Eletroencefalograma e autismo: o exame pode identificar o transtorno?
Qual a relação entre eletroencefalograma e autismo?
Estudos recentes vêm demonstrando que o exame pode revelar marcadores ligados ao TEA.
Inclusive, contribuindo para o diagnóstico precoce.
No entanto, a observação de alterações sem o auxílio de imagens e a própria complexidade do TEA dificultam a identificação de sinais conclusivos no EEG.
Portanto, a avaliação clínica segue tendo papel essencial para diagnosticar o autismo.
Nas próximas linhas, falo sobre as descobertas e contribuição do eletroencefalograma para o cenário atual, além de outros exames relevantes.
Trago também dicas para otimizar os laudos neurológicos com a telemedicina.
Para que serve o eletroencefalograma no autismo?
O eletroencefalograma no autismo serve para avaliar padrões de funcionamento dos neurônios.
Para compreender a importância do EEG nesse contexto, é preciso recordar as características do transtorno do espectro autista (TEA).
Embora a palavra “autismo” seja mais conhecida, o termo TEA descreve melhor esse conjunto de distúrbios do neurodesenvolvimento.
Segundo o Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-5) da Associação Americana de Psiquiatria (APA), o TEA pode ser leve, moderado ou grave.
Todas as classificações têm aspectos em comum, em especial dificuldades de interação social, comunicação e comportamento, com movimentos repetitivos e estereotipados.
Essas anomalias são percebidas antes dos três anos, mas tendem a se intensificar conforme a idade avança.
As causas do TEA ainda não estão totalmente claras, contudo, há indícios de que tenha origem multifatorial, resultando de influência genética, ambiental, entre outras.
Segundo o artigo científico “Autismo: neuroimagem”:
“O autismo é considerado atualmente uma disfunção cerebral orgânica graças a várias evidências. Entre elas, um retardo mental está associado ao autismo em 70% dos casos (QI < 70) e convulsões em 33% dos casos. Além disso, o risco de recorrência para os irmãos é de aproximadamente 3 a 5%, o que corresponde a uma incidência 75 vezes maior do que na população geral. Isso, assim como a alta prevalência de indivíduos do sexo masculino nessa população (4 para 1), sugere que há predisposição genética para esse transtorno”.
Essas evidências sinalizam a relação entre TEA e disfunção cerebral, o que inclui anormalidades na atividade elétrica neuronal.
É aí que se enquadra o eletroencefalograma, que registra os impulsos elétricos em forma de frequência.
Durante provas de ativação do exame, como a fotoestimulação intermitente, é possível observar respostas emitidas por certos grupos de neurônios.
E comparar essa resposta a padrões normais para a idade do paciente.
Eletroencefalograma detecta autismo?
O EEG oferece dados complementares, mas o diagnóstico do autismo é clínico.
Entretanto, a contribuição do exame pode aumentar em breve, a partir da identificação de marcadores sutis, graças ao uso de um algoritmo específico.
A fórmula foi empregada em estudo conduzido pelo Hospital Infantil de Boston, Escola de Medicina de Harvard e a Universidade de Boston.
Após o monitoramento de 188 bebês, dos três aos 36 meses, os pesquisadores observaram alterações funcionais no cérebro relacionadas ao TEA com uma precisão de 95% aos três meses.
Em bebês de nove meses, o EEG interpretado com auxílio do algoritmo conseguiu detectar os sinais em quase 100% dos casos.
Como detectar autismo no eletroencefalograma?
Enquanto não há uso consolidado de ferramentas de apoio, como o algoritmo que descrevi acima, vale atentar para anomalias no traçado do eletroencefalograma.
De acordo com artigo sobre o tema, as alterações mais encontradas no EEG de crianças autistas são:
- Aumento de paroxismo epileptiforme, definido como “potenciais elétricos anormais, produzidos na intimidade do córtex cerebral, em decorrência de despolarizações hipersincrônicas dos neurônios envolvidos no circuito elétrico hiper-excitável que caracteriza um foco epiléptico”
- Lentificação focal
- Lentificação difusa
- Assimetria de amplitude
- Assimetria de frequência.
Outro indício está na ativação menor do hemisfério direito do cérebro, como retratou um estudo conduzido pelo Laboratório de Neurofisiologia do Instituto Fernandes Figueira (IFF), unidade da Fiocruz.
Durante o eletroencefalograma em vigília, não houve alterações significativas entre os 13 pacientes com idades entre seis e 14 anos, como relata esta notícia.
“Somente depois da estimulação por meio da luz, feita em diferentes frequências, é que as anomalias apareceram. As respostas a essa estimulação foram comparadas com as obtidas por 16 crianças normais da mesma faixa etária. Na área occipital do cérebro (ligada à visão) os resultados apresentados nas diferentes frequências foram combinados para montar um perfil individual de recrutamento. Nas crianças autistas, a ativação por recrutamento no hemisfério direito (ligado às emoções e às relações sociais) foi menor do que nas crianças normais”.
Quais os exames para diagnosticar o autismo além do eletroencefalograma?
O diagnóstico do autismo é essencialmente clínico, como mencionei antes.
Portanto, anamnese e avaliação física são fundamentais, permitindo a observação de sinais de alerta para o TEA a partir dos primeiros seis meses de vida do bebê.
Atrasos no desenvolvimento da linguagem e falta de interação social estão entre os sintomas, segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
A entidade recomenda o uso de questionários para complementar a triagem de casos suspeitos.
Um deles é o Questionário Modificado para Triagem do autismo com Entrevista de Seguimento (M-CHAT-R/F) para crianças entre 16 e 30 meses.
Seus resultados podem ser sustentados pelo EEG e exames de imagem cerebral funcionais, a exemplo de:
- Tomografia por emissão de pósitrons (PET-CT)
- Tomografia por emissão de fóton único (SPECT)
- Ressonância magnética funcional.
A interpretação desses exames pode ser realizada remotamente a partir de soluções de telemedicina, como apresento na sequência.
Como a telemedicina agiliza o diagnóstico de autismo?
Fruto da transformação digital na saúde, a telemedicina conecta profissionais em diferentes localidades, otimizando a entrega de resultados de exames.
A aplicação da telemedicina na neurologia permite a interpretação a distância do eletroencefalograma, seja em vigília, em sono ou com mapeamento cerebral.
Dessa forma, não é preciso manter uma equipe de neurologistas in loco para laudar esses procedimentos.
É só realizar o EEG normalmente e compartilhar os registros dentro da plataforma de Telemedicina Morsch.
Em seguida, um de nossos neurologistas qualificados analisa os achados sob a luz da suspeita clínica de autismo e outros transtornos.
Ele anota a conclusão no laudo médico, assinado digitalmente para garantir a autenticidade.
Graças ao nosso time com centenas de especialistas a postos, o laudo online é entregue em minutos no sistema.
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Conclusão
Discorri neste artigo sobre a importância do eletroencefalograma no autismo.
Embora não ofereça, por si só, resultados conclusivos, o EEG tem se mostrado uma ferramenta valiosa para o diagnóstico e a identificação de padrões cerebrais relacionados ao TEA.
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