Eixo cardíaco: como identificar e calcular no ECG, tem calculadora

Por Dr. José Aldair Morsch, 13 de dezembro de 2021
Eixo cardíaco

Você sabe calcular o eixo cardíaco?

Essa é uma das etapas indispensáveis para interpretar o ECG de forma correta.

E, por consequência, identificar anormalidades que sinalizem doenças cardíacas.

Daí a importância de aprimorar os seus conhecimentos sobre o eletrocardiograma e seus resultados, pois eles podem salvar a vida do paciente.

Principalmente se você estiver atendendo uma emergência, como o infarto.

Foi pensando nisso que construí este texto com noções básicas sobre o eixo cardíaco, mostrando por que e como encontrá-lo a partir do gráfico do ECG.

Se o assunto interessa, siga com a leitura.

O eixo cardíaco no eletrocardiograma

De forma bastante simplificada, podemos definir o eixo cardíaco como a principal direção na trajetória do impulso elétrico através dos ventrículos.

Também chamado de eixo elétrico ou vetor médio, ele é formado pela soma de todos os vetores que expressam a despolarização ventricular.

Para explicar melhor, vamos recordar as aulas de física em que estudamos o conceito de vetor.

Qualquer força que tenha direção e sentido pode ser representada por esse trecho de reta em um plano cartesiano.

E o impulso elétrico nada mais é do que uma força que deve seguir um padrão na direção e sentido para manter o coração batendo em ritmo sinusal ou normal.

Portanto, esse impulso pode ser representado por um vetor.

Mas o eletrocardiograma não capta sinais a partir de um único ponto de vista e, sim, de vários.

Cada derivação do teste mostra um mesmo estímulo elétrico a partir de diferentes ângulos, sendo que:

  • Dados sobre o plano frontal são descritos nas derivações periféricas
  • Existem 3 derivações periféricas bipolares (D1, D2 e D3) e 3 derivações periféricas unipolares (aVR, aVL e aVF)
  • Dados sobre o plano horizontal do coração são avaliados a partir das 6 derivações precordiais: V1, V2, V3, V4, V5 e V6
  • Assim, foi criado um vetor médio que serve para indicar se o eixo está em posição normal ou se tem algum desvio – fator relacionado a patologias cardíacas.
Eixo do coração

Foto: Rebelem

Como identificar o eixo do QRS no ECG

Encontrar o eixo cardíaco é uma tarefa complexa que requer treino e análise minuciosa.

Especialmente para os médicos que estiverem iniciando a carreira e não tiverem contato prévio com a interpretação de exames cardiológicos.

Então, minha primeira recomendação é que você tenha calma e esteja atento a cada detalhe no gráfico do ECG.

Considerando o plano frontal, o mais comum é que o eixo elétrico esteja para a direita e para baixo, a uma inclinação entre -30° a +90°.

Já no plano horizontal (das derivações precordiais), é comum que o vetor seja negativo nas derivações direitas, de V1 a V3, e positivo entre V4 e V6.

Outra situação corriqueira é que o complexo QRS seja positivo nas derivações D1 e aVF.

Nesse caso, o eixo estará entre 0º e 90º.

Assim, é preciso avaliar o traçado nas derivações D3 e aVL, que atravessam as duas primeiras.

Caso o QRS seja negativo em D3, o eixo estará posicionado entre 0º e 30º.

Já se o QRS foi isoelétrico em D3, o eixo estará exatamente na linha de aVR, a 30º.

Se o complexo estiver positivo em D3, estará abaixo da linha de aVR, entre 30º e 90º.

Como calcular o eixo cardíaco

Antes do cálculo em si, ressalto a importância de se atentar a critérios de qualidade do eletrocardiograma.

Embora seja um teste simples, é preciso cuidado para coletar os dados corretamente, evitando artefatos e outros problemas.

Um dos principais está na colocação dos eletrodos.

Eles devem ser fixados sobre a pele limpa e posicionados de modo adequado.

Escrevi um texto completo para ajudar nessa tarefa – você pode conferi-lo aqui.

Eixos no ECG

No cálculo do eixo cardíaco, é possível saber se existe anormalidade em seu posicionamentoCom o resultado do ECG em mãos, vamos ao cálculo do eixo cardíaco.

Para isso, utilizamos as seis derivações periféricas.

Elas oferecem uma visão a partir da esquerda, direita, de cima e de baixo.

Vamos tomar por base o método simples para investigar anormalidades quanto ao eixo deste artigo.

Tudo começa pela divisão do plano em 4 quadrantes iguais.

Em seguida, traçamos os vetores referentes às derivações periféricas.

E verificamos se os complexos QRS são positivos ou negativos nas derivações D1 e aVF.

Depois, devemos observar o comportamento do complexo QRS para tirar conclusões:

  • Se for positivo em D1 e aVF, o eixo é normal
  • Se for negativo em D1 e aVF, há desvio extremo
  • Se o QRS é positivo em aVF e negativo em D1, vemos um desvio à direita
  • Se for negativo em aVF e positivo em D1, será preciso tirar a dúvida analisando D2. Se em D2 o QRS for positivo, indica eixo normal. Se for negativo, revela desvio à esquerda.

Calculadora exata do eixo cardíaco

Você pode salvar nos seus favoritos esse link onde você preenche com a amplitude do QRS em D1 e a amplitude do QRS em D3 e instantaneamente você terá o cálculo exato do eixo do QRS.

CALCULADORA DO EIXO DO QRS clique e calcule

O que caracteriza eixo cardíaco normal?

Ao olhar para o vetor médio calculado, é possível saber se existe anormalidade em seu posicionamento.

Utilize a seguinte regra:

  • De -30° a 90°: eixo normal, esperado
  • Entre -30° e -90°: eixo desviado à esquerda
  • Entre 90° e 180°: eixo desviado à direita
  • Entre -90° e -180°: desvio extremo do eixo elétrico.

Vale lembrar que existem outros aspectos que devem ser analisados para concluir que o eletrocardiograma tem resultado normal.

Por exemplo, verificar a frequência cardíaca, que deve ficar entre 50 e 100 bpm em um adulto jovem e saudável.

E conferir se o ritmo é sinusal, observando a presença, padrão e sequência das ondas do ECG.

No ritmo cardíaco normal, cada batimento é formado por uma onda P, seguida por um complexo QRS e, ainda, uma onda T.

Conclusão

Espero ter contribuído para tirar dúvidas e ajudar no cálculo do eixo cardíaco, passo fundamental na análise do eletrocardiograma.

Se ficou alguma pergunta ou sugestão, deixe um comentário.

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Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin