Conheça o Holter, também chamado de ECG de longa duração

Por Dr. José Aldair Morsch, 13 de junho de 2015
Holter de ecg digital

Na investigação de arritmias, nada melhor do que indicar um exame de Holter de ecg 24 horas. Mas afinal de contas o que é Holter? Para que serve?

Ao investigar doenças do rítmo cardíaco, o Cardiologista escolhe um exame de coração capaz de detectar alterações no batimento cardíaco que não são vistas no ecg de repouso.

Acompanhe nesse artigo os detalhes sobre o que é holter cardíaco, a diferença com o Mapa de pressão arterial e em que situações ele é escolhido pelo médico cardiologista.

O que é Holter?

O Holter é um monitor portátil que registra a atividade elétrica do coração e suas variações durante as 24 horas do dia.

É um exame complementar ao eletrocardiograma digital para detectar alterações que em geral não aparecem num exame de tempo mais limitado, de alguns minutos, como acontece no ECG em repouso.

Para que serve o ECG de longa duração? 

O Holter cardíaco é um eletrocardiograma de longa duração que grava os batimentos do coração durante um dia inteiro, cerca de 24 horas ou até mais, para ser lido e interpretado posteriormente pelo arritmologista que vai descrever se existe algum problema no ritmo cardíaco que necessite de tratamento.

O monitor holter recebeu este nome em homenagem ao Cardiologista Norman J. Holter, que o inventou, em 1949.

Desde então, o Holter evoluiu muito.

O primeiro aparelho de holter 24 horas pesava quarenta quilos e tinha que ser levado dentro de uma mochila!

Na época foi uma grande revolução, quando comparado ao ECG em repouso que ocupava 2 salas inteiras para registrar a metade das derivações que usamos hoje.

Como tudo nessa vida tem que evoluir, um dos primeiros desafios foi monitorar os astronautas a distância.

As viagens inter-espaciais levaram a NASA a aperfeiçoar os mecanismos de gravação do eletrocardiograma para análise posterior.

Visto que os astronautas eram submetidos a variações extremas de estresse e tinham que ser monitorados por longos períodos.

Hoje em dia, o aparelho mais moderno é um mini-gravador digital do tamanho de um cartão de crédito e da altura de uma caixa de fósforos e pesa apenas noventa gramas, o qual registra os dados em um cartão semelhante ao de uma câmera fotográfica ou transfere os dados para o computador via cabo USB ou WI-FI.

Os aparelhos mais atuais permitem a transmissão dos dados via internet para uma plataforma de telemedicina, possibilitando uma avaliação deles à distância e em tempo real por empresas de telemedicina.

Diferença entre MAPA e ECG de longa duração

1. Mapa de pressão arterial 24 horas

Exame realizado para monitorar a pressão arterial durante 24 horas do dia.

É usado um aparelho portátil que é colocado no braço do paciente e um registrador na cintura.

O Mapa é útil em situações como:

  • Diagnóstico de pressão alta em casos duvidosos.
  • Avaliar o efeito medicamentoso em quem está em tratamento para hipertensão.
  • Esclarecer porque a pressão sobe quando o paciente chega no consultório.
  • Saber se a pressão arterial tem o chamado descenso noturno, ou seja, a pressão arterial sistêmica deve reduzir entre 10 e 20 durante durante o sono.

2. Holter de ECG digital 24 horas

Exame realizado para monitorar o ritmo cardíaco do paciente durante 24 horas do dia.

No holter 24 horas, os eletrodos são grudados no peito do paciente e é utilizado um registrador que fica na cintura, sem atrapalhar as tarefas rotineiras do paciente.

Também chamado de  exame ecg de longa duração, é útil em situações como:

  • Avaliar disparo do coração, também chamado de taquicardia.
  • Avaliação de coração lento.
  • Avaliar funcionamento do marcapasso ventricular.

Porque fazer o exame de ecg de longa duração?

A preocupação existente em acompanhar como é o ritmo cardíaco de um ser humano está relacionada com a prevenção de morte súbita.

Morte súbita é quando o coração acelera de forma exagerada, com batimentos irregulares e em alta velocidade, algo como 300 a 600 batimentos por minuto.

Nesta ocasião, não dá tempo do coração encher e esvaziar a ponto de mandar o sangue para o cérebro e o paciente desmaia e morre.

É nestes casos que vimos os médicos darem choque nos peito para fazer a pessoa voltar a vida.

O holter consegue prever o que vai acontecer com o batimento do paciente e ajuda com isso o médico a escolher um tratamento que previna a morte por arritmia.

Como se realiza o Holter?

Eletrodos de holter

Registro de Holter de 24 horas em papel

1.Preparo antes do exame de longa duração

  • Tomar banho antes do exame e não passar nenhum creme hidratante que dificulte a adesão dos eletrodos na pele,
  • Evitar alimentos como chocolate e bebidas estimulantes como café, refrigerante a base de coca, bebida alcoólica, chá verde,
  • O homem com muitos pelos na região do peito deve depilar, caso não faça, o técnico irá executar para aderir os eletrodos,
  • Os medicamentos devem ser tomados de forma habitual e trazidos para serem registrados.

2. Iniciando com o preparo da pele do paciente

A pele do deve estar limpa, sem cremes e será livrada de seu engorduramento natural com álcool antes da colocação dos eletrodos.

São usados de três a oito eletrodos, conforme o modelo do aparelho, aderidos ao corpo em posições determinadas pelo fabricante do aparelho e seguindo protocolos que possam ser reproduzidos em outros serviços para comparação dos resultados em exames futuros.

Observe no vídeo abaixo a colocação do aparelho no paciente.

O número e a posição dos eletrodos pode variar também de acordo o tipo de investigação realizada pelo cardiologista.

Neste caso, é o especialista em cardiologia que indica como quer instalar o equipamento holter no paciente.

Estes eletrodos são conectados por fios a um receptor, preso ao cinto do paciente ou levado no bolso da sua camisa, o qual registra a atividade elétrica cardíaca durante todo o período de um dia inteiro e uma noite, em que está conectado.

Normalmente os eletrodos levam de dez a quinze minutos para serem colocados e cinco minutos para serem retirados.

O que escrever no diário do holter?

Os pacientes são solicitados a registrar suas atividades em um diário do holter, fornecido pelo técnico em enfermagem que instala o aparelho.

O exame de holter busca comparar as atividades do paciente com seus sintomas.

Muitas vezes as queixas de palpitação, descompasso, aceleramento do coração, ocorrem em atividades como subir escadas, emoções, ou até comendo.

O importante é registrar o que estava fazendo, bem como os horários em que possam ter ocorrido os sintomas, para que esses eventos sejam comparados com os dados do Holter.

A pessoa monitorada deve fazer normalmente todas as suas atividades cotidianas, menos tomar banho.

Muito importante registrar no diário o nome dos medicamentos que usa com os horários correspondentes.

Durante a utilização do equipamento não deve dormir sobre travesseiro ou colchão magnético, que podem causar interferência nos resultados.

O uso do telefone celular deve ser evitado para não interferir no registro dos dados no aparelho holter.

Também é importante presar pelo cuidado com o aparelho, evitando mexer nos fios ou eletrodos.

Caso algum eletrodo se desconecte, coloque novamente no local ou entre em contato com o técnico em enfermagem para ser orientado e assim não precisar repetir o exame.

O que acontece depois que o paciente devolve o aparelho?

Holter e mapa no mesmo aparelho

Aparelho de holter e mapa juntos no mesmo exame

Quando o aparelho é retirado do paciente, os dados captados por ele são transferidos para um computador, para serem analisados posteriormente pelo especialista em arritmia cardíaca.

Os dados do holter são transferidos para uma central de análise que pode estar na própria clínica onde o paciente realiza o exame.

O arquivo do exame holter pode ser enviado como alternativa para quem não tem especialistas no local, para uma central de Telemedicina onde os cardiologistas poderão interpretar os registros e liberar o laudo médico digital.

A interpretação demora algumas horas, visto que o conteúdo gravado de 24 horas é extenso e precisa ser separado no momento da análise das interferências e relacionar com todos os sintomas descritos pelo paciente.

Em geral, não se tratando de urgências, é possível liberar um exame de holter em 24 horas.

As empresas de Telemedicina que possuem uma equipe de cardiologistas conseguem fazer isso com mais agilidade e é um grande diferencial nos casos de arritmias complexas.

Quais os riscos para realizar Holter de ecg?

Ao utilizar o aparelho de ecg de longa duração, o paciente não é exposto a nenhum risco pela presença do equipamento grudado ao seu corpo.

O que mais acontece é alergia aos produtos utilizados para grudar os eletrodos na pele.

Muitos serviços de saúde utilizam esparadrapo para aumentar a fixação dos eletrodos e com isso, o risco de alergia é alto.

Não é um aparelho eletrônico com risco de choque elétrico e também não interage com aparelho celular, micro-ondas, por exemplo.

É solicitado que evite o contato inclusive com portões de banco para não atrapalhar a gravação do registro, mas sem risco para o paciente.

O procedimento não comporta riscos e não tem qualquer contraindicação.

Alguns pacientes podem ser sensíveis aos adesivos dos eletrodos, mas as reações, nas raras ocasiões em que acontecem, são muito brandas.

Normalmente indicamos usar um creme anti-alérgico depois do exame para evitar desconforto maior.

A pele onde estavam colocados os eletrodos não deve ser exposta ao sol durante três a cinco dias.

Que doenças são investigadas com o Holter?

Angina do peito

Investigação de dor torácica tem baixa sensibilidade

Os registros eletrocardiográficos contínuos fornecidos pelo Holter permitem informações sobre acelerações ou eventuais descompassos momentâneas do do batimento do coração e são utilizadas pelos médicos e técnicos para selecionar as áreas de interesse para análise do traçado eletrocardiográfico.

O Holter é muito utilizado para diagnosticar alterações nos batimentos cardíacos, nas síncopes ou outras alterações paroxísticas, que muitas vezes não ocorrem durante uma consulta médica.

Assim, ele está indicado para pacientes com arritmias cardíacas, palpitações ou perda de consciência.

Utiliza-se também o Holter para monitorar o coração depois de um infarto do miocárdio ou de uma cirurgia cardíaca.

Os portadores de marca-passo e de desfibriladores têm esses aparelhos ajustados e programados a partir de informações do Holter.

Resultado do exame holter

Enfermeira com tração de ecg nas mãos

O eletrocardiograma deve ser feito antes do ecg de longa duração

O resultado do holter é descrito da seguinte forma:

Exame realizado em três canais com boa qualidade técnica com registrador da Cardios.

Ritmo de base e variabilidade

Ritmo sinusal com FC mínima de 57 bpm, FC média de 89 bpm e FC máxima de 179 bpm. Não foram observadas pausas acima de 2000 ms.

Condução atrioventricular e intraventricular

O intervalo PR se manteve dentro dos limites da normalidade e os complexos QRS apresentam morfologia normal.

Atividade ectópica supraventricular

Foram observadas 15 extrassístoles supraventriculares isoladas.

Atividade ectópica ventricular

Foram observadas 7 extrassístoles ventriculares. Apresentaram-se isoladas.

Segmento ST

Não foi observada alteração significativa da repolarização ventricular em relação aos traçados iniciais do exame.

Sintomas

Diário não enviado.

As 14 possibilidades de resultados do ecg de longa duração são:

  1. ESV (Extra-sístole ventricular) rara. Nesta situação o paciente normalmente se queixa de descompasso cardíaco eventual, como se o coração saltasse pela boca em alguns momentos do dia.
  2. ESV frequente. Assim como o exemplo anterior, o paciente tem vários episódios de palpitação durante o dia.
  3. ESSV (Extra-sístole supraventricular) rara. Neste exemplo o paciente não sente esse batimento, não descreve nada no diário e recebe este resultado como normal.
  4. ESSV frequente. Esta situação é confundida com a ESV em relação aos sintomas, porém, o holter de 24 horas consegue separar de onde é originado o batimento.
  5. Fibrilação atrial paroxística. Um tipo de arrtimia proveniente dos átrios, de poucos segundos de duração que pode ter potencial ou não de causar complicações tanto cardiovasculares, quanto cerebrais.
  6. Fibrilação atrial controlada. A arritmia persistente, contínua, porém, controlada.
  7. Fibrilação atrial com resposta elevada. Neste caso a arritmia originada nos átrios não está controlada e deve ser tratada pelo cardiologista.
  8. TSVNS (Taquicardia supraventricular não sustentada). Outro tipo de arritmia originada nos átrios e que merece tratamento em qualquer pessoa que tenha esse diagnóstico.
  9. TSV (Taquicardia supraventricular sustentada). Uma situação que não é rara, o batimento permanece em média de 150 por minuto e também necessita de tratamento.
  10. Bloqueio atrio-ventricular (BAV). Podendo ser de primeiro, segundo ou terceiro grau, cada um tem sua particularidade. De maneira geral é tratado o de segundo grau tipo Wenckebach e de terceiro grau com marcapasso.
  11. Marcapasso funcionante. Ocorre nos casos de pessoas com marcapasso em que necessitamos saber se o marcapasso ventricular está em pleno funcionamento.
  12. Marcapasso em demanda. Neste caso o marcapasso entra em atividade em alguns momentos do dia em que o coração necessitou de auxílio.
  13. TVNS (Taquicardia ventricular não sustentada). Um tipo de arritmia ventricular complexa e com grande potencial de gravidade. Em todos os casos é um tratamento de urgência por ter risco de conduzir para morte súbita por arritmia.
  14. ESV isolada, ESSV raras. Resultado da grande maioria dos exames. Nosso coração é conduzido por eletricidade e está sujeita a variações de acordo com o nosso comportamento, como a respiração. Não temos como ter um ritmo cardíaco absolutamente normal o dia inteiro.

A maior indicação do exame de holter está no paciente que já teve infarto agudo do miocárdio.

Neste caso a chance de arritmia complexa é muito maior que a população em geral e esse paciente merece atenção redobrada.

Não está errado realizar esse exame nos infartados todos os anos para prevenir complicações com arritmias.

O paciente recebe o resultado do exame no seguinte formato:

Exemplo de um laudo de holte de ecg 24 horas

Modelo do laudo do holter

Existe outro exame mais completo que o Holter de ecg?

A resposta é sim. É chamado de cardioloop por ser de uso prolongado.

Em casos em que o paciente fez um exame de Holter e naquele dia não registrou nenhum evento relacionado com seus sintomas e ainda assim permaneceu alguma dúvida, usamos esse exame que pode durar uma semana.

No cardioloop o paciente fica com o aparelho em casa por até uma semana.

É ensinado como trocar os eletrodos a cada dia e o próprio paciente aperta num botão do aparelho o momento que teve algum evento, sintoma que não foi registrado com o ecg de longa duração de 24 horas.

É um exame escolhido para casos isolados onde os sintomas de descompasso cardíaco são muito incomodativos e o médico não tem certeza se deve ou não iniciar algum tratamento.

Quanto custa o aparelho de holter?

O valor do registrador que é usado no paciente está na faixa de R$ 8 mil reais, podendo ser ainda mais elevado de acordo com o fabricante que o médico for escolher.

Nós da Telemedicina Morsch compramos normalmente da CARDIOS para alugar em comodato para os clientes que não tem esse capital para investir em sua clínica.

Qual o valor de um exame de holter?

Pode custar de R$ 150,00 a 300,00 reais, de acordo com a região, concorrência e disponibilidade do exame.

Como a Telemedicina Morsch auxilia clínicas que precisam do holter?

Homem na maca realizando um ecg de repouso

ECG de repouso é diferente de um holter de ecg 24 horas

A presença de Cardiologistas em tempo integral em Clínicas localizadas em locais remotos é extremamente rara.

Quando um paciente necessita de exames complexos e que tenham seus resultados entregues de forma rápida, torna-se um transtorno para a família.

Pensando na comodidade de ter exames interpretados por especialistas que a Telemedicina Morsch investiu em uma plataforma em nuvem para receber pela internet os exames.

Os Cardiologistas logados interpretam os arquivos dos exames enviados de forma rápida e segura e devolve na forma de laudos médicos com total segurança e assinatura digital.

O cliente pode ter qualquer marca de aparelho para realizar seus exames e enviar para a análise na nossa plataforma de Telemedicina.

Não tem o aparelho? Sem problemas!

A parte mais importante é que os aparelhos são oferecidos em aluguel em comodato, onde o cliente paga uma mensalidade e recebe 10 laudos gratuitos por mês.

Como parte final, ter acesso ao exame de ecg de longa duração, também chamado de holter de ecg digital 24 horas vai trazer ao paciente uma segurança e prevenção de morte súbita por arritmia.

A arritmia pode ser não nada num paciente com coração normal onde está estressado, abusa no café, na bebida alcoólica e certamente terá um descompasso que pode ser controlado com mudança no estilo de vida.

O problema maior está nos pacientes que já operaram o coração com ponte de safena, que já infartaram ou trocaram válvulas no coração.

Nestes casos a vulnerabilidade para desenvolver arritmias complexas como taquicardia ventricular sustentada que é o gatilho para acabar em morte súbita é muito grande.

Valorize sempre a dica do especialista de acompanhar mais de perto o comportamento do ritmo cardíaco e se num exame de holter de 24 horas não foi esclarecido seus sintomas, sugira para o seu médico solicitar o gravador de eventos de longa duração de até 7 dias que trará mais segurança no diagnóstico.

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Até a próxima!

Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin