O que é e quais são os principais indicadores da Desospitalização

Por Dr. José Aldair Morsch, 15 de setembro de 2020
Conheça a desospitalização e como ela pode auxiliar a recuperação de pacientes

A desospitalização é uma metodologia que vem sendo cada vez mais adotada por hospitais, clínicas e profissionais de saúde. 

Seu objetivo é garantir os cuidados paliativos a pacientes em estado clínico considerado estável, sem que haja a necessidade de mantê-los internados. 

Mas o que é desospitalização? É uma maneira mais humanizada de prosseguir o tratamento de enfermos. 

Trata-se de uma tendência mundial que se baseia na ética e no respeito pela dignidade do ser humano, uma vez que o ambiente hospitalar por si só pode tornar a recuperação mais lenta e triste. 

Ou seja, ao criar o protocolo de desospitalização, parte-se do princípio de que o ambiente influencia diretamente na melhora da saúde do paciente

Logo, a metodologia visa promover mais saúde e bem-estar para quem precisa passar por um tratamento à longo prazo, mas não necessariamente necessita ser controlado 24 horas por dia. 

Neste conteúdo, você saberá tudo sobre desospitalização hospitalar, incluindo mais informações sobre seu conceito, sua importância e benefícios para pacientes, profissionais de saúde e clínicas. 

Mostrarei, também, um breve panorama da desospitalização no Brasil e no mundo, pontuando os principais desafios e como colocá-lo em prática de forma segura e eficiente. 

Desospitalização: o que é? 

O conceito de desospitalização é ampla, mas podemos defini-la como a assistência domiciliar realizada por profissionais de saúde, mediante o estabelecimento de prazos e metas a serem cumpridas diariamente, visando prestar um serviço de excelência. 

A intenção por trás da desospitalização precoce é garantir um acompanhamento profissional a pacientes que necessitam de tratamento, sem que isso envolva as possíveis infecções que podem ocorrer ao longo da internação hospitalar.

Esse acompanhamento passa a ser realizada em casa ou clínicas familiares – o que justifica o fato da desospitalização também ser conhecida como home care.

Dentro do ambiente familiar, o paciente costuma ser menos resistente às orientações e tratamentos visando sua cura ou melhora significativa dos sintomas e do quadro. 

Logo, a desospitalização tende a oferecer uma recuperação mais rápida e menos dolorosa, uma vez que o apoio e a proximidade familiar também fazem com que ele se sinta mais protegido e amado. 

Isso sem falar do conforto e da segurança de não ficar preso em um quarto de hospital. 

A prestação de serviço de saúde nessa modalidade costuma ser realizada de forma multidisciplinar, de acordo com a doença a ser tratada e as necessidades do paciente. 

Ela pode incluir: 

  • Enfermagem;
  • Psicólogos;
  • Cuidados de idosos;
  • Fisioterapeuta;
  • Clínico geral;
  • Terapeuta;
  • Nutricionista;
  • Fonoaudiólogo;
  • Especialista relacionado a doença em questão, como cardiologista. 
A desospitalização traz mais conforto e otimiza o tempo de recuperação do paciente

Um ponto fundamental é o atendimento humanizado, com profissionais que vão entender suas necessidades para auxiliarem da melhor forma.

Qual a importância da desospitalização home care

A desospitalização é importante por diversos motivos, sendo um dos principais o fato de permitir que o paciente possa realizar o seu tratamento com mais conforto e de forma humanizada.

A recuperação tende a ser mais rápida, tendo em vista que é elaborado um projeto de desospitalização, com estratégias e manobras consideradas essenciais para que a sua saúde não seja agravada. 

É importante mencionar outros benefícios, como a redução no tempo de internação, minimizando os riscos de ocorrerem infecções hospitalares, bem como gerando menos desgaste ao paciente. 

Isso não significa que o paciente não poderá ficar internado, mas sim que a desospitalização será realizada no momento em que ele está apto a receber tratamento domiciliar.  

O atendimento mais humanizado é outro ponto importante, pois o paciente passa a ter dedicação exclusiva dos profissionais de saúde.

Isso permite que os médicos compreendam melhor suas necessidades e, em meio ao profissionalismo, consigam supri-los com mais atenção e afeto. 

O contato com familiares e amigos é outro fator que torna a desospitalização de pacientes crônico importante, pois uma das queixas mais comuns de pacientes internados é a solidão, uma vez que há limitação de horário de visita. 

Panorama da desospitalização no Brasil e no mundo 

Os primeiros registros da modalidade que se tem conhecimento remetem à década de 1980, nos Estados Unidos, sendo que no Brasil, ela se tornou conhecida apenas depois de 1990.

Um marco para a desospitalização hospitalar foi uma matéria publicada em 1997, na Folha de São Paulo.

Nela, a modalidade foi descrita como sendo o pilar central da revolução que estava ocorrendo no setor de saúde.

Embora a frase parecesse exagerada na época, ela foi embasada nas primeiras experiências mundiais nesse sentido, que foram capazes de reduzir os leitos das instituições de forma substancial.

Além dos Estados Unidos, Canadá e Holanda também já estavam avançados rumo à desinstitucionalização médica. 

Desde então, o Brasil continua organizando o fluxograma de desospitalização, para que especialmente os pacientes do Sistema Público de Saúde possam ter seus cuidados realizados fora das organizações. 

Porém, por não haver uma regulamentação específica para tal modalidade, ainda há muito caminho a percorrer para que o home care se solidifique no país. 

Quais os principais desafios da implementação da desospitalização no Brasil? 

O maior desafio gira em torno da falta de legislação para a prática por parte da Anvisa, reguladora vinculada ao Ministério da Saúde. 

Sem instruções e regras claras, a forma com que a desospitalização de pacientes crônicos é realizada fica a cargo de regras municipais ou estaduais, não havendo um padrão a ser seguido por todos. 

Isto torna a sua implementação frágil, pois não conta com processos e critérios claros, baseando-se em análises concretas.

Além disso, o projeto de desospitalização ainda é considerado complexo, uma vez que depende de consenso entre a gestão da instituição, os profissionais de saúde, os pacientes e seus familiares.

A questão social das famílias é outro desafio, pensando na continuidade dos cuidados. 

Muitos familiares e acompanhantes desaprovam a ideia muitas vezes por não contarem com uma estrutura adequada para realiza o home care. 

Sem falar que, por mais que a desospitalização reduza os custos hospitalares, ela acaba aumentando os do paciente – que nem sempre possui capacidade financeira para tal. 

Um estudo demonstrou que, em caso de desospitalização, pode haver o abandono de emprego dos familiares, a necessidade de conciliar as atividades domésticas com o cuidado, a modificação nos horários e no próprio ambiente e, ainda, dificuldades relacionadas ao lazer. 

Tudo isso faz com que as famílias ainda prefiram que os pacientes sejam atendidos em hospital, mesmo que o cenário não seja o mais adequado para a sua saúde e recuperação. 

Motivos pelos quais vale a pena apostar na desospitalização 

Mesmo que o cenário ainda seja desafiador, a desospitalização segue sendo considerada uma das grandes tendências mundiais. 

Alguns motivos que justificam essa afirmação são: 

Crescimento no número de pessoas idosas

Segundo o IBGE, o número de idosos cresceu 18% no Brasil em 2018. A estimativa é que, em 2030, o país tenha a 5ª população mais idosa do mundo, sendo que, em 2050, ela deverá ser composta por 2 bilhões de pessoas. 

Esses números por si só demonstram a importância de repensar o formato de internação, oferecendo um olhar mais humanizado dentro das clínicas visando bem-estar e maior qualidade de vida. 

Mudança no perfil das doenças 

Ao longo dos anos, houve maior prevalência das doenças crônicas sobre as agudas, como: 

  • Diabetes;
  • Hipertensão;
  • Hepatite;
  • Câncer.

Logo, o acompanhamento contínuo vem se sobressaindo às intervenções rápidas, o que pode ser solucionado através da desospitalização home care.

Altos custos com saúde 

Se a população idosa está aumentando, o mesmo ocorre com os gastos do setor de saúde nacional, uma vez que o custo assistencial nessa faixa etária é bem maior que dos mais jovens. 

Nesse cenário, investir em um formato alternativo de atendimento e monitoramento acaba sendo altamente benéfico para o bolso dos hospitais. 

Necessidade de um atendimento mais humanizado 

Oferecer modalidades que não levam em conta apenas o estado de saúde, mas também as necessidades psíquicas do paciente é uma tendência no país – vide o HumanizaSUS

Cada vez mais é preciso que laboratórios, clínicas e hospitais pensem em todo o contexto, visando unicamente a qualidade de vida das pessoas. 

Por este motivo, o home care é visto como algo tão benéfico, pois fortalece o emocional de quem necessita de atendimento, podendo influenciar diretamente na sua recuperação.

Nas duas modalidades existentes, um profissional especializado fará o auxílio do paciente.

Conheça os dois tipos de desospitalização: o atendimento domiciliar e o hospital de apoio.

Quais as modalidades existentes de desospitalização segura? 

Existem basicamente duas modalidades de continuação do tratamento fora do ambiente hospitalar. São elas: 

1. Atendimento domiciliar 

É o home care propriamente dito, em que o tratamento é realizado na própria casa do paciente, contando com a assistência dos profissionais de saúde necessários, como médicos e enfermeiros. 

Geralmente, o acompanhamento domiciliar é indicado tanto para assistência quanto internação, ambos se assemelhando ao que seria efetuado dentro do ambiente hospitalar. 

2. Hospital de apoio 

Trata-se de um meio termo entre a internação tradicional e o tratamento em casa, sendo indicado para quem não conta com um ambiente domiciliar seguro e, ao mesmo tempo, não necessita de uma grande infraestrutura à disposição, como a de um hospital.

Geralmente, os pacientes que melhor se enquadram nesse formato são os que possuem distúrbios já estabilizados, sem riscos de piora, ou que precisam de cuidados paliativos, como nos casos de doenças crônicas, cujos medicamentos apenas minimizam os sintomas. 

Nas duas modalidades, há o acompanhamento de um profissional da saúde, seja um médico ou enfermeiro, uma vez que é preciso continuar com os cuidados especializados.

Passo a passo para implementar o fluxograma de desospitalização 

É possível implementar a desospitalização através do GAMAH (Grupo de Atenção Multidisciplinar a Alta Hospitalar).

Ele é desenvolvido em 3 etapas: 

1. Análise e diagnóstico 

Consiste em avaliar os dados disponíveis na instituição, incluindo: 

  • Indicadores assistenciais, como perfil do paciente, custos, tempo de internação e reinternação precoce;
  • Processos relacionados à transição para o cuidado domiciliar;
  • Análise do perfil e da capacitação dos profissionais que irão compor o GAMAH;
  • Definição de métricas, que deverão ser avaliadas conforme o desfecho, os processos e a estrutura;
  • Escolha das ferramentas para a coleta posterior das métricas.

2. Implementação 

Nesta etapa, é definida as rotinas de atuação do GAMAH, estipulando prazos para o início da atuação multidisciplinar. 

Na admissão e alta hospitalar, deve ser iniciada a reconciliação medicamentosa, sendo imprescindível avaliar quais os pacientes possuem maior risco de nova internação. 

Ainda nessa fase, é escolhido e capacitado um médico para coordenar o projeto de desospitalização, assim como selecionado métodos e treinamentos para todo o corpo clínico que estará envolvido. 

Para garantir o sucesso da desospitalização, há a análise de indicadores antes e após a implementação do GAMAH, realizando os ajustes necessários de processos e seleção de pacientes. 

3. Consolidação e monitoramento

Nessa fase, é realizado o monitoramento de forma presencial e à distância, através de videoconferência, para garantir que a performance do GAMAH está dentro do esperado.

Para incentivar e aprimorar ainda mais essa modalidade no país, os participantes são estimulados a enviarem trabalhos científicos para congressos e publicações científicas. 

Além disso, é sugerida a implementação de oficinas de cuidadores, a fim de garantir um maior engajamento para garantir o bem-estar do paciente em home care. 

Indicadores de desospitalização que devem ser acompanhados 

Existem alguns indicadores assistenciais importantes de serem acompanhados, pois são eles que determinam a possibilidade de adotar a desospitalização e, principalmente, obter êxito nela. 

Os principais são: 

  • Perfil do paciente;
  • Tempo de internação;
  • Reinternação precoce;
  • Satisfação do paciente e da sua família;
  • Custos relacionados à assistência;
  • Reconciliação medicamentosa. 

Principais vantagens dessa prática para pacientes, profissionais de saúde e instituições 

No dia a dia, temos de um lado os gestores, preocupados em manter a saúde financeira das instituições. Por isso, estão sempre buscando alternativas para reduzir gastos e otimizar as atividades. 

Do outro lado estão os pacientes, que buscam por atendimento que de fato valorizem o cuidado e a vida. É neste cenário que a desospitalização surge, visando aliar as expectativas de todos. 

Confira as principais vantagens para os principais envolvidos no tratamento de saúde: 

Pacientes 

  • Fortalecimento do seu estado emocional, devido à maior proximidade com familiares e amigos;
  • Menos riscos de contágios de outras doenças e infecções hospitalares;
  • Atendimento individualizado e dentro das suas necessidades reais;
  • Conforto de estar na sua casa.

Instituição de saúde 

  • Menos custos com eventuais tratamentos durante a internação;
  • Mais leitos à disposição;
  • Possibilidade de atender mais pacientes, especialmente os casos urgentes;
  • Redução das filas para atendimento.

Profissionais de saúde 

  • Novos aprendizados profissionais, uma vez que passa a trabalhar em um formato novo;
  • Aproximação com os pacientes;
  • Possibilidade de ampliar a quantidade de atendimentos, especialmente em caso de acompanhamento online.
Através da telemedicina, a desospitalização ganha eficiência por contar com um sistema centralizado para guardar as informações.

Por ser um atendimento remoto, a telemedicina traz ainda mais conforto para pacientes e profissionais da saúde.

Como a telemedicina pode ser útil no processo de desospitalização? 

Uma das formas de atender os pacientes que passaram pela desospitalização é através da telemedicina, que nada mais é do que o atendimento médico remoto. 

Através de uma plataforma específica de telemedicina, é possível oferecer atendimento especializado, conforme a necessidade do paciente. 

Como todos os dados ficam registrados em um prontuário eletrônico, incluindo exames e medicamentos administrados, o acompanhamento se torna ainda mais eficiente e seguro. 

Isso porque o profissional acessa uma ficha completa com histórico clínico, podendo realizar as manobras necessárias de forma humanizada e direcionada. 

Esse movimento tecnológico, focado no atendimento remoto, é conhecido como Saúde 4.0 e vem ganhando cada vez mais destaque por facilitar o contato entre profissionais de saúde e pacientes.

Na plataforma da Telemedicina Morsch, por exemplo, há o chamado Marketplace Médico, em que os profissionais se cadastram para que, quem busca atendimento através dela, o encontre e realize o agendamento on-line. 

Conclusão 

A desospitalização de paciente crônicos é uma modalidade que vem ganhando destaque no Brasil e no mundo.

Ela consiste em uma assistência domiciliar realizada por profissionais de saúde, permitindo que o paciente fique mais próximo da família e dos amigos – favorecendo na sua recuperação e manutenção do bem-estar.

Neste conteúdo, eu expliquei mais sobre o conceito e mostrei a importância que ele possui para todos os envolvidos.

Abordei as modalidades de desospitalização segura existentes e como colocá-las em prática através do método GAMAH. 

Além disso, pontuei o fato da telemedicina ser um aliado nesse momento, uma vez que garante atendimento remoto com mais eficiência e segurança. 

Quer saber mais sobre o assunto? Baixe agora mesmo o Guia Prático da Telemedicina que eu criei, onde apresento as vantagens e desvantagens de aderir a ela.

Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin