Implicações da teleneurologia no atendimento de concussão cerebral

Por Dr. José Aldair Morsch, 9 de dezembro de 2024
Concussão cerebral

A concussão cerebral é um tipo de lesão que, embora muitas vezes pareça simples, pode ter consequências graves se não for tratada adequadamente.

Ela ocorre quando um impacto na cabeça faz o cérebro se movimentar rapidamente dentro do crânio, afetando seu funcionamento normal. 

Em situações de urgência e emergência, o tempo é fator crítico para evitar complicações. 

É aqui que a teleneurologia entra em cena.

A telemedicina neurológica oferece uma maneira inovadora de avaliar pacientes rapidamente através de tecnologias de comunicação.

Ela utiliza plataformas de telemedicina para conectar profissionais de saúde em diferentes locais, permitindo a avaliação neurológica remota

Isso é muito útil em locais onde não há especialistas disponíveis imediatamente, o que é uma dura realidade em muitas cidades brasileiras. 

Com a possibilidade de interpretar exames de imagem online e emitir laudos a distância, a teleneurologia tem o potencial de melhorar o manejo de concussões cerebrais em emergências.

Neste artigo, vamos explorar como essa tecnologia está revolucionando o atendimento neurológico.

Você vai conhecer os benefícios que ela traz para pacientes e profissionais de saúde, além de conferir dicas e boas práticas para a sua integração aos protocolos médicos.

A urgência no tratamento de concussão cerebral

As concussões cerebrais são um tipo de traumatismo craniano leve, mas isso não significa que sejam inofensivas. 

Elas podem resultar de quedas, acidentes de trânsito, práticas esportivas ou qualquer impacto que cause um movimento brusco da cabeça. 

Os sintomas variam desde dor de cabeça, confusão mental, tonturas, até perda de consciência em casos mais graves.

Segundo este estudo, a incidência de internações por traumatismo cranioencefálico é de 65,54 por 100 mil habitantes no Brasil.

Concussões leves que não apresentam complicações, como perda de consciência prolongada ou deterioração neurológica, geralmente não aparecem nesses registros.

Mas mesmo episódios leves podem ter efeitos duradouros, além de colocar o paciente em risco de complicações, como a síndrome do segundo impacto. 

Há ainda os casos que evoluem para condições mais graves, como hemorragias intracranianas ou edemas cerebrais, que necessitam de hospitalização e intervenções médicas de emergência.

Nesses cenários, avaliar rapidamente a gravidade da concussão é essencial. 

Um desafio é que nem sempre há um neurologista disponível para fazer a avaliação imediata, especialmente em unidades de saúde menores ou em áreas remotas. 

Isso pode levar a atrasos no diagnóstico e no início do tratamento, aumentando o risco de complicações.

Também a falta de equipamentos adequados para realizar exames de imagem pode dificultar o manejo adequado do paciente. 

Esses obstáculos destacam a necessidade de soluções que possam fornecer suporte especializado rapidamente, independentemente da localização geográfica.

Impacto da teleneurologia em diferentes cenários de concussão cerebral

A teleneurologia é a aplicação da telemedicina na área de neurologia. 

Ela permite que neurologistas avaliem pacientes à distância, utilizando tecnologias de comunicação, como videochamadas, compartilhamento de dados e plataformas digitais. 

Essa prática tem crescido nos últimos anos, impulsionada pelos avanços tecnológicos e pela necessidade de ampliar o acesso a cuidados especializados.

Um dos grandes avanços da teleneurologia é a capacidade de compartilhar exames de imagem digitalmente

Tomografias computadorizadas (TC) e ressonâncias magnéticas (RM) têm seus registros enviados através das plataformas de telemedicina para especialistas que, mesmo à distância, podem interpretar os resultados e emitir laudos rapidamente.

Isso é fundamental em casos de concussão, onde a imagem pode revelar hemorragias ou outras lesões que necessitam de intervenção imediata. 

Concussão no cérebro

Concussões leves que não apresentam complicações, como perda de consciência prolongada

Atendimento pré-hospitalar

No atendimento pré-hospitalar (APH), as equipes de emergência, como paramédicos e socorristas, podem utilizar a teleneurologia durante o transporte do paciente para o hospital

Através de dispositivos móveis e plataformas de telemedicina, é possível conectar-se com neurologistas em tempo real.

Essa conexão permite que o especialista realize uma avaliação neurológica inicial, orientando a equipe sobre procedimentos imediatos que podem ser essenciais para a estabilização do paciente

Por exemplo, o neurologista pode identificar sinais de deterioração neurológica que exigem intervenções específicas antes mesmo da chegada ao hospital.

Os benefícios dessas avaliações antecipadas são significativos e incluem:

  • Intervenção precoce: possibilita a aplicação de medidas terapêuticas imediatas, reduzindo o risco de complicações graves
  • Preparação da equipe hospitalar: o hospital pode se preparar adequadamente para a chegada do paciente, agilizando processos como a disponibilização de salas de cirurgia ou equipes especializadas
  • Melhoria no prognóstico: estudos mostram que intervenções neurológicas precoces estão associadas a melhores resultados clínicos e redução de sequelas a longo prazo.

Uma revisão sistemática publicada no Physical Therapy in Sport concluiu que intervenções iniciadas nas primeiras duas semanas após a concussão podem acelerar a recuperação e minimizar sintomas persistentes.

Isso reforça a importância do uso da teleneurologia já no APH e também como protocolo em eventos esportivos, como mostrado abaixo.

Eventos esportivos

No contexto esportivo, as concussões cerebrais são uma preocupação constante, especialmente em modalidades de alto impacto, como futebol, rugby e artes marciais. 

E, mais uma vez, a teleneurologia oferece uma solução prática para o manejo imediato dessas lesões.

Equipes médicas presentes no local ou nas ambulâncias podem utilizar plataformas de telemedicina para conectar-se com neurologistas especializados. 

Ao relatar os sintomas e sinais apresentados pelo atleta, e com o auxílio de vídeos ou imagens, o especialista pode realizar uma avaliação remota eficaz.

Os benefícios dessa abordagem incluem:

  • Decisões informadas sobre retorno ao jogo: com a avaliação neurológica remota, é possível determinar com segurança se o atleta pode continuar na competição ou se deve ser afastado por um prazo maior para evitar riscos
  • Protocolos personalizados de recuperação: o neurologista pode orientar sobre os passos necessários para a recuperação, incluindo períodos de repouso e acompanhamento posterior
  • Redução de riscos de lesões secundárias: evita-se o “segundo impacto”, que pode ocorrer se um atleta com concussão retornar ao jogo e sofrer uma nova lesão, potencialmente mais grave.

A American Academy of Neurology destaca que a implementação da teleneurologia em eventos esportivos pode melhorar significativamente a segurança dos atletas. 

Durante a Reunião Anual de 2025, a entidade apresentou a sessão “C131 – Sports Neurology”, que abordou a importância do manejo adequado de condições neurológicas em atletas e destacou como a teleneurologia pode ser utilizada para avaliações rápidas e remotas, melhorando o atendimento em situações de emergência.

Casos de concussão no âmbito esportivo

A implementação do protocolo de concussão no Campeonato Brasileiro de Futebol em 2024 trouxe à tona casos que ilustram a importância da teleneurologia no manejo dessas lesões. 

Em abril de 2024, o zagueiro Alan Empereur, do Cuiabá, sofreu uma concussão após um choque de cabeça durante uma partida contra o Grêmio. 

Os médicos do clube identificaram a lesão e acionaram o protocolo de substituição extra por concussão, permitindo a troca do jogador sem que essa contasse nas substituições regulamentares.

Na NFL, a liga de futebol americano dos Estados Unidos, os casos de concussão são frequentes e têm levado a debates sobre a segurança dos atletas

Em setembro de 2024, o quarterback Tua Tagovailoa, do Miami Dolphins, sofreu sua terceira concussão em dois anos durante uma partida contra o Buffalo Bills. 

O incidente reacendeu discussões sobre a necessidade de protocolos mais rigorosos e o papel da teleneurologia na avaliação e monitoramento de jogadores.

Melhorando o manejo de concussões em emergências

Como vimos até aqui, a teleneurologia cumpre importante papel na assistência médica a casos de concussão cerebral.

Agora, confira um resumo dos seus principais benefícios.

Acesso imediato a especialistas em neurologia

As plataformas de telemedicina permitem que profissionais de saúde em locais sem neurologistas possam se conectar com especialistas em tempo real. 

Por exemplo, um médico em uma unidade de pronto atendimento pode iniciar uma teleinterconsulta com um neurologista, que pode avaliar o paciente através de videochamada, revisar sinais vitais e orientar sobre os próximos passos.

Essa conectividade imediata reduz o tempo entre a chegada do paciente e o início da intervenção especializada. 

Diagnósticos mais ágeis e precisos

Com a interpretação remota de exames de imagem, como tomografias computadorizadas, os laudos são emitidos de forma mais rápida e precisa. 

Isso reduz o tempo entre o diagnóstico e o início do tratamento, otimizando o cuidado ao paciente.

Uma tomografia realizada em um hospital de pequeno porte pode ser enviada para uma plataforma de telemedicina, onde um neurologista experiente identifica sinais de hemorragia em poucos minutos, orientando a equipe local.

Redução de riscos e complicações

Com a orientação de um neurologista, a equipe local pode iniciar os protocolos adequados, como estabilização do paciente, administração de medicamentos ou preparação para transferência, se necessário.

Por exemplo, se uma hemorragia intracraniana for detectada cedo, medidas podem ser tomadas para controlar a pressão intracraniana e evitar danos cerebrais permanentes. 

Melhoria nos resultados de recuperação

Além de reduzir riscos imediatos, a teleneurologia também contribui para melhores resultados a longo prazo. 

Com a avaliação rápida e precisa, o paciente pode iniciar o tratamento adequado mais cedo, o que influencia positivamente na recuperação.

Estudos mostram que pacientes que recebem atendimento neurológico especializado dentro das primeiras horas após a concussão têm uma recuperação mais rápida e apresentam menos sequelas. 

Um artigo na revista Neurology indica que a intervenção precoce está associada a uma redução de 30% nos sintomas persistentes pós-concussão.

Redução de transferências desnecessárias

Nem todos os pacientes com concussões precisam ser transferidos para centros de referência. 

A teleneurologia permite identificar os casos que podem ser manejados localmente, economizando recursos e evitando o desconforto do deslocamento para o paciente.

Facilitação da colaboração multidisciplinar

O tratamento de concussões frequentemente envolve uma equipe multidisciplinar, incluindo neurologistas, neurocirurgiões, radiologistas e outros especialistas. 

As plataformas de teleneurologia facilitam essa colaboração, permitindo que todos os profissionais tenham acesso às informações do paciente em tempo real.

Isso melhora a coordenação do cuidado, reduz erros de comunicação e garante que todas as decisões sejam tomadas com base nas informações mais atualizadas. 

Concussões cerebrais

A teleneurologia permite que neurologistas avaliem pacientes à distância, utilizando tecnologias de comunicação

Como integrar a teleneurologia ao protocolo de atendimento a concussões cerebrais

A integração da teleneurologia ao protocolo de atendimento a concussões cerebrais exige planejamento, tecnologia adequada e capacitação

A seguir, detalhamos as etapas necessárias para que clínicas e hospitais possam estruturar um atendimento eficiente e seguro, com o suporte de plataformas de telemedicina.

1. Estabelecimento do protocolo de atendimento

O primeiro passo é desenvolver ou revisar o protocolo de atendimento a concussões cerebrais, incluindo a teleneurologia como parte essencial do processo. 

Isso deve ser feito com base em diretrizes clínicas, como as recomendadas pela Sociedade Brasileira de Neurologia ou pela American Academy of Neurology.

Inclua no protocolo:

  • Critérios para identificação de suspeita de concussão
  • Fluxo de comunicação com especialistas via telemedicina
  • Procedimentos de estabilização inicial enquanto a avaliação remota é realizada.

Então, passamos à escolha da empresa de telemedicina parceira.

2. Escolha e configuração da plataforma de telemedicina

Escolher uma plataforma de telemedicina confiável é fundamental. Ela deve oferecer:

  • Videochamadas em alta qualidade: para avaliações detalhadas
  • Compartilhamento de exames de imagem: upload seguro de dados de exames como tomografia e ressonância
  • Emissão de laudos eletrônicos: agilidade no diagnóstico.
  • Integração com sistemas de gestão hospitalar: sincronização de dados do paciente.

Invista em sistemas que garantam conformidade com a LGPD e que utilizem criptografia de ponta a ponta para proteger os dados.

3. Capacitação da equipe

Toda a equipe médica e administrativa deve ser treinada para utilizar a plataforma de telemedicina e seguir os novos protocolos. 

O treinamento deve abranger:

  • Identificação de sintomas de concussão
  • Uso das ferramentas tecnológicas
  • Comunicação eficaz com neurologistas remotos.

Lembrando que uma etapa muito importante do treinamento em telemedicina é quanto ao uso dos equipamentos para coleta de imagens nos exames realizados.

5. Monitoramento e avaliação contínua

Após a implementação, é importante monitorar o desempenho do protocolo e da plataforma de telemedicina. 

Indicadores como tempo médio para avaliação inicial, precisão diagnóstica e feedback da equipe devem ser analisados regularmente para possíveis ajustes.

Desafios e perspectivas futuras da teleneurogia em concussões cerebrais

Apesar dos benefícios, a implementação da teleneurologia enfrenta alguns desafios. 

A infraestrutura tecnológica é uma barreira significativa, especialmente em áreas remotas com acesso limitado à internet de alta velocidade. 

Sem uma conexão estável, a qualidade das videochamadas e o compartilhamento de exames podem ser comprometidos.

Além disso, há a necessidade de treinamento das equipes de emergência para utilizarem as plataformas de forma eficaz. 

Profissionais que não estão familiarizados com a tecnologia podem sentir dificuldade, o que pode atrasar o atendimento.

Questões operacionais, como a integração com sistemas já existentes e a garantia de segurança dos dados, também precisam ser cuidadosamente gerenciadas. 

Potencial de expansão e inovação

Superadas as barreiras, o futuro da teleneurologia é promissor. 

Com o avanço contínuo da tecnologia, espera-se que as conexões de internet se tornem mais rápidas e acessíveis, mesmo em áreas rurais. 

Além disso, a inteligência artificial (IA) pode ser integrada às plataformas para auxiliar na triagem de pacientes e na análise preliminar de exames.

Por exemplo, algoritmos de IA podem identificar sinais de hemorragia em uma tomografia antes mesmo que o especialista a visualize, agilizando ainda mais o processo. 

Segundo a revista Nature Medicine, o uso de IA na interpretação de exames tem o potencial de aumentar a eficiência diagnóstica, especialmente em um cenário de aumento de exames e carga de trabalho dos profissionais.

A realidade virtual e a realidade aumentada também podem ser incorporadas, permitindo que especialistas “estejam” virtualmente ao lado da equipe local, orientando procedimentos de forma ainda mais interativa.

Conclusão

A teleneurologia representa um avanço significativo no tratamento de emergências neurológicas, como as concussões cerebrais. 

Ao permitir o acesso imediato a especialistas, a interpretação remota de exames e a emissão rápida de laudos, ela melhora o manejo dos pacientes, reduz riscos e contribui para melhores resultados de recuperação.

Apesar dos desafios tecnológicos e operacionais, os benefícios superam as dificuldades, e o investimento em infraestrutura e capacitação é essencial. 

É fundamental que profissionais de saúde, gestores e instituições reconheçam a importância da teleneurologia e trabalhem juntos para implementar essas soluções. 

A Telemedicina Morsch é parceira desse movimento, oferecendo recursos sob medida em uma plataforma moderna, intuitiva e segura.

Acesse a área de teleneurologia para saber mais sobre nossos serviços.

Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin