Passo a passo para construir o diagnóstico de enfermagem

Por Dr. José Aldair Morsch, 24 de julho de 2020
Como construir um diagnóstico de enfermagem

O diagnóstico de enfermagem é um processo essencial, tendo em vista que ele permite planejar os melhores cuidados, de acordo com a necessidade real do paciente.

Mas o que é diagnóstico de enfermagem?

É o julgamento clínico que o enfermeiro faz a respeito das respostas atuais e potenciais do indivíduo aos seus problemas de saúde.

Considerado uma das etapas mais importantes da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), é a base para estruturar adequadamente o atendimento.

Atualmente, a grande responsável por categorizar e padronizar o diagnóstico de enfermagem a nível global é a Associação Americana de Diagnóstico de Enfermagem (conhecida como NANDA International ou NANDA-I), 

Através de conferências e livros publicados com frequência, ela visa tornar a análise e as intervenções de enfermagem cada vez mais efetivas e, portanto, benéficas às pessoas.

Neste artigo, você vai conhecer mais sobre a Associação Americana de Diagnóstico de Enfermagem, quando surgiu, seu objetivo, e entender sobre a taxonomia NANDA-I.

Mostrarei, também, os principais tipos de diagnóstico de enfermagem e um passo a passo para realizá-lo de forma mais precisa e eficiente possível.

Além disso, abordarei os erros mais comuns no diagnóstico de enfermagem, para que você passe longe deles.

Boa leitura!

Quando surgiu o diagóstico de enfermagem?

O termo surgiu na década de 50 mas foi nos anos 70 que os diagnósticos foram padronizados.

Quando surgiu o termo diagnóstico de enfermagem?

O termo foi utilizado pela primeira vez em 1953 pela enfermeira americana Vera Fry.

Ela identificou que haviam algumas áreas de necessidades dos pacientes, que deveriam ser levadas em consideração para promover um diagnóstico preciso.

Com o tempo, outras teóricas da área começaram a agregar definições e termos, a fim de identificar os problemas clínicos e sociais mais comuns.

Foi na década de 70, porém, que surgiu a necessidade de criar um sistema oficial para classificar os problemas detectados e tratados pelos enfermeiros.

Com isso, seria possível criar um padrão mundial, direcionando os profissionais e garantindo uma uniformidade nos atendimentos.

Foi aí então que, em 1973, foi realizada a I Conferência Nacional sobre Classificação de Diagnósticos de Enfermagem, onde foram classificados e registrados os primeiros diagnósticos.

E a Associação Americana de Diagnóstico de Enfermagem, quando foi criada?

Ela foi criada em 1982, após a realização da 5ª edição da Conferência Nacional sobre Classificação de Diagnósticos de Enfermagem, em St. Louis, Missouri, nos Estados Unidos.

Sem fins lucrativos, a associação é formada pelas áreas de gerenciamento e administração, contando com voluntários de diversos países.

Oficialmente conhecida como NANDA International (NANDA-I), sua taxonomia é norteada por uma estrutura teórica chamada Padrões de Resposta do Corpo Humano.

É ela que orienta a classificação e categorização do diagnóstico de enfermagem ou das condições que de fato precisam de cuidados dessa área.

Ou seja, ela padroniza a linguagem que o enfermeiro utiliza na descrição ou caracterização dos indícios e sintomas que ele avalia, identifica e trata nos seus pacientes.

É importante reiterar que as conferências da NANDA-I ocorrem a cada dois anos, para que sejam revistos os conteúdos abordados anteriormente e, se necessário, atualizá-los.

Ao fim de cada um desses encontros, as novas ideias relacionadas ao diagnóstico de enfermagem são enviadas ao Diagnosis Development Committee e, se aprovadas, são dispostas em um novo livro – que é lançado em diversos idiomas e adaptado às suas culturas.

Quais as principais diretrizes da associação?

Seu principal objetivo é padronizar a linguagem utilizada no diagnóstico de enfermagem, permitindo que profissionais de todo o mundo adotem os mesmos termos e categorização para o cuidado.

Essa padronização é benéfica porque facilita a troca de conhecimentos e a comunicação como um todo, além de permitir pesquisas e comparações mais aprofundadas e claras.

Segundo a associação, o uso de diagnósticos promove uma melhora substancial em diversos aspectos da prática da enfermagem, pois oferece uma base científica para que o profissional intervenha.

A terminologia padrão, ainda, traz mais segurança ao paciente, pois ele tem a certeza de que o profissional está seguindo as boas práticas estabelecidas a nível global.

Importância da taxonomia NANDA-I

OS diagnósticos são divididos em 3 partes e são classificados em domínios e classes.

Qual a estrutura da taxonomia da NANDA-I?

Esse sistema de classificação já é o mais utilizado no mundo. Ele é composto por:

  1. Título, que deve trazer uma frase curta ou um termo que represente um padrão de indicadores relacionados;
  2. Definição, que consiste em uma descrição clara e precisa do diagnóstico realizado;
  3. Características definidoras, que são as evidências clínicas ou sintomas observados. Elas são agrupadas como manifestações de um diagnóstico de enfermagem – focando no problema, síndrome ou bem-estar.

Na taxonomia da NANDA-I, os focos diagnósticos são classificados em domínios e classes.

Ao todo, ela conta com 234 diagnósticos de enfermagem categorizados, sendo agrupados em 13 domínios e 47 classes.

Quais os principais tipos de diagnóstico de enfermagem?

Existem 4 principais tipos de diagnóstico de enfermagem especificados pela associação. São eles:

1. Diagnóstico com foco no problema

Feita a partir da resposta indesejada do indivíduo frente a condições de saúde ou processos vitais que existe em si, na sua família ou na comunidade.  

Exemplo desse diagnóstico de enfermagem é a troca de gases prejudicada, que, na prática, pode indicar falha na função respiratória, por exemplo, ou uma desobstrução ineficaz das vias aéreas.

2. Diagnóstico de risco

É o risco ao qual um indivíduo, família ou grupo está exposto e que pode levar ao desenvolvimento de respostas indesejáveis para a sua condição de saúde.

O risco de infecção está incluído nesse tipo de diagnóstico de enfermagem.

3. Diagnóstico de promoção de saúde

Tem como principal motivação a promoção de bem-estar e de outros cuidados que melhorem a saúde humana.

Um exemplo é a disposição para melhora do autocontrole.

4. Síndrome

É o agrupamento de diagnósticos que ocorrem juntos e que são melhor manejados em conjunto usando intervenções similares.

Síndrome de estresse por mudança representa bem esse tipo.

Passo a passo para construir um diagnóstico de enfermagem

Agora que você entendeu o que é diagnóstico de enfermagem e a importância que ele tem para uma plena atuação profissional, vou explicar como construí-lo, na prática.

Abaixo vou dispor um passo a passo bem simples, a fim de facilitar o trabalho de qualquer técnico em enfermagem.

Importante conhecer o histórico do paciente,

Etapa muito importante para conhecer o paciente e o que ele está sentindo. Requer conhecimento sobre necessidades humanas.

1 – Coleta de dados direcionada

Trata-se de uma das etapas mais importantes do diagnóstico de enfermagem. Afinal, são esses dados coletados que irão direcionar as demais etapas que se seguirão.

É nesse momento que o profissional conhece o paciente, seu histórico clínico e as repercussões físicas, emocionais, sociais e familiares.

Aqui, a ideia é obter o máximo de informações possíveis sobre ele, especialmente aquelas que demonstrem o seu estado clínico geral.

Para que essa etapa seja cumprida de forma eficaz, é essencial que ela seja realizada de forma abrangente e com a linguagem adequada ao paciente – a fim de criar vínculo com ele.

O ideal é que a coleta seja objetiva e subjetiva, para obter um cenário mais amplo, que poderá influenciar no diagnóstico de enfermagem.

Para isso, a comunicação igualmente deve ser clara, ou seja, é preciso fazer a pergunta certa e, ao mesmo tempo, ser capaz de traduzir a resposta do paciente ou do seu familiar rapidamente.

Do técnico em enfermagem, é exigido que ele tenha conhecimento prévio das necessidades humanas, o que inclui:

  • Respiração;
  • Termorregulação;
  • Conforto físico;
  • Autocuidado;
  • Integridade da pele.

O exame físico também deve ser o mais completo possível, sempre focando nos problemas que pretendem ser investigados.

Exames antigos e prontuários igualmente podem auxiliar na obtenção dos dados necessários.

2 – Análise e agrupamento dos dados

Após os dados serem coletados, é preciso transformá-los em um diagnóstico de enfermagem.

Isso requer capacidade de raciocínio, experiência e pensamento crítico por parte do profissional para que seja possível interpretar exames e tudo que foi coletado junto ao paciente.

Para iniciar esse processo, uma dica é agrupar os dados de acordo com sinais e sintomas e de forma lógica, usando raciocínio clínico, características em comum ou então através de padrões identificados.

Cada um desses agrupamentos deve conter características definidoras e critérios clínicos que foram observados para tal.

Caso esse formato pareça difícil na prática, você pode separar as informações por domínios – que são as necessidades humanas que citei acima, como respiração e autocuidado.

Antes de finalizar essa etapa, é essencial analisar novamente os dados com calma. Separe dados normais de anormais, a fim de verificar se há algo que está faltando nas suas anotações.

3 – Escolha o diagnóstico

Cada diagnóstico na taxonomia NANDA-I possui uma definição clara, que deve ser analisada com cautela antes de ser utilizada. Caso contrário, as chances de ocorrerem erros de diagnóstico na enfermagem aumentam.

Aqui, você pode realizar os seguintes passos:

  • Após criar os grupos, procure o domínio aos quais eles se enquadram;
  • Identifique a classe onde o domínio escolhido pertence;
  • Com essas duas definições, pesquise nos títulos de diagnóstico do mesmo domínio em classe aquele que se encaixa na necessidade diagnosticada;
  • Confira se as informações existentes no diagnóstico estão de acordo com os dados coletados.

Apenas finalize essa etapa os dados baterem.

Caso contrário, retome a análise de domínio e classe para não gerar danos à saúde paciente.

4 – Construa o enunciado do diagnóstico de enfermagem

Cada diagnóstico deve contar com um enunciado claro e preciso, realizando a combinação de critérios necessária para oferecer o pleno entendimento.

Em um diagnóstico com foco no problema, o ideal é aliar título, fatores relacionados e característica definidora.

Um exemplo de enunciado é:

  • Integridade da pele prejudicada relacionada a fatores mecânicos e administração de medicamentos caracterizada por invasão de estruturas do corpo.

No caso do diagnóstico de risco, é possível escrever o título, seguido dos fatores de risco, como:

  • Risco de queda relacionado à idade acima de 70 anos, dificuldades visuais, vertigem ao virar o rosto e uso de diuréticos.

Já no diagnóstico de promoção de saúde, a descrição deve trazer o título e as características definidoras.

Veja um exemplo:

  • Disposição para nutrição melhorada evidenciada por atitude em relação à comida coerentes com as metas de saúde estabelecidas.

Quais os erros mais comuns no diagnóstico de enfermagem?

A padronização criada através da NANDA-I reduziu a incidência de falhas no momento do diagnóstico de enfermagem. Afinal, a falta de critérios definidos abre brechas para interpretações e anotações diversas.

Porém, a existência dos padrões não elimina totalmente as chances de ocorrerem erros, tendo em vista que as etapas são seguidas por pessoas que podem, de alguma forma, fazer algo equivocado.

Nesse cenário, eu posso dizer com clareza que as falhas mais comuns ao longo desse processo são:

  • Conhecimento ineficiente por parte do profissional, fazendo com que ele promova análises equivocadas e, consequentemente, chegue a um diagnóstico errado;
  • Dados ineficientes, imprecisos, errados ou falsos – o que justifica a importância de ter atenção no momento da coleta das informações;
  • Coleta de dados não direcionada para o problema, ou seja, as perguntas são feitas de forma genérica, não permitindo entender mais sobre o problema propriamente dito;
  • Agrupamento incorreto, em que os sintomas são agrupados sem se preocupar em terem características em comum;
  • Conclusão precipitada do diagnóstico, seja por falta de embasamento ou pela necessidade de entregar rapidamente o diagnóstico;
  • Análise, julgamento e/ou interpretação equivocada dos dados, muito comum em profissionais inexperientes;
  • Seleção incorreta do diagnóstico ou enunciado errado, prejudicando o andamento do tratamento do paciente.

Conclusão

O diagnóstico de enfermagem nada mais é do que uma frase padrão descritiva sobre o estado de saúde de um paciente.

Oficializada após a criação da Associação Americana de Diagnóstico de Enfermagem, conhecida como NANDA International, ela criou um padrão a ser seguido pelos profissionais.

Com isso, a troca de conhecimentos e a comunicação como um todo fica facilitada, tendo em vista que, não importa o lugar no mundo, os termos utilizados serão os mesmos.

Outra vantagem da NANDA-I é que ela permite pesquisas e comparações mais aprofundadas e claras.

Sem falar que o paciente se sente mais seguro, sabendo que o profissional está seguindo as boas práticas estabelecidas em nível global, baseando-se em critérios claros.

Para fazer o diagnóstico de enfermagem, é importante dar uma atenção especial à etapa de coleta de dados.

Isso porque é ela que irá influenciar nas demais etapas e, portanto, se forem ineficientes, o restante igualmente será.

Por fim, para um diagnóstico de enfermagem preciso, é importante que o profissional desenvolva análise crítica e raciocínio diagnóstico.

Afinal, de nada se deparar com uma diversidade de dados se ele não é capaz de interpretá-los e transformá-los em um diagnóstico de enfermagem.

Se gostou do conteúdo, compartilhe nas suas redes sociais! Se tiver alguma dúvida, pode entrar em contato comigo!

Não esqueça de conferir os outros conteúdos que eu publiquei no blog, pois eles igualmente podem ajudá-lo de alguma forma.

Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin