Intervalo PR: o que é, como medir e quando é considerado normal?

Por Dr. José Aldair Morsch, 4 de agosto de 2023
Intervalo PR

Identificar e avaliar o intervalo PR é indispensável para a correta interpretação do eletrocardiograma.

Afinal, trata-se de um trecho importante para a condução atrioventricular normal.

Quando alterado, sinaliza patologias como o bloqueio atrioventricular (BAVT).

Se deseja aprofundar os conhecimentos sobre o que representa o intervalo PR, suas características e como medir esse trecho, avance na leitura.

Você ainda vai ficar por dentro das vantagens do telediagnóstico para otimizar os resultados do ECG.

O que é intervalo PR?

Intervalo PR é o trecho que vai do início da onda P até o começo do QRS.

Ou seja, a parte do traçado do ECG que compreende a despolarização atrial, passagem do impulso elétrico pelo nó atrioventricular e início da despolarização ventricular (representada pelo complexo QRS).

Antes do intervalo PR, ocorre a formação do estímulo elétrico no nó sinusal e sua passagem para o átrio direito.

Durante esse trecho, o impulso se propaga pelo átrio esquerdo e nó AV.

Ali, sofre um pequeno retardo antes de seguir para as câmaras cardíacas inferiores (ventrículos).

Por fim, a corrente elétrica atrai íons de cálcio para dentro das células cardíacas, provocando a contração do miocárdio ventricular – e o envio do sangue a todo o organismo.

Quanto o ritmo é sinusal, cada ciclo ou batimento dura cerca de 0,19 segundo.

Como medir intervalo PR?

Para medir o intervalo PR corretamente, considere o trecho onde a onda P começa e vá até a onda Q – que indica o começo de QRS.

Se estiver utilizando o papel quadriculado para analisar o traçado do eletrocardiograma, normalmente o intervalo PR corresponde a 3 a 5 quadradinhos.

Desde que não haja alterações no trecho e o exame tenha sido feito em um paciente adulto jovem e saudável, com FC entre 50 e 100 bpm.

Isso porque o intervalo PR varia conforme a idade e a frequência cardíaca.

Qual é o intervalo PR normal?

De acordo com as diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Análise e Emissão de Laudos Eletrocardiográficos, numa relação atrioventricular (AV) normal:

“O período do início da onda P ao início do QRS determina o intervalo PR, tempo em que ocorre a ativação atrial e o retardo fisiológico na junção atrioventricular (AV), cuja duração é de 0,12s a 0,20s”.

Outras características do ECG em ritmo sinusal são:

  • Batimentos formados pela sequência onda P, complexo QRS e onda T
  • Surgimento da onda P no nó sinusal
  • Onda P arredondada e suave, durando menos de 0,10 segundo (2,5 mm) e com voltagem máxima de 0,25 mV
  • Onda Q negativa, com menos de 0,04 segundo de duração e 2 mm de profundidade
  • Complexo QRS composto por três ondas, uma positiva (R) e duas negativas (Q e S), com duração total de 0,06 a 0,10 segundo
  • Onda T assimétrica, com amplitude máxima inferior a 15 mm nas derivações precordiais, e menor que 5 mm nas derivações periféricas.

Vale também conhecer os parâmetros do intervalo PR curto e aumentado.

Intervalo PR curto

É caracterizado por um período menor que 0,12 segundo entre o início da onda P e do complexo QRS.

Intervalo PR aumentado

Nesse caso, há um prolongamento do trecho, que fica maior que 0,2 segundo.

Geralmente, o intervalo PR aumentado resulta de bloqueio AV de primeiro grau.

Já o aumento progressivo sinaliza bloqueio AV de segundo grau tipo I (Mobitz I), e o bloqueio repentino da onda P caracteriza bloqueio AV de segundo grau tipo II (Mobitz II).

Sintomas de intervalo PR curto

O intervalo PR curto pode ser reflexo de diferentes anormalidades, tais como ritmo atrial ectópico ou juncional.

Porém, uma das mais comuns é a síndrome de Wolff-Parkinson-White (WPW).

A apresentação clássica do WPW no ECG é possuir um intervalo PR curto e onda delta, conforme imagem abaixo.

Registro de Holter de ECG com Wolf-Parkinson-White

Ainda sobre o WPW, conforme publicação do Núcleo de Telessaúde HC UFMG, tem como manifestações clínicas:

Reforçando os achados eletrocardiográficos ho WPW no ECG, o intervalo PR deve ser menor do que 120 ms nos adultos ou 90 ms nas crianças, o ECG para esses casos ainda apresenta QRS alargado, com empastamento em sua porção inicial (onda delta) e porção final normal.

Também surgem alterações secundárias do ST-T, geralmente opostas à polaridade da onda delta.

Intervalo PR curto é grave?

Nem sempre. Algumas vezes, o PR curto está associado a alterações sem significado clínico e inespecíficas.

Daí a necessidade de avaliar todos os pontos do ECG e combinar os achados com o exame clínico para formular o diagnóstico.

Ainda que o paciente tenha WPW, há quadros de menor e maior gravidade.

Intervalo pr no ecg

Para medir o intervalo PR corretamente, considere o trecho onde a onda P começa e vá até a onda Q

Tratamento para pacientes com intervalo PR curto

Quando possível, o tratamento mais indicado para a síndrome WPW é a ablação por cateter.

O tratamento farmacológico também pode ser útil, utilizando antiarrítmicos como a adenosina para diminuir os episódios de taquicardia e os sintomas.

Por consequência, reduzir o risco de eventos críticos como a morte súbita.

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Conclusão

Abordei ao longo deste texto as características do intervalo PR normal e anomalias de interesse na avaliação do eletrocardiograma.

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Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin