Promoção da saúde: o que é, qual a importância e exemplos de ações

Por Dr. José Aldair Morsch, 6 de setembro de 2022
Promoção da saúde

A promoção da saúde é, sem dúvida, a melhor forma de evitar a escalada da “indústria da doença”.

O mercado de serviços médicos de urgência nas Américas deverá alcançar até 2027 o valor de US$ 30,1 bilhões, contra os US$ 19,5 bilhões atuais.

Embora nessa conta entrem os atendimentos em razão de acidentes, traumas e outras causas não necessariamente ligadas a doenças, ela não deixa de ser preocupante.

Afinal, se a cada ano a demanda por serviços emergenciais aumenta, é também um sinal de que a prevenção não está recebendo a atenção devida.

Por isso, sempre oriento meus pacientes a cuidarem de si mesmos nos dia a dia, recomendando práticas consagradas como boa alimentação e exercícios.

Mas, além disso, há outros fatores que precisam ser considerados para uma saúde plena.

Apresento os principais deles neste texto, esmiuçando os aspectos fundamentais da promoção da saúde.

O que é promoção da saúde?

Promoção da saúde é a soma de esforços por parte dos profissionais e empresas da área médica com o objetivo de informar as pessoas sobre a medicina preventiva.

Abrange ações no sentido de elevar o bem-estar, a autoestima e a qualidade de vida, afinal, ter saúde não é apenas a ausência de doenças.

Para chegar a esse status, é necessário em certos casos mudar comportamentos, atitudes e crenças que possam reduzir a expectativa de vida ou aumentar o risco de desenvolver enfermidades. Cito aqui a definição da Organização das Nações Unidas (ONU):

“Promoção da saúde é o processo de permitir que as pessoas aumentem o controle e melhorem sua saúde. Ela vai além do foco no comportamento individual, direcionando a uma ampla gama de intervenções sociais e ambientais.”

Note que, nessa definição, a entidade engloba não apenas a necessidade de educar as pessoas, mas de intervir no contexto que as cerca.

Faz todo o sentido, já que de pouco adiantaria promover a saúde se, por exemplo, a poluição atmosférica só piorar – a chance de as pessoas desenvolverem doenças respiratórias continuará alta.

Conceitos e estratégias da promoção da saúde

Enquanto área da Medicina dedicada a evitar doenças e disseminar um padrão de vida com mais qualidade, a promoção da saúde pode ser considerada relativamente nova.

Seus primeiros passos foram dados em 1986, na primeira conferência internacional de promoção da saúde, realizada na capital do Canadá, Ottawa.

O resultado desse grande encontro foi a declaração de princípios conhecida como Carta de Ottawa, na qual foram lançados os conceitos de promoção da saúde.

Ela prevê um conjunto de 9 condições indispensáveis para que haja saúde em sentido amplo:

  • Paz
  • Abrigo
  • Educação
  • Alimentação
  • Recursos econômicos
  • Ecossistema estável
  • Recursos sustentáveis
  • Justiça social 
  • Equidade.

A Carta de Ottawa pode ser considerada um divisor de águas porque lança luz sobre uma série de aspectos sobre os quais a Medicina em si não tem controle.

Por isso, ela é um manifesto arrojado por parte da comunidade médica, que se posiciona a respeito de temas que contribuem indiretamente para a melhora da saúde.

Afinal, ninguém discorda que, sem paz e abrigo, não é possível manter a saúde, muito menos ter qualidade de vida.

Qual a importância da promoção da saúde?

Você imagina uma vida saudável e feliz sem saneamento básico?

Ou, ter uma saúde de ferro vivendo em uma região ou país sem políticas visando equilibrar a justiça social?

Pois essas são questões sobre as quais os especialistas em promoção da saúde se debruçam, dados os impactos diretos sobre a qualidade de vida.

Obviamente, isso inclui a distribuição justa não só das riquezas, como do acesso aos serviços de saúde, como exposto na Carta de Ottawa.

Apesar dos muitos problemas e desafios por enfrentar até que a promoção da saúde seja universal, há também motivos para celebrar.

É o que se pode concluir pela leitura do mais recente anuário da Organização Mundial da Saúde (OMS).

De acordo com o estudo, a expectativa de vida global ao nascer aumentou de 66,8 anos, em 2000, para 73,3 anos, em 2019.

Além disso, a expectativa de vida saudável aumentou de 58,3 anos para 63,7 anos.

Ou seja, as pessoas estão vivendo não só mais anos, como estão vivendo melhor.

No entanto, existe um longo caminho a ser percorrido, considerando as muitas desigualdades entre os países.

No Brasil, onde a distância entre os mais ricos e os mais pobres ainda é uma das maiores no mundo, a promoção da saúde deve ser um assunto prioritário para os governos.

Sem ela, continuaremos a registrar altos índices de mortalidade infantil, que, embora em queda, ainda está longe dos índices registrados nos países mais desenvolvidos.

A título de comparação, em 2018, esta taxa ficou em 12,4 a cada mil nascidos vivos, enquanto no Japão e Finlândia ela é de menos de 2 por mil.

Os dados reforçam a importância de se promover a saúde, não só para quem já está vivendo no planeta, mas para aqueles que estão por chegar.

Como promover a saúde

Importância de se promover a saúde vale para quem já vive no planeta e para aqueles que estão por chegar

Qual a relação entre promoção de saúde e qualidade de vida?

Educação e alimentação estão entre os fatores essenciais para uma saúde plena.

Afinal, está tudo interligado.

Sem educação, as pessoas terão oportunidades restritas, reduzindo seus rendimentos.

Sem uma renda mensal digna, elas não poderão se alimentar adequadamente, o que gerará reflexos negativos sobre sua saúde em geral.

Sem saúde, a qualidade de vida fica cada vez mais distante, uma vez que as preocupações com aspectos básicos da subsistência aumentam.

Isso faz da promoção da saúde um verdadeiro pilar da qualidade de vida, sem o qual esta não tem como se sustentar.

Motivos pelos quais vale a pena promover a saúde 

As práticas de promoção da saúde promovem a reflexão e uma discussão muito mais ampla em relação à saúde, pensando em valores sociais, culturais, subjetivos e históricos. 

No caso, sua intenção não é meramente promover uma vida saudável, mas fazer com que as pessoas e órgãos responsáveis atuem em conjunto, pensando em algo maior e no futuro. 

Logo, temas como desigualdade, cidadania e acesso à saúde passam a entrar em pauta, visando esse bem maior. 

A promoção da saúde também desencadeia um processo de articulação de parcerias, atuações intersetoriais e participação popular, de forma a otimizar os recursos disponíveis e garantir a sua aplicação que de fato atinjam às necessidades da sociedade.

O que é a Política Nacional de Promoção da Saúde?

A ONU traça as diretrizes gerais e cabe a cada governo definir as políticas necessárias e adequadas a cada realidade para levar mais saúde e qualidade de vida às pessoas.

No Brasil, essas políticas têm início com a publicação da Portaria nº 687/2006, na qual ficou instituída oficialmente a criação da Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS).

Seu objetivo principal não poderia ser mais claro:

“Promover a qualidade de vida e reduzir vulnerabilidades e riscos à saúde relacionados aos seus determinantes e condicionantes – modos de viver, condições de trabalho, habitação, ambiente, educação, lazer, cultura, acesso a bens e serviços essenciais”.

A partir desta, outras 12 metas específicas são traçadas pelo documento.

Com a PNPS, o governo brasileiro manifesta sua adesão aos conceitos globalmente difundidos de promoção da saúde, ajudando a definir estratégias para aumentá-la.

Por essa razão, o documento prevê ainda 6 diretrizes básicas para promover a saúde, sendo a primeira delas “reconhecer na promoção da saúde uma parte fundamental da busca da equidade e da melhoria da qualidade de vida”.

Programas de saúde

O estímulo às consultas preventivas é uma das maneiras de promover a saúde, o que pode evitar diversas doenças

Quais os objetivos da Política Nacional de Promoção da Saúde?

Como vimos, a PNPS tem o objetivo de promover a qualidade de vida.

Para que isso aconteça, ela define ainda outros 12 objetivos específicos, que são:

I – Incorporar e implementar ações de promoção da saúde, com ênfase na atenção básica

II – Ampliar a autonomia e a co-responsabilidade de sujeitos e coletividades, inclusive o poder público, no cuidado integral à saúde e minimizar e/ou extinguir as desigualdades de toda e qualquer ordem (étnica, racial, social, regional, de gênero, de orientação/opção sexual, entre outras)

III – Promover o entendimento da concepção ampliada de saúde, entre os trabalhadores de saúde, tanto das atividades-meio como os da atividades-fim

IV – Contribuir para o aumento da resolubilidade do Sistema, garantindo qualidade, eficácia, eficiência e segurança das ações de promoção da saúde

V – Estimular alternativas inovadoras e socialmente inclusivas/contributivas no âmbito das ações de promoção da saúde

VI – Valorizar e otimizar o uso dos espaços públicos de convivência e de produção de saúde para o desenvolvimento das ações de promoção da saúde

VII – Favorecer a preservação do meio ambiente e a promoção de ambientes mais seguros e saudáveis

VIII – Contribuir para elaboração e implementação de políticas públicas integradas que visem à melhoria da qualidade de vida no planejamento de espaços urbanos e rurais

IX – Ampliar os processos de integração baseados na cooperação, solidariedade e gestão democrática

X – Prevenir fatores determinantes e/ou condicionantes de doenças e agravos à saúde

XI – Estimular a adoção de modos de viver não-violentos e o desenvolvimento de uma cultura de paz no País

XII – Valorizar e ampliar a cooperação do setor Saúde com outras áreas de governos, setores e atores sociais para a gestão de políticas públicas e a criação e/ou o fortalecimento de iniciativas que signifiquem redução das situações de desigualdade.

Quais são as estratégias Política Nacional de Promoção da Saúde?

Para atingir os objetivos citados, foram desenvolvidas as seguintes estratégias:

  • Gestão intersetorial dos recursos na abordagem dos problemas, ampliando parcerias e compartilhando soluções na construção de políticas públicas saudáveis
  • Capacidade de regulação dos Estados e municípios sobre os fatores de proteção e promoção da saúde
  • Reforçar os processos de participação comunitária no diagnóstico dos problemas de saúde e suas soluções, reforçando a formação e consolidação de redes sociais e protetoras
  • Promoção de hábitos e estilos de vida saudáveis, com ênfase no estímulo a alimentação saudável, atividade física, comportamentos seguros e combate ao tabagismo
  • Promoção de ambientes seguros e saudáveis, enfatizando o trabalho em escolas e comunidades
  • Reforço à reorientação das práticas dos serviços dentro do conceito positivo de saúde, atenção integral e qualidade, tendo a promoção como enfoque transversal das políticas, programas, projetos e ações, priorizando a atenção básica e o Programa de Saúde da Família
  • Reorientação do cuidado na perspectiva do respeito a autonomia e a cultura.

A seguir, falo mais sobre a importância dessas políticas para promover a saúde.

Importância das políticas públicas para promoção da saúde

Por mais que os serviços de saúde pública no Brasil deixem a desejar em certos aspectos, é louvável que o direito à saúde gratuita seja mantido em nosso país.

Inclusive, há áreas em que somos considerados um modelo para o resto do mundo, como no combate e prevenção à aids.

Portanto, nem tudo se resume a enfermarias lotadas e doentes empilhados em corredores, como vemos em tantas imagens por aí.

As políticas públicas de promoção da saúde também encontram seu espaço, em ações do Sistema Único de Saúde (SUS).

Existe até uma iniciativa de promoção da telemedicina, o Programa Telessaúde Brasil Redes, do qual já falei aqui no blog.

Programas assim são fundamentais para disseminar a saúde, principalmente nas camadas da população sem acesso à Medicina de ponta.

Qual o impacto da educação para solidificar o processo? 

O indivíduo deve ter um papel ativo na promoção da saúde, seja evitando o sedentarismo ou adotando uma alimentação mais saudável. 

Logo, fortalecer o conhecimento acerca do assunto, de forma a serem tomadas medidas mais assertivas, é fundamental. 

A educação para a saúde tem como objetivo aumentar o conhecimento dos indivíduos, dando a eles ferramentas que permitam desenvolver competências visando garantir uma vida mais saudável para si e para o coletivo. 

Afinal, ao saberem da importância da promoção da saúde e verem que os demais envolvidos nesse processo estão atuando, a tendência é que eles aumentem os cuidados, melhorando a sua qualidade de vida. 

Qual a diferença entre prevenção e promoção da saúde?

Enquanto promover significa impulsionar, originar e fomentar, prevenir está relacionado a chegar antes de, impedir que algo ocorra e agir antecipadamente. 

Apesar de possuírem características interligadas e contribuírem para o bem-estar, é importante entender no que elas diferem, para evitar confusões.

A prevenção tem como principal objetivo evitar que algo ocorra, como uma epidemia.

As ações são direcionadas, como quando o Ministério da Saúde realiza a campanha de vacinação, para evitar que haja proliferação de determinadas doenças.

Já a promoção da saúde tem um caráter mais amplo, uma vez que não está relacionada a uma determinada doença ou desordem, mas sim visando aumentar a saúde e o bem-estar em geral. 

Esta estratégia dá ênfase na transformação das condições de vida e de trabalho – o que demanda uma abordagem intersetorial. 

Confira um resumo com as principais diferenças entre promoção da saúde e prevenção de doenças: 

Prevenção:

  • Ato de preparar, impedir que se realize, chegar antes de
  • Baseia-se no conhecimento sobre as doenças, exigindo uma ação antecipada para evitar o seu progresso
  • Exige um conhecimento epidemiológico, para garantir o controle e a redução do risco das doenças
  • Os projetos de prevenção e educação estão associados às informações científicas e recomendações estipuladas em normas
  • Orientada às ações de detecção, controle e enfraquecimento dos fatores de risco de enfermidades. 

Promoção:

  • Ato dar impulso, fomentar, gerar e originar
  • Refere-se às medidas que visam promover saúde e bem-estar – não se dirigindo a doenças específicas
  • Requer o fortalecimento da capacidade individual e coletiva para que seja possível lidar com a multiplicidade dos fatores que condicionam o acesso à saúde. 

Na sequência, trago exemplos que ajudam a entender melhor essa questão.

Apesar de estarem relacionadas, promoção da saúde e prevenção de doenças são termos diferentes

Campanhas de vacinação são um exemplo de ação ´pensada para a prevenção de doenças

Exemplos de ações de promoção e prevenção da saúde

Também vimos que a promoção da saúde depende de criar um ambiente favorável para que as pessoas tenham mais qualidade de vida.

O estímulo à prática de esportes é uma maneira de promover a saúde, já que, a partir disso, diversas doenças são evitadas.

Isso sem contar que, quando nos mantemos ativos, melhoramos nossa condição física como um todo, aumentando a qualidade de vida. 

Já na área da prevenção, o que não faltam são bons exemplos de iniciativas no sentido de frear o avanço de certas doenças ou condições de risco.

É o que o governo faz quando promove campanhas incentivando o uso de preservativos e para coibir o consumo de álcool antes de dirigir, por exemplo.

5 boas práticas para melhorar as condições de vida da população em geral

Abaixo, vou apresentar algumas ações e boas práticas que, ao serem implementadas, ajudam na promoção da saúde.

Essas ações podem ser individuais, promovidas por órgãos públicos e também por empresas privadas.

  1. Criação de planos que contemplem ações concretas para melhorar a condição de saúde das pessoas, com base no conhecimento das doenças que afetam mais determinada população. Se em uma determinada região as pessoas morrem mais devido a infarto, é possível adotar medidas preventivas alertando sobre os perigos da hipertensão, por exemplo.
  1. Realização de ações de promoção de saúde no local de trabalho, como palestras abordando o estresse, uma vez que a produtividade está diretamente ligada a qualidade de vida e saúde mental e física.
  2. Promoção da flexibilização da jornada de trabalho, avaliando a possibilidade de adotar o home office, para aumentar a satisfação do colaborador.
  3. Melhorar o ambiente de trabalho, dando uma atenção maior à ergonomia e às condições da instalação.
  4. Cabe ao indivíduo entender a importância de se manter saudável para evitar a ocorrência de doenças e garantir seu bem-estar.

Aqui se encaixa especialmente a manutenção de bons hábitos alimentares, a adoção de uma rotina de exercícios e o abandono do tabaco e do excesso de bebida alcoólica.

Como a telemedicina ajuda na promoção da saúde?

Promoção é comunicação e, nesse sentido, a telemedicina contribui diretamente para promover a saúde em todos os seus aspectos.

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Através da telessaude, distâncias geográficas e falta de infraestrutura deixam de ser empecilhos para garantir um atendimento especializado, seguro e de qualidade.

Sem falar que permite a realização de teleconsultoria, que é a consulta entre profissionais e instituições para esclarecer dúvidas ou promover ações mais assertivas.

Conclusão

A promoção da saúde é o melhor investimento que as empresas da área médica podem fazer, em razão do seu custo baixo e excelentes resultados.

Para o paciente, significa uma vida muito mais ativa, com mais realizações e crescimento em todos os sentidos.

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Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin