O que é dermatite atópica e como identificar, tratar e prevenir?

Por Dr. José Aldair Morsch, 13 de julho de 2021
O que é dermatite atópica e como identificar, tratar e prevenir?

A dermatite atópica é uma doença relativamente conhecida entre a população, que geralmente ocorre em bebês.

Por mais que a maioria das manifestações surjam nos primeiros anos de vida, a condição também pode afetar jovens e adultos, e é fundamental garantir seu devido tratamento.

Isso porque, se não tratada, a patologia pode se tornar cada vez mais resistente e intensa. Ou ainda levar a complicações mais graves, como infecções, neurodermite e até perda de visão.

Mas, o que é dermatite atópica, quais as suas causas, como reconhecer seus sintomas, fazer o diagnóstico, preveni-la e tratá-la adequadamente? Descubra, a seguir. 

O que é dermatite atópica? 

A dermatite atópica, ou eczema atópico, é uma condição crônica de pele que afeta principalmente bebês e crianças, mas que também pode acometer adultos.

Ela causa ressecamento na pele, coceira e surgimento de áreas vermelhas e com inflamação, principalmente nos cotovelos e joelhos. 

Inicialmente, acreditava-se que a patologia era alérgica e tinha relação com outras atopias. Contudo, hoje sabe-se que sua causa mais provável é o defeito genético em uma proteína da derme, que favorece o surgimento dos sintomas e da inflamação crônica. 

De acordo com dados publicados no Pebmed, a dermatite atópica tem uma prevalência de 15% a 20% entre as crianças e de até 10% nos adultos. 

Trata-se da 15ª doença não fatal mais recorrente, com casos que aumentam gradativamente em países industrializados. Isso porque ela também pode ocorrer por fatores ambientais como a poluição. 

É muito recorrente que as pessoas confundam dermatite com a psoríase, que é outro problema comum de pele. Contudo, enquanto a primeira causa bastante coceira, vermelhidão e irritação na pele, a segunda traz os mesmos sintomas associados a uma forte sensação de queimação.

Ouça o conteúdo deste artigo sobre dermatite atópica no formato de podcast no youtube.

Quais são as causas de dermatite atópica?

Apesar da suspeita dos fatores genéticos que descrevi acima, ainda não se conhece as causas exatas da dermatite atópica

Além disso, acredita-se que ela pode ocorrer por uma combinação de pele irritável e seca com um mau funcionamento do sistema imune.   

Ainda que sua origem não seja bem determinada, sabe-se que alguns fatores externos contribuem para o surgimento das lesões na pele. 

Assim, os principais deles incluem o contato com substâncias irritantes, como roupas de lã, fibra sintética, ácaros, mofo e até perfume. Além de mudanças bruscas de temperatura, estresse, poluição e banhos com água muito quente. 

Alguns dados também apontam que a dermatite atópica é uma patologia hereditária. Se uma criança tiver algum dos pais com condição atópica (como rinite, alergia, asma ou o próprio eczema), as chances de ter a doença são 25% maiores, segundo o Ministério da Saúde

Quais são as causas de dermatite atópica?

Também existem casos que possuem relação com algumas doenças alérgicas na infância, como asma, conjuntivite alérgica, rinite e alergia alimentar.

Vale destacar que a dermatite não é contagiosa e não tem ligação com doenças virais, bacterianas, fúngicas ou de outras origens que possam passar pelo contato entre pessoas.

Principais sintomas de dermatite atópica 

Os sintomas de dermatite atópica variam de acordo com a fase da vida em que a doença ocorre. Essa divisão acontece da seguinte maneira:

  • Infantil, que ocorre dos 3 meses aos 2 anos de idade;
  • Pré-puberal, que ocorre dos 2 anos aos 12 anos de idade;
  • Adulta, que ocorre dos 12 anos de idade em diante.

Durante a fase infantil, as manifestações clássicas da doença trazem lesões descamativas e vermelhidão com prurido intenso e crostas. 

A dermatite atópica no rosto, no couro cabeludo, joelhos e no cotovelo é muito comum nesses casos, sendo que as lesões podem ser extensas e atingir boa parte da derme. 

Nos casos mais agudos, pequenas bolhas no formato de vesículas podem surgir e eliminar material purulento. 

Já na fase pré-puberal, os sintomas característicos são coceira intensa, vermelhidão e espessamento da pele, que surge como placas ásperas na fossa do joelho e do cotovelo, no pescoço, nos tornozelos e/ou nos punhos.

Como essa manifestação resseca a pele e provoca bastante coceira, é normal que surjam feridas pelo ato de coçar constantemente. 

Por fim, na fase adulta, as lesões costumam ser pruriginosas e mais espessas. Normalmente, as áreas são restritas aos pés e às mãos, mas podem surgir manifestações no interior dos cotovelos e dos joelhos. Também é normal que a pele apresente um ressecamento difuso. 

Em todas as situações, o eczema é uma doença inflamatória que pode surgir e desaparecer recorrentemente, com intervalo de meses ou mesmo anos entre as crises.  

A coceira pode irritar ainda mais a pele e causar lesões pelo atrito com a unha, o que aumenta os riscos de feridas bacterianas, com destaque para a bactéria Staphylococcus aureus.

Como é feito o diagnóstico de dermatite atópica?

Como é feito o diagnóstico de dermatite atópica?

A dermatite atópica tem tratamento, feito principalmente por especialistas em dermatologia. Contudo, alergologistas, clínicos gerais e até pediatras são aptos a lidar com a doença.

Nas fases infantil e pré-puberal, é ainda mais importante que haja o atendimento por consulta médica assim que os primeiros sintomas surgirem. 

Em quase todos os casos, o diagnóstico é feito por meio da avaliação dos sintomas do paciente, sendo que exames de rotina são pouco eficazes para sua detecção, que é feita principalmente através dos sinais clínicos. 

O profissional de saúde também precisa considerar o histórico do paciente, seus hábitos e comportamentos, além da frequência com que os sintomas surgem e em quais momentos aparecem, como em situações de estresse ou acompanhados de rinite. 

Quanto mais cedo detectar a doença, melhor é o tratamento e menores são as chances de que surjam complicações.

Entre os principais agravamentos, estão doenças como a neurodermite, problemas para dormir por conta da coceira, descamação da pele e infecções da derme em geral, que podem levar a condições como febre, asma, dor de cabeça e problemas de visão.

Como se dá o tratamento da dermatite atópica?

O principal objetivo do tratamento para a dermatite atópica é controlar os seus sintomas e garantir mais qualidade de vida para os pacientes.

Isso significa que os recursos visam reduzir a intensidade e a incidência da coceira, prevenir recorrências e diminuir as inflamações que acometem a pele. 

Em primeiro lugar, o paciente deve rever seus hábitos e cuidar com os ambientes que frequenta para eliminar os fatores que agravam as lesões, como:

  • Estresse, ansiedade e outros problemas de ordem psicológica;
  • Mudanças muito bruscas de temperatura;
  • Exposição ao excesso de calor ou a locais muito secos;
  • Suor constante na pele;
  • Uso de roupas feitas de lã ou de fibras sintéticas;
  • Contato com produtos de limpeza ou agentes químicos, como cosméticos, perfumes, detergentes, cloro de piscina, sabões e outros semelhantes;
  • Exposição a ácaros, areia, poeira, fumaça de cigarro e outros agentes irritantes.

De acordo com a intensidade e a forma de manifestação da dermatite atópica, se recomenda diferentes intervenções. Confira as suas particularidades:

Hidratação da pele

Pode-se reduzir e prevenir os sintomas do eczema por meio da hidratação da pele.

O ideal é utilizar cremes diariamente após o banho, que tenham pouca água em sua composição.

Os produtos mais populares são Nutraderm, Eucerin e Cetaphil. Além disso, a popular vaselina pode ser uma opção viável.  

Corticoides

Pomadas para dermatite atópica e até sabonetes para dermatite atópica podem ser úteis para minimizar a irritação da pele, pois contam com corticoides em sua composição.

Para os casos leves, se recomenda corticoides tópicos de potência baixa, como hidrocortisona 2,5% e desonida 0,05%.

Já para as manifestações mais graves, são ideais os corticoides de maior potência, como triancinolona 0,1%, dipropionato de betametasona 0,05%e fluocinolona 0,025%. 

Como os corticóides tópicos podem gerar efeitos colaterais, é importante que seu uso seja feito durante poucos dias e se limite às fases agudas da doença. 

Há ainda a possibilidade do uso de corticoides por via oral para dermatite atópica de difícil controle e grave. Contudo, esse tratamento também deve se restringir a poucos dias.

Imunossupressores

Sempre que os tratamentos com pomadas forem necessários por um período maior que 4 semanas, evite o uso de corticóides.

Nessas situações, os médicos recomendam aqueles feitos com imunossupressores à base de pimecrolimus ou tacrolimus. 

Fototerapia

A fototerapia é um tipo de tratamento feito com raios ultravioleta, que pode ser muito eficiente contra a dermatite atópica.

O problema é que essa intervenção tende a ser cara e pode gerar uma série de efeitos colaterais, como o envelhecimento precoce e o aumento dos riscos de câncer de pele.

Por isso, a fototerapia se limita apenas às manifestações mais graves e que apresentam difícil controle.

Dupilumabe

Quando a dermatite atópica moderada ou grave não apresenta uma boa resposta à terapia tópica, se recomenda o uso do anticorpo monoclonal dupilumabe.

É possível também ministrá-lo quando as intervenções via fototerapia não forem  viáveis, sendo que sua administração acontece em intervalos de 2 semanas com injeções subcutâneas.

Cuidados e restrições

É fundamental ressaltar que o uso de agentes imunossupressores, do dupilumabe e da fototerapia não se indica para crianças pequenas e bebês.

Já para as crianças com mais de 6 anos de idade, seu emprego só acontece quando a terapia tópica não traz boa resposta clínica, ou quando a doença impacta severamente a qualidade de vida do paciente. 

Outro ponto importante é que todo tratamento deve ser feito sob recomendação médica e que a automedicação jamais deve ser uma opção.

Dermatite atópica tem cura?

Dermatite atópica tem cura?

É muito importante para os pacientes ter a consciência de que a dermatite atópica não tem cura.

Contudo, o tratamento é de direito do paciente e pode garantir um controle praticamente total dos sintomas, conferindo mais bem-estar, qualidade de vida e menor incidência de crises. 

Além disso, hidratar a pele constantemente é fundamental para reduzir as manifestações e a gravidade da doença, especialmente entre aqueles de derme seca e sensível. 

Inclusive, o uso de hidratantes deve ser diário entre aqueles diagnosticados com eczema. Outros meios preventivos também são importantes, e abordo eles melhor logo abaixo. 

Prevenindo a dermatite atópica

Para prevenir a dermatite atópica, é importante não consumir alimentos sensíveis para o paciente, pois eles podem gerar erupções cutâneas.

Além disso, é fundamental evitar o contato com substâncias e agentes que irritam a pele. No dia a dia, alguns cuidados podem contribuir para que isso seja possível, como:

  • Investir em cobertas impermeáveis e travesseiros de fibra sintética;
  • Evitar tapeçarias e brinquedos de pelúcia;
  • Cuidar com a presença de animais domésticos, que podem ter caspa e aumentar a ocorrência de ácaros;
  • Lavar vestimentas e roupas de cama com água quente;
  • Utilizar desumidificadores de ar para diminuir o mofo;
  • Usar circuladores de ar com filtros de partículas de alta eficiência.

Outros cuidados importantes incluem a redução do estresse e o uso de hidratantes.

Em pessoas com manifestações graves, uma alternativa é a aplicação do antibiótico mupirocina nas narinas e banhos com água sanitária diluída sob orientação médica.

Conclusão

Ao longo deste artigo, você descobriu que a dermatite atópica é uma doença crônica da pele que provoca principalmente ressecamento, coceira, inflamação e vermelhidão. 

Ela atinge principalmente bebês e crianças, mas também pode ocorrer em adultos. Suas causas exatas são desconhecidas, mas sabe-se que é uma condição hereditária e ocorre por agentes irritantes no ambiente. 

Quanto mais cedo o tratamento for feito, mais eficiente ele é contra a intensidade e a recorrência dos sintomas. Por isso, procure um médico assim que os sinais aparecerem, para que o diagnóstico seja feito por meio de observação clínica.

Se você gostou de saber mais sobre a dermatite atópica e quer se manter informado sobre outros temas tão relevantes quanto esse, não deixe de acompanhar nossos próximos artigos.

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Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin