Tudo o que você precisa saber sobre esclerose múltipla
A esclerose múltipla (EM) é uma doença autoimune que compromete o sistema nervoso central, atingindo principalmente o cérebro, a medula espinhal e os nervos ópticos.
Trata-se de uma condição temida por todos, mas poucas pessoas sabem ao certo como identificá-la, quais os seus tipos, o que a provoca e os seus principais métodos de tratamento.
Segundo dados divulgados pela Associação Brasileira de Esclerose Múltipla (ABEM), cerca de 40 mil brasileiros são acometidos pela patologia.
Em escala global, estima-se que aproximadamente 2,8 milhões de pessoas vivem com EM. Isso representa 1 a cada 3.000 adultos.
Além disso, a cada cinco minutos, diagnosticamos uma pessoa com a doença, sendo que o acesso às terapias complementares enfrentam barreiras em 7 de cada 10 países em que isso ocorre.
Mas afinal, o que é esclerose múltipla exatamente? Como seus sintomas se manifestam? Quais os meios de combatê-la? Ela tem cura? É possível preveni-la?
Para esclarecer todos os detalhes sobre o tema, preparei este artigo com as respostas dessas e outras perguntas. Acompanhe.
O que é esclerose múltipla?
De manifestação autoimune, a esclerose múltipla ocorre quando o próprio sistema imunológico passa a atacar uma estrutura do organismo chamada de bainha de mielina.
Trata-se de uma espécie de proteção que reveste os neurônios, que quando é danificada acaba destruindo ou prejudicando severamente os nervos.
Como resultado, a comunicação entre o cérebro e o restante do corpo é comprometida, gerando sintomas variáveis, que mudam conforme o volume e os tipos de nervos afetados.
Assim, os alvos mais comuns desta condição, chamada de desmielinização, incluem o tronco cerebral, a medula espinhal e os nervos ópticos.
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Já os sintomas mais comuns são: tremores, fraqueza muscular, fadiga excessiva e perda do controle dos movimentos e da fala.
A principal faixa etária sujeita à esclerose múltipla é de adultos entre os 18 e 55 anos, de acordo com dados divulgados pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (CONITEC).
Voltando às informações prestadas pela ABEM, a associação dedicada aos pacientes brasileiros afetados pela doença ressalta de forma contundente que sua manifestação não é contagiosa, não é suscetível de prevenção e não consiste em uma patologia mental.
Tipos de esclerose múltipla
- Esclerose múltipla remitente-recorrente (EMRR): é a manifestação mais comum da doença, responsável por mais de 80% dos casos. Tende a ocorrer nos primeiros anos do primeiro diagn EM e os pacientes geralmente se recuperam sem sequelas. Contudo, cerca de metade das pessoas com EMRR desenvolvem o segundo tipo de esclerose (descrito abaixo) em um período de 10 anos;
- Esclerose múltipla secundária progressiva (EMSP): nela, os pacientes não têm recuperação total das crises e passam a acumular sequelas com o passar dos anos. É comum que ocorram problemas para andar, perda visual definitiva e outras condições incapacitantes;
- Esclerose múltipla primária progressiva (EMPP): nesse caso, as crises são seguidas umas das outras e vão apresentando pioras gradativas;
- Esclerose múltipla progressiva com surtos (EMPS): é semelhante à anterior, mas a EM ocorre de maneira mais agressiva, comprometendo assim as estruturas do cérebro rapidamente durante o processo.
Principais causas da esclerose múltipla
A resposta autoimune de desmielinização ocorre por uma falha no sistema imunológico. Responsável pelo combate de infecções, as células de defesa agem de maneira equivocada e passam a reconhecer a mielina como uma ameaça, o que leva ao seu ataque.
Entretanto, apesar de ser um processo já conhecido, a esclerose múltipla tem causas incertas, mas é consenso entre os especialistas que alguns fatores estejam diretamente associados à sua ocorrência. São eles:
Fatores genéticos
Há pessoas com predisposição para a doença. Além disso, acredita-se que a esclerose múltipla é hereditária, já que 15% dos pacientes têm parente próximo e 5% um irmão com EM, segundo dados publicados no UOL.
Fatores ambientais
Acima de tudo, baixos índices de vitamina D contribuem para o surgimento da EM, e isso faz com que locais com menor incidência de sol tenham mais casos da doença. Além disso, a exposição à fumaça do cigarro também favorece seu desenvolvimento.
Fatores alimentares
Ainda que não seja um consenso entre a comunidade científica, existem sinais de que dietas pobres em ômega 3 e com alto teor de sódio contribuem para o surgimento da EM.
Fatores desencadeantes
Ao mesmo tempo, quando interagem entre si, os fatores descritos acima contribuem para que a esclerose múltipla se manifeste no paciente, mas ainda é preciso que exista um fator desencadeante.
Segundo a comunidade científica, a primeira resposta imunológica que leva à desmielinização pode ser gerada pela infecção de um vírus ou bactéria. Ou seja, a doença é “ativada” quando as células de defesa começam a combater um invasor.
Quando isso ocorre, o sistema imune primeiro ataca o agente infeccioso normalmente, mas com o passar do tempo, o alvo deixa de ser ele e passa a ser a mielina.
Isso acontece como uma resposta hiperativa das defesas imunológicas, identificando a mielina como um elemento externo combatendo-o.
O mais comum é que o agente desencadeante (trigger), seja viral. Os vírus mais relacionados a esse processo são o citomegalovírus e o Epstein Barr.
Quais são os sintomas da esclerose múltipla?
Os sintomas da esclerose múltipla são variados e podem variar de acordo com a área afetada do sistema nervoso central.
Assim, como citei no item sobre os tipos da doença, eles podem aparecer e desaparecer por certos períodos e depois apresentar quadros de piora, de acordo com sua manifestação.
Fadiga excessiva
Trata-se de um dos sintomas mais comuns da EM. O paciente sente um cansaço excessivo e que não corresponde à atividade que está realizando. Essa fadiga tende a ser intensa e incapacitante em certos momentos, principalmente quando a pessoa realiza algum tipo de esforço ou é exposta ao calor.
Alterações visuais
No campo visual, os pacientes podem inicialmente apresentar vista dupla ou embaçada. Com a progressão da esclerose, pode ocorrer perda permanente da visão.
Transtornos fonoaudiólogos
Problemas na fala e na deglutição também são comuns, seja no início da EM ou com o passar dos anos. Contudo, o paciente pode ter a voz trêmula, apresentar palavras arrastadas, pronúncia hesitante e dificuldade para engolir.
Espasticidade
Diz respeito à rigidez de um membro, que normalmente atinge os membros inferiores. Ela ocorre quando o paciente se movimenta e é acompanhada de parestesia, que afeta o senso tátil. Surge como uma sensação de formigamento, queimação ou mesmo de forma dolorosa.
Coordenação e equilíbrio comprometidos
Nesse sentido, o corpo apresenta fraqueza geral, debilidade nas pernas, situações de náuseas e vertigens, falta de coordenação, tremores, perda de equilíbrio e instabilidade para caminhar.
Disfunções cognitivas
Em qualquer fase da doença, e independentemente dos sintomas físicos, pode ocorrer comprometimento das funções cognitivas, como aquelas ligadas à execução de tarefas ou à memória.
Problemas sexuais
Nos homens, a EM pode causar disfunção erétil. Já nas mulheres, há diminuição na lubrificação vaginal. Além disso, a EM afeta a sensibilidade do períneo, comprometendo o desempenho sexual.
Transtornos emocionais
Em suma, é bastante comum que a esclerose múltipla tenha sintomas emocionais, como ansiedade, depressão, irritação, alterações de humor e bipolaridade.
Como diagnosticar a esclerose múltipla?
Sempre que algum sintoma for identificado ou que exista suspeita de EM, o paciente deve procurar imediatamente por uma consulta médica para verificar seu quadro.
Antes de mais nada a esclerose múltipla tem diagnóstico baseado no histórico clínico e na análise dos sinais relatados pelo paciente.
Logo, o médico responsável é o neurologista, que também deve solicitar exames de sangue para descartar a hipótese de outras doenças.
Outros procedimentos também são fundamentais para confirmar o diagnóstico, como os de imagem. É o caso da ressonância magnética, que permite verificar a degradação da mielina.
Em algumas situações, ainda pode-se realizar a análise do líquido cefalorraquidiano, que aponta anormalidades nos anticorpos. Dessa forma o líquido pode ser extraído através de punção lombar.
Bem como, há também a possibilidade de realizar o estudo dos potenciais evocados, que registra os sinais elétricos dos nervos e serve para determinar a resposta dos mesmos a certos estímulos.
Sobre a progressão de incapacidade da esclerose múltipla
Como mencionei anteriormente, a esclerose múltipla faz com que as células imunes atuem de maneira invertida, passando a atacar o organismo ao invés de protegê-lo.
Em síntese, isso gera inflamações que comprometem a bainha de mielina, que reveste e protege os neurônios responsáveis pela condução dos impulsos elétricos do sistema nervoso central para o corpo.
Com a mielina afetada, as funções que são coordenadas pelo cérebro, pela medula espinhal, pelo tronco encefálico e pelo cerebelo são prejudicadas.
Nos estágios iniciais, isso faz alguns sintomas comuns da doença surgirem, como alterações na sensibilidade, na visão, na força dos membros e no equilíbrio.
A partir disso, o paciente começa a ter seu cotidiano afetado, com menor capacidade de mobilidade e de locomoção.
Sempre que um novo sintoma neurológico surge, ou que um sintoma já existente piora, um surto de desmielinização ocorre. Sua duração mínima é de 24 horas.
O quadro apresentado em cada surto pode variar bastante e ser caracterizado por mais de um sintoma.
Para que um novo surto seja considerado, é preciso que exista um intervalo de 30 dias. Em períodos menores, caracteriza-se um sintoma do mesmo surto em andamento.
Após a ocorrência dos surtos de desmielinização, o paciente pode ter recuperação total ou parcial do processo inflamatório.
Além disso, os sintomas podem piorar significativamente se o paciente tiver febre, for exposto a infecções, ao calor, frio intenso, fadiga, desidratação, estresse ou variações hormonais.
Como se dá o tratamento da esclerose múltipla
A esclerose múltipla possui tratamento focado no controle de seu agravamento e no impedimento de sua evolução.
Ao passo que, as medidas adotadas variam de acordo com o tipo da doença e com o quadro do paciente, sendo que toda intervenção deve sempre ser personalizada.
De maneira geral, o combate da patologia é feito por meio de remédios para esclerose múltipla. Os mais comuns deles são:
- Medicamentos para controlar o sistema imune, que dificultam o ataque das células de defesa na mielina e previnem novas crises;
- Corticoides, que agem inibindo a ação imunológica, sendo normalmente utilizados para amenizar sintomas por um curto período. Eles podem ser orais ou injetáveis.
Vale ressaltar que o paciente deve ser acompanhado por toda a vida por um neurologista. Somente o especialista pode determinar o tipo de tratamento ideal para cada paciente. Além disso, a automedicação jamais deve ser considerada.
Agora, em certos casos, os pacientes se queixam do excesso de dor de cabeça gerado pelos medicamentos. Isso pode exigir certas mudanças nas intervenções, o que só reforça a importância de um acompanhamento médico contínuo e regrado.
Tal qual, também é direito do paciente receber algumas recomendações de hábitos para evitar a evolução da EM e para controlar seus sintomas, como:
- Praticar exercícios recomendados pelo neurologista;
- Ter bons hábitos de sono, dormindo pelo menos 8 horas por noite;
- Adotar medidas para reduzir e prevenir o estresse;
- Evitar a exposição ao calor e prezar por temperaturas amenas;
- Realizar fisioterapia para melhorar a mobilidade;
- Prezar por uma dieta equilibrada e rica em vitamina D.
Esclerose múltipla tem cura?
A esclerose múltipla não tem cura. Contudo, seu tratamento é imprescindível para que o paciente tenha mais qualidade de vida e previna-se contra agravamentos e novas crises.
Seja como for, vale ressaltar que, quanto mais cedo as intervenções começarem, melhor será a evolução e menores serão as consequências da doença na vida da pessoa.
Conclusão
Ao longo deste artigo, expliquei o que é esclerose múltipla, como ela afeta os pacientes, quais processos a desencadeiam e como são os seus tipos de manifestação.
Como resultado, ainda que a doença não tenha cura, é fundamental que seu diagnóstico seja feito de maneira precoce e que o devido tratamento seja orientado. Só assim é possível minimizar suas crises e efeitos debilitantes no sistema nervoso central, garantindo mais qualidade de vida.
Portanto, se você gostou de saber mais sobre esclerose múltipla e quer ficar por dentro de outros temas de suma importância em saúde, não deixe de acompanhar os próximos artigos da Telemedicina Morsch. Clique aqui para assinar a newsletter e compartilhe o conteúdo com os seus amigos.