Como vamos usar a Telemedicina pós-covid

Por Dr. José Aldair Morsch, 3 de novembro de 2020
A área está em maior evidência nos últimos meses, veja as expectativas para a telemedicina pós-covid

A telemedicina pós-covid é uma modalidade que promete ganhar cada vez mais espaço no Brasil, garantindo vantagens significativas tanto para médicos quanto para pacientes.

Com a pandemia de Covid-19, o acesso a consultas, diagnósticos e monitoramentos de saúde se tornou ainda mais importante.

Ao mesmo tempo, a necessidade de isolamento social restringiu as possibilidades de procura das pessoas pelos consultórios.

Para solucionar essa questão, em março de 2020, o Conselho Federal de Medicina regulamentou a área, que até então era muito restringida no país.

A medida acelerou o futuro da telemedicina brasileira, fazendo com seu valor fosse melhor percebido pela população e que novos especialistas aderissem a ela.

Para contextualizar, a telemedicina consiste no uso da tecnologia para viabilizar a facilitar o acesso à saúde por meio de atendimentos remotos.

Seu objetivo é garantir que a medicina chegue com qualidade em locais afastados dos centros urbanos ou para pessoas que tenham sua mobilidade limitada (como foi o caso imposto pela Covid-19).

Muito além dos avanços garantidos pela modalidade à distância, seus benefícios ainda têm influência direta sobre a medicina tradicional, já que laudos e exames podem ser obtidos com mais agilidade e facilidade, sem que sua qualidade seja comprometida.

Recentemente, o jornal The New England Journal of Medicine publicou uma matéria especial sobre o tema, em que abordava os princípios fundamentais que norteiam a telemedicina.

Ela descreve que a área deve melhorar:

  • A saúde da população,
  • A experiência dos pacientes e dos serviços de saúde
  • Reduzir os gastos pessoais com os atendimentos. 

Nesse artigo, você vai descobrir como as teleconsultas pós-covid vão transformar ainda mais a maneira como as pessoas cuidam de sua saúde.

Por que a telemedicina pós-covid é uma área em plena expansão?

Em maio de 2020, a Covid-19 se tornou a doença responsável pelo maior número de mortes diárias no Brasil, superando o câncer.

Como mencionamos anteriormente, a pandemia incentivou a busca por novas alternativas e avanços na área da medicina.

Nesse sentido, por mais que o coronavírus tenha sido o foco das discussões, muitas outras demandas ainda precisavam ser atendidas em consultórios e hospitais.

Para que o acesso à saúde fosse garantido durante a pandemia, o CFM e o Ministério da Saúde voltaram suas atenções para a telemedicina.

Assim, as teleconsultas foram liberadas em caráter emergencial para que as pessoas pudessem ter acesso aos médicos por meio de chamadas online.

Agora, os especialistas podem, inclusive, emitir atestados digitalmente e receitar novos medicamentos.

Até o mês de fevereiro de 2020, a telemedicina não era empregada em seu sentido mais amplo no país. A Resolução nº 2.227/2018 do CFM definia seus parâmetros.

Após o grande volume de propostas encaminhadas por médicos de todo o Brasil para a alteração dos seus termos, em 2019 ela foi revogada e deu lugar à Resolução nº 2.228.

Principais características da telemedicina

De acordo com a lei, a telemedicina consiste na prática da medicina mediada pela tecnologia, com a finalidade de prestar assistência, pesquisa, educação, prevenção e promoção de saúde.

Os serviços da área devem respeitar os parâmetros do CMF, que versam sobre:

  • Manuseio;
  • Guarda;
  • Confidencialidade; 
  • Privacidade;
  • Garantia de sigilo profissional.

Se antes o seu uso era visto com desconfiança por muitos médicos e até pacientes, o cenário de pandemia fez com que as perspectivas para a telemedicina pós-covid se tornassem excelentes.

Afinal, ao se demonstrar útil e muito eficiente no momento de calamidade, ela chamou a atenção dos especialistas para seus principais benefícios e facilidades.

As atuais permissões do Ministério da Saúde e da CMF para a telemedicina devem durar até o fim do surto de coronavírus.

Mesmo que a legislação ainda tenha que ser revista, a expectativa é que o futuro da telemedicina seja ainda mais amplo e que a prática se torne muito mais presente no cotidiano dos brasileiros, a exemplo do que já ocorre nos países desenvolvidos.

Mais da metade das pessoas que tiveram contato deram um feedback positivo sobre a telemedicina

Saiba o que esperar da telemedicina pós-covid e quais necessidades a área é capaz de suprir.

Quais as expectativas para o futuro da telemedicina pós-covid?

Uma boa maneira de compreender qual será a relevância da telemedicina pós-covid é por meio das experiências que já são vividas por médicos e pacientes.

Na terceira edição nacional do levantamento que monitora os impactos da Covid-19, 55% das pessoas consultadas demonstraram uma percepção positiva sobre a telemedicina.

Entre os médicos, as principais necessidades que a modalidade é capaz de sanar envolvem:

  • A falta de tempo para qualificação gerada pelas longas jornadas de trabalho;
  • Sobrecarga de serviços nos consultórios e hospitais;
  • Más condições de infraestrutura para prestar atendimentos;
  • Necessidade de reduzir o volume de atendimentos no ambiente físico;
  • Em tempos de pandemia, os maiores riscos de contágio, a instabilidade econômica e o distanciamento dos pacientes.

Já os relatos mais comuns entre os pacientes destacam que:

  • As teleconsultas garantem muito mais praticidade quando não há necessidade de avaliação física;
  • A modalidade transmite a sensação de ser segura;
  • A telemedicina é eficiente e recorreriam a ela novamente;
  • Encontros presenciais não são necessários em grande parte dos casos, basta garantir que a orientação médica seja adequada.
  • As facilidades também são percebidas na possibilidade de realizar as teleconsultas online ou por telefone.

Além de garantir uma comunicação mais flexível por videochamadas, a telemedicina é capaz de agregar mais eficiência e segurança com o uso de aplicativos específicos da área.

Todos os pontos destacados demonstram que é promissor o futuro da telemedicina no Brasil, já que ela atende com qualidade as principais demandas dos médicos e pacientes.  

Seu crescimento, porém, também tem implicações jurídicas e sociais. Confira mais detalhes sobre a telemedicina pós-covid sob o ponto de vista dessas áreas.

Entenda a telemedicina pós-covid sob o ponto de vista jurídico

Como mencionamos anteriormente, as leis e normas que controlarão a telemedicina pós-covid ainda serão discutidas ao fim da pandemia. Mas, sua atual abertura já aponta os caminhos que poderão ser seguidos pela legislação.

A tendência é que a ampliação do seu uso durante o período de isolamento social favoreça o futuro da telemedicina em termos jurídicos, já que as pessoas passaram a conhecer melhor os benefícios da modalidade.

Por mais positivas que sejam as expectativas, é preciso ressaltar que, assim como qualquer questão de saúde de tamanha relevância, o tema é sensível e exige discussões amplas.

O primeiro passo é a criação de dispositivos que garantam que os princípios éticos que regem a medicina possam ser cumpridos em toda a telemedicina, já que se trata de uma área abrangente e repleta de possibilidades.

Além dos médicos e dos cidadãos que utilizam os serviços de saúde, a telemedicina pós-covid também terá influência direta sobre os princípios que regem outras áreas.

As empresas de internet são um bom exemplo sobre a situação: como uma boa comunicação é imprescindível para as consultas, a exigência por melhores conexões será crescente.

Isso influenciará a demanda do mercado em diferentes aspectos, inclusive na regulamentação dos próprios softwares e hardwares que são utilizados na telemedicina.

Além da previsão de que novas discussões sobre a regulação da telemedicina pós-covid ganhem espaço ao fim da pandemia, o CFM e a Frente Parlamentar do Congresso realizam debates contínuos sobre questões tão complexas.

Dessa maneira, com a difusão crescente da telemedicina, o crescimento da percepção do seu valor e o aumento das necessidades que ela é capaz de sanar, a tendência é que os órgãos sigam o exemplo de outros países e ampliem suas possibilidades.

Vantagens sociais que as teleconsultas pós-covid podem gerar

Com base em todos os detalhes que mencionamos até aqui, é evidente como o futuro da telemedicina terá impacto direto sobre diferentes questões sociais e econômicas.

Ao aproveitar melhor o tempo dos médicos e eliminar adversidades impostas por questões geográficas, a telemedicina pós-covid tende a tornar os sistemas de atendimento à população mais eficientes.

Entre as principais transformações e benefícios sociais que a telemedicina pós-covid deverá proporcionar, destacam-se:

  1. Diminuição dos gastos dos serviços de saúde, com consequente redução de preços para os pacientes;
  2. Maior acessibilidade financeira e ampliação do alcance dos cuidados primários de saúde;
  3. Ampliação dos sistemas públicos de saúde nas áreas de acesso dificultado, uma vez que unidades de atendimento digitais são mais viáveis do que as físicas;
  4. Possibilidade de aliar dados e recursos de inteligência artificial para aprimorar a precisão dos diagnósticos;
  5. Com acesso facilitado, cada vez mais as pessoas deixarão de adiar ou mesmo ignorar a prevenção e os cuidados com a saúde;
  6. Possibilidade de substituir os retornos por teleconsultas, o que diminuiria o índice de abandono dos tratamentos.

Ao abordar as mudanças que serão promovidas pela telemedicina pós-covid, é importante destacar que a prática não serve para substituir os atendimentos nos consultórios.

O ideal é que a modalidade atue em conjunto com as consultas presenciais, que ainda são muito importantes em diversas situações.

Conforme mencionado anteriormente, os sistemas de saúde de grande parte dos países desenvolvidos já adotam a telemedicina e garantem benefícios muito significativos para todos os seus cidadãos.

Sendo assim, mais que facilitar e ampliar o acesso à medicina, o futuro da telemedicina também tende a alinhar o Brasil às práticas médicas mais avançadas, eficientes e prestigiadas do mundo moderno.

A segurança da informação é um fator cada vez mais importante no mundo atual.

A Lei de Proteção de Dados auxilia e padroniza a segurança das informações de pacientes.

A importância da proteção de dados para o futuro da telemedicina pós-covid

Como em qualquer área que necessite da internet, uma das demandas mais importantes da telemedicina pós-covid será manter a aprimorar os seus padrões de segurança.

Todo conteúdo compartilhado na web sem os devidos cuidados está sujeito à ação de usuários mal intencionados, interessados em roubar ou sequestrar determinados dados.

Desde o advento da medicina moderna, as informações pessoais fornecidas pelos pacientes durante as consultas devem ter total sigilo.

Como elas são decisivas para determinar as condições de saúde e acompanhar a evolução dos tratamentos, muitas delas precisam ser devidamente registradas.

Cabe aos médicos garantir a confidencialidade desses dados, para que questões sensíveis sobre os pacientes não caiam em mãos erradas, gerando problemas.

Na telemedicina, as informações são registradas na internet. Isso exige o uso de dispositivos de segurança de dados que evitem que elas vazem.

Além de ataques de hackers ou acessos de pessoas não autorizadas, as informações também podem ser negociadas.

Se um plano de saúde, por exemplo, conseguir os dados de um conjunto de pacientes, eles podem analisá-los para adotar práticas injustas de preços em suas franquias.

Da mesma maneira, se uma empresa contratante descobre que um candidato à sua vaga é mais propenso a doenças que exigem afastamentos, ela pode privilegiar outros profissionais.

Isso significa que, mais que adotar recursos e sistemas que prezem pelos devidos padrões de segurança, também é preciso ficar atento à evolução das regras que regem a telemedicina pós-covid.

Uma grande tendência é que a Lei Geral de Proteção de Dados promova avanços significativos para a proteção de informações.

Para garantir mais segurança e tranquilidade aos pacientes, porém, cabe aos médicos ter atenção e cuidado constantes sobre esse aspecto.

Conclusão

Um dos pontos que mais trazem otimismo para o futuro da telemedicina são suas amplas possibilidades e frentes de atuação.

Muito foi abordado sobre as teleconsultas pós-covid, mas as possibilidades da área vão muito além dos atendimentos em si.

Por meio da modalidade de telediagnóstico, por exemplo, é possível avaliar exames médicos à distância com o uso de tecnologias de informação e comunicação, eliminando barreiras geográficas para a obtenção de diagnósticos seguros e precisos.

Já com o telemonitoramento, é possível acompanhar as condições de saúde dos pacientes de maneira contínua, reforçando a medicina preventiva, a detecção precoce de doenças e o monitoramento de indivíduos com patologias crônicas.

Por mais que a telemedicina já seja usada há anos no Brasil, foram as regulamentações emergenciais da atual pandemia que a difundiram para a grande maioria da população.

Em amplo crescimento, a modalidade apresentou benefícios significativos, como:

  • Otimização do tempo dos médicos;
  • Maior abrangência e melhor estrutura para atendimentos em áreas de difícil acesso;
  • Diminuição dos custos relacionados a serviços de saúde;
  • Redução de riscos de contágio sem diminuir o contato entre médicos e pacientes;
  • Mais facilidade para os cuidados com a saúde, que também ampliam sua adesão;
  • Segurança e eficiência tão rígidas quanto a medicina presencial.

Com a viabilidade da telemedicina cada vez mais aparente, a tendência é que os órgãos públicos ampliem ainda mais suas regulamentações, garantindo maior acesso à população.

Dessa forma, os gastos com saúde pública podem ser reduzidos ao mesmo tempo em que sua estrutura é melhorada.

Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin