Desafios e vantagens do uso da nanotecnologia na área da Saúde

Por Dr. José Aldair Morsch, 25 de dezembro de 2020
Desafios e vantagens do uso da nanotecnologia na área da Saúde

Você sabe como a nanotecnologia influencia a área da saúde?

Por mais que as práticas médicas tenham se tornado cada vez mais avançadas e impulsionadas pelas novas tecnologias, muitos ainda acreditam que a nanomedicina é um conceito reservado para um futuro distante.

Idealizada na década de 1970 e criada no Japão, a nanotecnologia tem avançado exponencialmente nos últimos anos, promovendo soluções que já auxiliam os especialistas na atualidade e que devem revolucionar ainda mais o segmento médico.

Entre as práticas mais promissoras na área estão aquelas ligadas à:

  • Descontaminação de ambientes;
  • Combate de bactérias e vírus;
  • Desenvolvimento de medicamentos mais eficientes;
  • Regeneração de tecidos.

Inclusive, as possibilidades regenerativas da nanotecnologia já trazem perspectivas promissoras para a cura de males como o Alzheimer e o câncer.

Além disso, os métodos pouco invasivos e com uma capacidade mais profunda de interação com o organismo humano tendem a favorecer a velocidade de diagnósticos como o de HIV, que poderá ser feito em menos de uma hora, a desobstrução não invasiva de coágulos, para evitar casos de AVC, por exemplo, entre outras inúmeras possibilidades.

Mas, você sabe qual é a lógica por trás destes avanços e quais as frentes de atuação da nanotecnologia que realmente vão impactar os médicos nos próximos anos? Descubra a seguir!

Como a nanotecnologia favorece a medicina?

Antes de compreender como a nanotecnologia influencia a área médica, é importante esclarecer as peculiaridades do conceito.

Em poucas palavras, ela se refere às pesquisas e ações científicas aplicadas às tecnologias invisíveis a olho nu, que operam por meio de processadores microscópicos.

Graças ao tamanho extremamente reduzido, os nanorobôs podem ter acesso às células e estruturas biológicas mais profundas, que não podem ser alcançadas por meios tradicionais ou que exigem métodos muito invasivos para tal.

Como a nanotecnologia favorece a medicina?

Seja pela injeção de pílulas, injeções na corrente sanguínea, ou outros métodos semelhantes, a nanotecnologia permite que diagnósticos, intervenções e tratamentos se tornem menos invasivos, e também mais eficientes.

Por exemplo, em diagnósticos que antes eram demorados, como o supracitado teste de HIV, a tecnologia microscópica pode ser utilizada para análises muito mais rápidas e precisas, feitas por meio de análises internas no corpo do paciente.

Além disso, a possibilidade de manipular moléculas biológicas amplia as possibilidades de recuperação, já que pode ser aplicada às mais diversas estruturas biológicas afetadas.

Inclusive, a nanotecnologia não só promove novas soluções e ferramentas de saúde, como também favorece pesquisas e descobertas antigas.

Um célebre exemplo é a técnica da Espectroscopia Raman de Superfície Aprimorada, que permite detectar vírus em apenas 1 minuto por meio de nanobastões e raios laser, utilizados para refletir DNAs e RNAs virais.

Apesar de ter sido criada em 2006, foi só com os recentes avanços na área de nanotecnologia que sua aplicação se tornou mais viável e difundida ao redor do mundo!

Muito além deste caso específico, a nanomedicina é repleta de possibilidades e aplicações. Confira alguns dos principais exemplos práticos sobre como funciona a nanotecnologia na medicina:

Microssondas para testes sanguíneos

Além da supracitada aplicação da nanotecnologia para a desobstrução de vasos sanguíneos, há também a possibilidade de utilizá-la na circulação a fim de obter diagnósticos mais rápidos, assertivos e menos invasivos.

Isso será possível através de microssondas, que poderão ser aplicadas por via intravenosa para analisar as condições do plasma, das hemácias, leucócitos, plaquetas, entre outros componentes e estruturas.

Descontaminação de um ambiente

Outra aplicação muito importante da nanotecnologia é ligada à descontaminação de ambientes hospitalares, de materiais médicos e cirúrgicos, entre diversos outros itens que podem ser vetores de contaminações.

Um estudo de 2010, que trata sobre nanomateriais e a questão ambiental, concluiu que a nanoprata é o material mais proeminente para aplicações comerciais de desinfecção.

Graças à sua excelente ação bactericida, ela vem sendo cada vez mais utilizada em instrumentos cirúrgicos, próteses ósseas, implantes, entre outros itens médico-hospitalares.

Além disso, a nanoprata está sendo incorporada em produtos utilizados nos ambientes de tratamento, como:

  • Recipientes para alimentos;
  • Aparelhos de ar condicionado;
  • Tecidos;
  • Nos próprios sapatos e roupas dos médicos;
  • Em pastas dentais, entre outros.

Novas drogas artificiais

A nanotecnologia também promete transformar as formas com que as drogas são desenvolvidas e agem no corpo humano.

Os principais avanços na área são baseados em proteínas, capazes de emitir determinados sinais para as células, para que a ação medicamentosa possa agir apenas no segmento do organismo em que ela for necessária.

Levando em consideração que muitos remédios são dissolvidos antes mesmo de atingirem as células em que precisam agir, esta é uma possibilidade muito importante.

Quem lidera as pesquisas no segmento farmacêutico de nanotecnologia são os pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology, que acreditam que as drogas precisam ser produzidas apenas nas áreas biológicas em que são necessárias.

Regeneração e desenvolvimento de tecidos

Por meio da nanotecnologia, pesquisadores já conseguem criar nanorobôs a partir de segmentos de DNA, que conseguem fazer com que as células se comportem de maneira específica.

Por exemplo, na Harvard Medical School, os cientistas conseguiram fazer com que células de linfoma e leucemia se destruíssem sozinhas, a partir da ação destes nanorobôs.

A tendência é que essa nanotecnologia permita não só regular a atividade celular e regenerar tecidos, como também examinar o DNA dos pacientes.

Na mesma área, nanopartículas também possibilitam a criação de tecidos biológicos e sintéticos para transplante.

Como eles são desenvolvidos em escala atômica, é possível garantir maior compatibilidade com o organismo dos pacientes, reduzindo significativamente as chances de rejeição.

Destruição de vírus e bactérias

Voltando à nanoprata, pesquisas também indicam seu uso para intervenções contra infecções bacterianas.

Porém, o desafio é garantir que os procedimentos sejam seguros e realmente eficientes, com variações de nanopartículas voltadas a tipos específicos de microorganismos.

Já no combate dos vírus, os químicos zwitteriônico e o amino são os mais promissores, já que possuem dupla funcionalização.

De acordo com o artigo “Dual Functionalization of Nanoparticles for Generating Corona-Free and Noncytotoxic Silica Nanoparticles”, voltado aos estudos do coronavírus, o desafio na área é encontrar a proporção ideal entre os dois agentes.

Isso porque, com a dupla modificação, é possível alterar a superfície das partículas para que elas possam evitar a formação de proteínas dos vírus, ao mesmo tempo em que garantem a estabilidade coloidal do fluxo de sangue.

Desobstrução de veias e artérias

Por meio de nanodispositivos, veias e artérias poderão ser desobstruídas de forma rápida, segura, fácil e nada invasiva.

Esse tipo de nanotecnologia será capaz de abrir um pequeno canal nas regiões afetadas, com o uso simultâneo de agentes anticoagulantes que agirão nas células bloqueadas.

Isso será especialmente importante no tratamento de AVCs, com a desobstrução de coágulos sanguíneos alocados no cérebro.

Atualmente, os tratamentos na área são altamente agressivos e não garantem a cura dos pacientes. Com a nanotecnologia, a tendência é que esse tipo de condição se torne muito menos complexa graças à ação dos dispositivos.

Controle de medicamentos

Além de viabilizar a criação de novas soluções medicamentosas, a nanotecnologia também otimizará o uso de drogas já existentes.

Isso porque, nanopartículas serão capazes de direcionar as substâncias dos remédios exatamente para as células que precisam do tratamento.

Isso reduzirá a incidência de efeitos colaterais e aumentará significativamente os benefícios obtidos através dos medicamentos.

Tratamento do Câncer

No tratamento de câncer, a nanotecnologia permitirá que os diagnósticos sejam mais precoces e precisos. Além disso, o combate das células cancerígenas será mais específico e causará menos danos colaterais aos pacientes.

Entre os avanços mais promissores, está a inserção de nanotubos no organismo. Eles são utilizados em conjunto com um laser, capaz de matar apenas as células comprometidas, sem atingir as saudáveis.

Agora que você já conhece algumas das aplicações mais avançadas da nanotecnologia na medicina, entenda melhor os seus benefícios!

Quais benefícios a nanotecnologia agrega para a área da saúde?

Quais benefícios a nanotecnologia agrega para a área da saúde?

O mercado da nanomedicina cresce 14% todos os anos!

Muito além de viável e em vias de se tornar mais acessível, a nanotecnologia possui benefícios muito significativos, capazes de elevar a atuação médica a um patamar ainda mais elevado de precisão, assertividade e excelência. 

Acompanhe:

Assertividade nos diagnósticos

Graças a nanodispositivos capazes de coletar milhares de informações no organismo dos pacientes, a nanotecnologia permitirá um diagnóstico muito mais preciso e precoce de inúmeros tipos de patologias.

Mais do que isso, ela permitirá um melhor acompanhamento de doenças preexistentes, assim como um tratamento mais assertivo, além de monitorar a eficácia de determinadas intervenções, entre outras possibilidades semelhantes.

Segurança nas prescrições

Graças aos diagnósticos mais sensíveis e precisos, os médicos poderão determinar precisamente onde ocorrem certas patologias e quais são as suas principais características.

Com isso, a eficiência dos tratamentos será significativamente melhorada, com prescrições muito mais assertivas e alinhadas às reais necessidades de saúde dos indivíduos.

Redução do tempo de tratamento

Seguindo o item anterior, uma vez que os tratamentos se tornam mais assertivos, eles também tendem a ser mais curtos e menos nocivos aos pacientes.

Isso melhora o bem-estar e a qualidade de vida dos indivíduos, reduz os custos médicos característicos das longas intervenções e ainda diminui a necessidade de uso de medicamentos, que podem gerar efeitos colaterais.

Melhorias na segurança de equipamentos

Outro ponto que merece destaque especial é a influência que a nanotecnologia tem sobre a produção de novos equipamentos médicos.

Além da nanoprata, citada acima no artigo, o óxido de zinco também é cada vez mais utilizado na produção de bisturis, seringas e itens hospitalares em geral.

Por meio deles, a proliferação de microorganismos é impedida com muito mais facilidade e eficiência. Assim, agrega mais segurança para médicos e pacientes.

Com todos os pontos destacados até aqui, é indiscutível o papel da nanotecnologia para o avanço da medicina!

Porém, como em todas as áreas, ela também pode trazer alguns riscos e exige certa cautela. Saiba mais no item seguinte.

Existem riscos ligados à nanotecnologia na medicina?

Assim como todas as outras inovações na área da saúde, a nanotecnologia ainda precisa percorrer um longo caminho para que seja devidamente aprimorada.

A maior preocupação está ligada ao campo que lida com alterações genéticas, uma vez que trata-se de um campo relativamente novo e com possíveis efeitos adversos ainda desconhecidos em longo prazo.

Além disso, a má orientação ou condutas médicas equivocadas também podem trazer riscos, já que a ação dos microdispositivos pode acabar prejudicando células saudáveis ou alterar processos biológicos.  

Existem riscos ligados à nanotecnologia na medicina?

A nanotecnologia aplicada à medicina é muito promissora, mas depende de cautela e plena atenção aos padrões éticos e de segurança, para que possa cada vez mais trazer benefícios e novas possibilidades para a saúde da população!

Conclusão

De todas as tecnologias em saúde, a nanotecnologia é a área que promete trazer as transformações mais profundas para todo o segmento médico. Gerando vantagens muito significativas para pacientes e ampliando as possibilidades de atuação dos especialistas.

Suas aplicações e benefícios ainda estão em processo de desenvolvimento e expansão, mas todas as possibilidades apresentadas ao longo do artigo comprovam que se trata de uma realidade que chegou para ficar.

Isso significa que, em um futuro próximo, a nanotecnologia será uma constante em hospitais, consultórios, clínicas, salas de cirurgia, centros diagnósticos, entre muitos outros pontos de atendimento à saúde!

Para se preparar para essa nova realidade, os especialistas precisam mais do que nunca se manter atentos aos avanços e inovações relacionados às tecnologias médicas.

Aquilo que hoje parece distante e restrito apenas a poucos pesquisadores, logo se tornará indispensável para a medicina como um todo e também para atender aos padrões de saúde, bem-estar e qualidade de vida que vão ditar as sociedades do futuro!

Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin