Como interpretar um eletrocardiograma: confira passos e dicas

Por Dr. José Aldair Morsch, 14 de outubro de 2019
como interpretar eletrocardiograma

Afinal, como interpretar um eletrocardiograma de forma completa?

Essa é uma dúvida comum, uma vez que o ECG é um dos principais exames realizados em serviços cardiológicos.

Além de detectar eventos graves, como o infarto agudo do miocárdio, que coloca a vida do paciente em risco.

Neste artigo, apresento um passo a passo para fazer a interpretação com qualidade, avaliando as principais características do traçado do ECG.

Ao final, mostro como os serviços de telemedicina cardiológica podem otimizar a emissão de laudos.

Boa leitura!

Quais são os desafios de interpretar eletrocardiograma?

Embora o eletrocardiograma seja realizado com frequência, nem sempre terá uma avaliação simples.

Principalmente para profissionais que acabam de se formar, uma vez que a faculdade de medicina não contempla preparar o profissional para distinguir pequenas oscilações nos gráficos do exame.

Tal destreza em predizer um diagnóstico a partir do ECG será adquirida com a experiência ao longo do tempo, mas isso requer atualização constante dos conhecimentos e dos equipamentos utilizados para essa finalidade.

Interpretar um ECG normal é relativamente fácil para os médicos em geral. 

Contudo, torna-se uma tarefa complexa nos casos de arritmias ou suspeita de infarto agudo do miocárdio, bem como diante de uma emergência.

Outro ponto que requer muita atenção é que analisar e interpretar ECG são coisas diferentes e se refletem em intervenções diferenciadas.

Uma simples análise não traz informações aprofundadas sobre o quadro do paciente, nem descreve os tópicos obrigatórios para o laudo de eletrocardiograma.

Portanto, faz sentido que a interpretação seja reservada a cardiologistas especializados, atendendo às exigências do Conselho Federal de  Medicina.

Como interpretar um eletrocardiograma?

Obviamente, a interpretação satisfatória do ECG depende da qualidade do traçado, que mostra as ondas do eletrocardiograma.

A linha de base deve ser horizontal e limpa, sem serrilhados, e apresentar um padrão para os batimentos.

Uma vez que os registros estejam ok, o cardiologista pode seguir para a análise de 5 pontos principais:

 

Atualmente vemos andando juntos o ecg analógico em tira de papel e o ecg digital

Interpretar um ECG normal é relativamente fácil para os médicos em geral

  1. Frequência cardíaca
  2. Ritmo cardíaco
  3. Eixo elétrico
  4. Sinais de hipertrofias
  5. Indícios de infarto.

Confira detalhes sobre cada tópico a seguir:

Calcule a frequência cardíaca

O primeiro passo para interpretar um eletrocardiograma é o cálculo da frequência cardíaca, o que envolve detectar quantas vezes o coração bate em um minuto

Esse cálculo se torna mais fácil se o coração estiver operando em um batimento regular.

No papel (ou tela) do ECG, cada minuto equivale a 300 “quadradinhos”.

Para calcular a frequência cardíaca, basta contar quantos quadrículos existem entre um topo e outro da onda R no desenho projetado pelo batimento cardíaco.

Em uma lógica matemática, se houver um quadradinho entre cada onda, o coração está operando a 300 BPM.

Caso haja dois, o batimento estará em 150 BPM, e assim sucessivamente.

A regra que usamos é 300/150/100/75/60/50/30/20/10.

Se o batimento for irregular, lembre-se de que cada 30 quadros grandes equivalem a 6 segundos.

Assim, conte os “topos” das ondas R dos complexos projetadas sobre o papel e, em seguida, realize uma média simples.

É importante detectar a frequência cardíaca para observar possíveis taquicardias ou bradicardias

Assim, esse cálculo permite detectar arritmias no ECG e seu nível de gravidade.

Verifique se o ritmo é sinusal

Após verificar a frequência do batimento cardíaco, o médico deve aferir se o ritmo cardíaco está normal. 

Para isso, basta analisar o tamanho das ondas, seu desenho e o espaço de quadrículos ocupado.

Para que o coração esteja em ritmo sinusal, basta verificar se a distância entre os complexos QRS é semelhante e se a onda P é gerada no nó sinusal.

Para analisar os intervalos PR e QT, meça-os a partir do desenho do ECG. 

Um intervalo PR normal fica em torno de 0,12 s e 0,20 s. O intervalo QT, por sua vez, costuma durar entre 350 ms e 450 ms.

Calcule o eixo elétrico do coração

Antes de calcular o eixo elétrico no ECG, é necessário compreender que cada uma das derivações do ECG corresponde a um ponto de vista diferente sobre o estímulo elétrico que passa pelo músculo cardíaco.

Tais pontos de vista podem ser expressos por um gráfico na forma de um plano cartesiano

Uma vez que o eixo elétrico do eletrocardiograma é calculado, os valores dos ângulos podem ser:

  • De -30° a 90°: eixo normal, esperado
  • Entre -30° e -90°: eixo desviado à esquerda
  • Entre 90° e 180°: eixo desviado à direita
  • entre -90° e -180°: desvio extremo do eixo elétrico.

Os desvios de eixo revelam sobrecarga ventricular, que pode acometer o ventrículo direito (SVD) ou esquerdo (SVE).

Identifique possíveis hipertrofias

A hipertrofia ventricular esquerda ou direita pode ser detectada a partir de diferentes critérios e padrões.

Alguns deles são:

  • Sokolow-lyon: considera a soma as ondas S de V1 ou V2 com as ondas R de V5 ou V6, e tendo um resultado superior a 35 mm e padrão strain da onda T
  • Romhilt-Estes: caracterizado pela voltagem acima de 20 mm nas derivações inferiores, voltagem acima de 30 mm em V1 ou V2 ou V5 e V6, junto ao padrão strain.

 

Identifique IAM em andamento ou antigo

Ao determinar alterações do segmento ST, a análise adequada deste intervalo pode denunciar alguma cardiopatia isquêmica

Por isso, examine o segmento ST com atenção. 

Ele deve ser isoelétrico, sendo mensurado do fim do complexo QRS até a onda T.

Compare o desenho aos segmentos PR ou ST para assegurar a exatidão da interpretação.

Se houver infarto em andamento, ele poderá ser identificado por meio da inversão da onda T e elevação do segmento ST em derivações correspondentes à parede do coração afetada.

Já o infarto antigo pode ser observado através da presença de onda Q profunda na parede correspondente ao evento.

4 dicas para melhorar a interpretação do eletrocardiograma

Agora que já abordamos o roteiro básico, trago dicas para agregar mais qualidade à interpretação desse importante exame cardiológico.

Acompanhe!

1. Aprofunde-se no caso clínico do paciente

A premissa de que a clínica é soberana vale muito na cardiologia. 

Devemos valorizar as queixas e o histórico do paciente, em especial se houver comorbidades ou fatores de risco para doenças cardiovasculares, tais como:

 

2. Verifique as configurações do aparelho de ECG

O técnico de enfermagem ou médico responsável pelo exame deve ter treinamento para utilizar corretamente o aparelho de eletrocardiograma.

Começando pelas configurações e calibração, deve-se observar aspectos como:

  • Deflexão de 1 cm no início do traçado: mostra que o eletrocardiógrafo está calibrado, uma vez que todo aparelho possui configuração para calibração de 1 mV (milivolt)
  • Velocidade do papel: corresponde à padronização do traçado, tanto no papel, para o ECG analógico, quanto na tela do computador, nos casos de exames digitais. A velocidade padrão é 25 mm/segundo
  • Tamanhos dos complexos QRS: caso apareçam muito pequenos em algumas derivações, provavelmente faltou um preparo adequado da pele do paciente, que deve ser higienizada com álcool antes da fixação dos eletrodos.

 

3. Atente-se à posição dos eletrodos ao interpretar eletrocardiograma

A troca de eletrodos nos braços e nas pernas e a colocação dos eletrodos precordiais em locais errados acaba sinalizando anormalidades onde não existem

Por exemplo, a um diagnóstico de bloqueio de ramo direito – que faz pensar em CIA (comunicação interatrial) em uma pessoa saudável.

Se colocarmos V1 e V2 acima do 4º espaço intercostal, estaremos produzindo sinais da doença de maneira iatrogênica.

Imagine o que o paciente poderá fazer com esse laudo de ECG, que foi emitido de maneira totalmente equivocada.

No vídeo abaixo, mostro como colocar eletrodos no tórax do paciente:

4. Estude mais sobre análise e interpretação de ECG

A transformação digital na saúde produz tecnologias cada vez mais modernas, numa velocidade cada vez maior.

Daí a necessidade de que os profissionais de saúde se mantenham atualizados, realizando cursos de capacitação e reciclagem periodicamente.

Ou mesmo utilizando ferramentas práticas como o treinamento via telemedicina, que disponibiliza conteúdos em vídeo, áudio, texto, infográfico etc.

O vídeo acima é um bom exemplo, e sugiro complementar sua capacitação baixando o e-book gratuito sobre Análise e Interpretação de ECG.

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Como descrever o resultado de um eletrocardiograma?

A forma mais completa e detalhada de se relatar um eletrocardiograma normal envolve a definição de todas as ondas e intervalos.

Segue um exemplo de laudo de eletrocardiograma:

  • Eletrocardiograma com ritmo sinusal
  • Frequência cardíaca de 70 bpm
  • Onda P positiva em todas as derivações, exceto aVR
  • QRS largo, com eixo elétrico do QRS normal, cerca de 45°
  • Intervalo PR considerado normal, em 0,15 s
  • QT corrigido normal em 400 ms
  • Segmento ST é isoelétrico e sem alterações relevantes
  • Onda T é positiva em todas as derivações, excetuando aVR
  • Não há onda Q patológica
  • Conclusão do eletrocardiograma: exame dentro dos limites da normalidade.

 

Vantagens da telemedicina na interpretação do Eletrocardiograma

A interpretação satisfatória do ECG depende da qualidade do traçado

Vantagens da telemedicina na interpretação do eletrocardiograma

Como é possível perceber, o ECG conta com uma linguagem própria, que é melhor entendida por especialistas.

No entanto, nem sempre o cardiologista está à disposição do consultório, clínica ou hospital para fornecer um diagnóstico preciso adequadamente.

Essa barreira é rompida pela telemedicina, que permite que especialistas analisem o ECG a distância, de modo eficaz.

É só fazer login na plataforma de telemedicina e compartilhar a imagem do traçado de ECG para que um cardiologista inicie sua interpretação.

Ele elabora o relatório e insere sua assinatura digital, entregando o laudo eletrônico em minutos.

Tudo isso com a segurança do sistema de Telemedicina Morsch, que conta com mecanismos de autenticação e criptografia.

Veja mais vantagens:

 

Como implantar o laudo a distância de eletrocardiograma?

Para aproveitar a praticidade dos laudos a distância, você precisa de uma estrutura básica, adquirindo pelo menos um aparelho de ECG, um computador ou tablet e internet banda larga.

Bastam esses itens para contratar uma empresa de telemedicina, que mantém um time de especialistas a postos para emitir os laudos online. 

Experiente na otimização de resultados de exames, a Telemedicina Morsch oferece diagnósticos para as especialidades cardiologia, neurologia, pneumologia e radiologia.

São laudos médicos produzidos em minutos por profissionais capacitados, trazendo praticidade, eficiência e comodidade.

Nosso sistema de telemedicina online oferece treinamento para os técnicos de enfermagem, que podem conduzir o eletrocardiograma e outros exames complementares com qualidade.

Todos os profissionais da Morsch têm registro regular no CFM e estão disponíveis para segunda opinião médica.

Negociamos os valores de acordo com a necessidade de cada clínica e médico, e podemos oferecer preços especiais, por exemplo, se o consultório já tiver um aparelho, necessitando apenas dos laudos.

É possível ainda realizar pagamentos em regime pré-pago e solicitar o eletrocardiógrafo sem custo adicional, aderindo ao aluguel em comodato.

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Conclusão

Saber como interpretar um eletrocardiograma é uma tarefa importante para os profissionais clínicos, o que resulta em um atendimento mais apurado, intervenções adequadas, menor possibilidade de reações adversas e complicações.

Espero ter contribuído para ampliar seus conhecimentos sobre esse importante tema!

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Leia mais artigos sobre cardiologia que publico aqui no blog.

Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin