatria se diferencia da psiquiatria convencional?

Por se tratar de um segmento relativamente novo em comparação com a psiquiatria tradicional, é normal que ainda existam confusões relacionadas ao conceito de neuropsiquiatria.

No quadro comparativo abaixo, confira as definições que elenquei para apontar os principais pontos que diferenciam a neuropsiquiatria, área foco do artigo, da psiquiatria convencional:

NEUROPSIQUIATRIA PSIQUIATRIA CONVENCIONAL
  • É voltada ao estudo do sistema nervoso, suas relações estruturais, transtornos mentais e alterações comportamentais;
  • Seus diagnósticos levam em consideração tanto aspectos emocionais, quanto questões orgânicas do corpo; 
  • Tem um papel abrangente entre a psiquiatria e a neurologia, tratando distúrbios neurológicos e psiquiátricos;
  • Procura relacionar certas disfunções psiquiátricas a bases orgânicas, bem como patologias neurológicas a manifestações psiquiátricas.
  • Abrange apenas os estudos sobre alterações de comportamento e transtornos mentais;
  • Os diagnósticos são baseados somente em questões psíquicas;
  • Os tratamentos têm como foco questões voltadas às doenças e subjetividades da mente;
  • Se restringe a lidar com a prevenção, identificação, tratamento e reabilitação de patologias mentais, sejam elas funcionais ou orgânicas.

 Mesmo que sejam especialidades diretamente relacionadas, a psiquiatria e a neuropsiquiatria precisam ser devidamente diferenciadas, para que não existam confusões sobre suas indicações e possibilidades de tratamento.

Qual a relação de doenças que podem ser diagnosticadas com a neuropsiquiatria?

Antes de listar as doenças e disfunções que podem ser diagnosticadas por meio da neuropsiquiatria, é importante explicar como o processo de avaliação é feito pelos especialistas.

Inicialmente, na primeira consulta, é feita a anamnese, assim como em qualquer atendimento comum. Nela, são levantadas informações sobre os sintomas e problemas apontados pelo paciente, bem como seu histórico.

Nesse momento, é comum que os indivíduos em busca de tratamento tenham diversas dúvidas e pouca clareza quanto ao tipo de transtorno que os acometem.

Muito além de uma análise detalhada dos sintomas, o diagnóstico também depende de uma comparação minuciosa dos históricos familiares do paciente. Bem como de análises ligadas às suas atividades e comportamentos cotidianos.

Como o diagnóstico depende muito das informações fornecidas pelos pacientes, é imprescindível que o especialista consiga estabelecer uma verdadeira relação de parceria com os indivíduos, garantindo clareza nas análises e quanto às etapas de tratamento.

Outro recurso de suma importância para garantir uma avaliação completa dos pacientes são os exames. Afinal, são indispensáveis para a detecção da maioria dos transtornos psiquiátricos e neurológicos.

Entre os principais procedimentos diagnósticos da área, estão os exames neurológicos, psicológicos e neuropsicológicos. Além de testes complementares, que podem ser físicos, laboratoriais e de imagem.

De forma resumida, podemos afirmar que as avaliações na neuropsiquiatria envolvem avaliações do estado mental dos pacientes, de seu histórico clínico. Além de exames complementares gerais e próprios da área neurológica e psiquiátrica!

Caso os pacientes tenham exames anteriores, feitos em outras investigações, também é importante que o médico esclareça a necessidade de apresentá-los para uma melhor avaliação.

Basicamente, a neuropsiquiatria se dedica ao diagnóstico de doenças próprias dos segmentos de psiquiatria e neurologia. Para listar essas patologias, as separei entre aquelas que são neurológicas e psiquiátricas:

Patologias neurológicas

  • Distúrbios do sono;
  • Epilepsias e convulsões;
  • AVCs, conhecidos como derrames;
  • Cefaleias, ou as populares dores de cabeça;
  • Enxaquecas;
  • Doenças desmielinizantes, como a Esclerose Múltipla;
  • Patologias musculares;
  • Tumores e aneurismas cerebrais;
  • Neuropatias;
  • Distúrbios do movimento, como tremores e Doença de Parkinson;
  • Mal de Alzheimer e outros tipos de demências;
  • Meningite;
  • Entre outros transtornos neurológicos.

Doenças e disfunções psiquiátricas

  • Depressão;
  • Transtornos de ansiedade;
  • Demência;
  • Transtorno de déficit de atenção com hiperatividade, chamado de TDAH;
  • Transtorno bipolar;
  • Esquizofrenia;
  • Transtorno obsessivo compulsivo;
  • Crises de pânico;
  • Transtornos alimentares, como anorexia e bulimia.
  • Entre outras patologias e distúrbios psiquiátricos.

Ainda, lembre-se: por mais que eu tenha separado as doenças em duas áreas distintas, as duas listas consistem nas doenças diagnosticadas pela neuropsiquiatria.

Isso porque, a finalidade é integrar os casos abrangidos pela psiquiatria e pela neurologia, para garantir diagnósticos mais abrangentes de problemas relacionados à mente humana. Assim, contemplando seus aspectos orgânicos e psíquicos.

Outro ponto importante em relação aos diagnósticos da neuropsiquiatria está relacionado à prevenção dos pacientes. Trato melhor sobre sua importância no próximo item.

Por que a neuropsiquiatria é importante em termos de prevenção?

Assim como em qualquer especialidade médica, quanto mais precoce for a identificação de uma doença, mais eficiente e adequado será o seu tratamento.

Na neuropsiquiatria, a máxima também é verdadeira para grande parte das patologias, especialmente daquelas com cunho neurológico.

Por exemplo, indivíduos com histórico familiar para doenças degenerativas, como o Mal de Alzheimer, precisam sempre buscar por um especialista preventivamente.

Por mais que não existam tratamentos capazes de curar esse tipo de condição, é importante obter o diagnóstico precoce para que o paciente e seus familiares tenham apoio e saibam lidar com a evolução do quadro da melhor maneira possível.

Isso é de suma importância para a qualidade de vida dos indivíduos e para minimizar as consequências de eventuais problemas neurológicos.

No sentido contrário, caso nenhuma alteração seja detectada, as consultas preventivas também são importantes para que o paciente tenha mais tranquilidade quanto ao seu quadro e histórico.

A importância da neuropsiquiatria preventiva também é importante para condições tratáveis, que vão desde as mais amenas, como as enxaquecas, até as mais graves como a esclerose múltipla e a epilepsia.

Nessas situações, o diagnóstico precoce permite um melhor controle das manifestações patológicas e uma evolução muito mais positiva para os pacientes.

Depois de esclarecer alguns dos pontos mais importantes da neuropsiquiatria, no próximo item, vou finalizar sua conceituação descrevendo quais são as rotinas e pacientes típicos da área!

Quais são as rotinas e os pacientes típicos da neuropsiquiatria?

Para compreender como a neuropsiquiatria é desempenhada na rotina dos especialistas, primeiro é necessário entender o que motiva sua integração entre a neurologia e a psiquiatria.

Em primeiro lugar, é preciso ter em mente que muitas doenças de cunho neurológico com graves e incapacitantes alterações comportamentais, como demência, epilepsia e Parkinson, limitam o manejo dos indivíduos apenas sob uma perspectiva neurológica.

Nesse sentido, transtornos de somatização, conversivos, de dissociação, entre outros relacionados, muitas vezes podem exigir abordagens que vão além da psiquiatria, manifestando-se como patologias clínicas.

Frente a isso, para garantir a conduta mais adequada e assertiva frente aos diferentes casos possíveis nas áreas, é indispensável ter conhecimentos amplos e integrados.

Dessa maneira, entre os conhecimentos e habilidades exigidas aos profissionais da área, os aspectos que mais merecem destaque são:

  • Identificação de distúrbios comportamentais gerados por patologias neurológicas;
  • Diagnóstico de doenças psiquiátricas, tanto conversivas quanto dissociativas;
  • Manejo adequado e individualizado no tratamento de cada caso, sejam as intervenções farmacológicas ou não;
  • Reabilitação dos pacientes tratados, levando em consideração suas características e demandas psiquiátricas e neurológicas.

Portanto, os pacientes considerados típicos da área de neuropsiquiatria são aqueles que têm ou tiveram quadros de:

  • Irritabilidade excessiva ou patológica;
  • Traumas ou Acidente Vascular Encefálico que geram sequelas emocionais ou de comportamento;
  • Transtornos mentais gerados por fatores orgânicos nas estruturas do cérebro;
  • Problemas psicológicos ligados ao uso de determinados medicamentos;
  • Demências em geral;
  • Parkinson ou Alzheimer;
  • Disfunções de sono;
  • Doenças psiquiátricas e psicológicas com respostas ruins aos tratamentos convencionais;
  • Alterações de memória;
  • Problemas de raciocínio.

Entenda a relação da neuropsiquiatria com a Telemedicina

Quando tratamos sobre a adequação dos médicos às novas especialidades e tendências da área da saúde, é impossível ignorar os principais avanços da tecnologia, que têm sua importância crescente nas rotinas das clínicas e hospitais.

Nesse contexto, a Telemedicina na neurologia e a telepsiquiatria são tendências com impactos diretos na neuropsiquiatria.

Além de eliminar barreiras geográficas, ampliar as possibilidades de atendimento e tornar a saúde mais acessível para médicos e pacientes, esse tipo de recurso ainda aumenta a eficiência dos laudos.

Isso é possível por meio de exames neurológicos feitos à distância, em que os postos de atendimento podem receber os laudos prontos com mais agilidade e qualidade, barateando custos operacionais para atender a uma maior demanda.

A neurorradiologia e a telepsiquiatria tendem a acompanhar cada vez mais as tendências da neuropsiquiatria, ampliando suas possibilidades.

Afinal, é importante que os médicos e demais profissionais de saúde se mantenham atentos quanto aos principais avanços e benefícios da área!

Conclusão

Relação da neuropsiquiatria com a Telemedicina

A fim de ampliar a qualidade de vida das pessoas e aprimorar as intervenções convencionais relacionadas à mente humana, a neuropsiquiatria surgiu para integrar e potencializar as possibilidades oferecidas pelas áreas neurológica e psiquiátrica.

Ao contrário da psiquiatria tradicional, que se foca apenas em questões mentais e de comportamento, sua finalidade é abranger as ciências médicas do sistema nervoso, dos transtornos mentais e das alterações comportamentais em uma única área!

Assim, ela é indicada desde casos como irritabilidade e problemas de sono, até transtornos demenciais, mal de Alzheimer e problemas psicológicos em geral, conferindo diagnósticos, tratamentos e reabilitações mais eficientes para qualquer patologia tratada pelas áreas da psiquiatria e da neurologia.

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Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin