Como interpretar um eletrocardiograma: confira passos e dicas

Por Dr. José Aldair Morsch, 2 de abril de 2024
como interpretar eletrocardiograma

Afinal, como interpretar um eletrocardiograma de forma completa?

Essa é uma dúvida comum, uma vez que o ECG é um dos principais exames realizados em serviços cardiológicos.

Além de detectar eventos graves, como o infarto agudo do miocárdio, que coloca a vida do paciente em risco.

Neste artigo, apresento um passo a passo para fazer a interpretação com qualidade, avaliando as principais características do traçado do ECG.

Ao final, mostro como os serviços de telemedicina cardiológica podem otimizar a emissão de laudos.

Quais são os desafios de interpretar eletrocardiograma?

Embora o eletrocardiograma seja realizado com frequência, nem sempre terá uma avaliação simples.

Principalmente para profissionais que acabam de se formar, uma vez que a faculdade de medicina não contempla preparar o profissional para distinguir pequenas oscilações nos gráficos do exame.

Tal destreza em predizer um diagnóstico a partir do ECG será adquirida com a experiência ao longo do tempo, mas isso requer atualização constante dos conhecimentos e dos equipamentos utilizados para essa finalidade.

Interpretar um ECG normal é relativamente fácil para os médicos em geral. 

Contudo, torna-se uma tarefa complexa nos casos de arritmias ou suspeita de infarto agudo do miocárdio, bem como diante de uma emergência.

Outro ponto que requer muita atenção é que analisar e interpretar ECG são coisas diferentes e se refletem em intervenções diferenciadas.

Uma simples análise não traz informações aprofundadas sobre o quadro do paciente, nem descreve os tópicos obrigatórios para o laudo de eletrocardiograma.

Portanto, faz sentido que a interpretação seja reservada a cardiologistas especializados, atendendo às exigências do Conselho Federal de  Medicina.

Como interpretar um eletrocardiograma?

Obviamente, a interpretação satisfatória do ECG depende da qualidade do traçado, que mostra as ondas do eletrocardiograma.

A linha de base deve ser horizontal e limpa, sem serrilhados, e apresentar um padrão para os batimentos.

Uma vez que os registros estejam ok, o cardiologista pode seguir para a análise de cinco pontos principais.

São eles:

  1. Frequência cardíaca
  2. Ritmo cardíaco
  3. Eixo elétrico
  4. Sinais de hipertrofias
  5. Indícios de infarto.

Confira detalhes sobre cada tópico a seguir:

1. Calcule a frequência cardíaca

O primeiro passo para interpretar um eletrocardiograma é o cálculo da frequência cardíaca, o que envolve detectar quantas vezes o coração bate em um minuto

Esse cálculo se torna mais fácil se o coração estiver operando em um batimento regular.

No papel (ou tela) do ECG, cada minuto equivale a 300 “quadradinhos”.

Para calcular a frequência cardíaca, basta contar quantos quadrículos existem entre um topo e outro da onda R no desenho projetado pelo batimento cardíaco.

Em uma lógica matemática, se houver um quadradinho entre cada onda, o coração está operando a 300 BPM.

Caso haja dois, o batimento estará em 150 BPM, e assim sucessivamente.

A regra que usamos é 300/150/100/75/60/50/30/20/10.

Se o batimento for irregular, lembre-se de que cada 30 quadros grandes equivalem a 6 segundos.

Assim, conte os “topos” das ondas R dos complexos projetadas sobre o papel e, em seguida, realize uma média simples.

É importante detectar a frequência cardíaca para observar possíveis taquicardias ou bradicardias

Assim, esse cálculo permite detectar arritmias no ECG e seu nível de gravidade.

2. Verifique se o ritmo é sinusal

Após verificar a frequência do batimento cardíaco, o médico deve aferir se o ritmo cardíaco está normal. 

Para isso, basta analisar o tamanho das ondas, seu desenho e o espaço de quadrículos ocupado.

Para que o coração esteja em ritmo sinusal, basta verificar se a distância entre os complexos QRS é semelhante e se a onda P é gerada no nó sinusal.

Para analisar os intervalos PR e QT, meça-os a partir do desenho do ECG. 

Um intervalo PR normal fica em torno de 0,12 s e 0,20 s.

O intervalo QT, por sua vez, costuma durar entre 350 ms e 450 ms.

Observe o exemplo abaixo:

ECG de repouso com atraso de condução pelo ramo direito do feiixe de HIs e bradicardia sinusal

3. Calcule o eixo elétrico do coração

Antes de calcular o eixo elétrico no ECG, é necessário compreender que cada uma das derivações do ECG corresponde a um ponto de vista diferente sobre o estímulo elétrico que passa pelo músculo cardíaco.

Tais pontos de vista podem ser expressos por um gráfico na forma de um plano cartesiano

Uma vez que o eixo elétrico do eletrocardiograma é calculado, os valores dos ângulos podem ser:

  • De -30° a 90°: eixo normal, esperado
  • Entre -30° e -90°: eixo desviado à esquerda
  • Entre 90° e 180°: eixo desviado à direita
  • entre -90° e -180°: desvio extremo do eixo elétrico.

Os desvios de eixo revelam sobrecarga ventricular, que pode acometer o ventrículo direito (SVD) ou esquerdo (SVE).

4. Identifique possíveis hipertrofias

A hipertrofia ventricular esquerda ou direita pode ser detectada a partir de diferentes critérios e padrões.

Alguns deles são:

  • Sokolow-lyon: considera a soma as ondas S de V1 ou V2 com as ondas R de V5 ou V6, e tendo um resultado superior a 35 mm e padrão strain da onda T
  • Romhilt-Estes: caracterizado pela voltagem acima de 20 mm nas derivações inferiores, voltagem acima de 30 mm em V1 ou V2 ou V5 e V6, junto ao padrão strain.

Então, finalmente, passamos ao passo 5.

5. Identifique IAM em andamento ou antigo

Ao determinar alterações do segmento ST, a análise adequada deste intervalo pode denunciar alguma cardiopatia isquêmica

Por isso, examine o segmento ST com atenção. 

Ele deve ser isoelétrico, sendo mensurado do fim do complexo QRS até a onda T.

Compare o desenho aos segmentos PR ou ST para assegurar a exatidão da interpretação.

Se houver infarto em andamento, ele poderá ser identificado por meio da inversão da onda T e elevação do segmento ST em derivações correspondentes à parede do coração afetada.

Já o infarto antigo pode ser observado através da presença de onda Q profunda na parede correspondente ao evento.

Tenha atenção a esses sinais, portanto.

Atualmente vemos andando juntos o ecg analógico em tira de papel e o ecg digital

Interpretar um ECG normal é relativamente fácil para os médicos em geral

Dicas para melhorar a interpretação do eletrocardiograma

O que você viu até aqui foi um roteiro básico, mas ao mesmo tempo completo, sobre como interpretar o eletrocardiograma.

Agora, vamos um pouco além.

Para agregar mais qualidade à interpretação desse importante exame cardiológico, separei as dicas abaixo.

Acompanhe!

Aprofunde-se no caso clínico do paciente

A premissa de que a clínica é soberana vale muito na cardiologia. 

Devemos valorizar as queixas e o histórico do paciente, em especial se houver comorbidades ou fatores de risco para doenças cardiovasculares.

São exemplos:

Aproveite para ler meu artigo sobre a importância da comunicação médico paciente.

Verifique as configurações do aparelho de ECG

O técnico de enfermagem ou médico responsável pelo exame deve ter treinamento para utilizar corretamente o aparelho de eletrocardiograma.

Começando pelas configurações e calibração, deve-se observar aspectos como:

  • Deflexão de 1 cm no início do traçado: mostra que o eletrocardiógrafo está calibrado, uma vez que todo aparelho possui configuração para calibração de 1 mV (milivolt)
  • Velocidade do papel: corresponde à padronização do traçado, tanto no papel, para o ECG analógico, quanto na tela do computador, nos casos de exames digitais. A velocidade padrão é 25 mm/segundo
  • Tamanhos dos complexos QRS: caso apareçam muito pequenos em algumas derivações, provavelmente faltou um preparo adequado da pele do paciente, que deve ser higienizada com álcool antes da fixação dos eletrodos.

Então, passamos aos eletrodos.

Atente-se à posição dos eletrodos ao interpretar eletrocardiograma

A troca de eletrodos nos braços e nas pernas e a colocação dos eletrodos precordiais em locais errados acaba sinalizando anormalidades onde não existem

Por exemplo, a um diagnóstico de bloqueio de ramo direito – que faz pensar em CIA (comunicação interatrial) em uma pessoa saudável.

Se colocarmos V1 e V2 acima do 4º espaço intercostal, estaremos produzindo sinais da doença de maneira iatrogênica.

Imagine o que o paciente poderá fazer com esse laudo de ECG, que foi emitido de maneira totalmente equivocada.

No vídeo abaixo, mostro como colocar eletrodos no tórax do paciente:

Estude mais sobre análise e interpretação de ECG

A transformação digital na saúde produz tecnologias cada vez mais modernas, numa velocidade cada vez maior.

Daí a necessidade de que os profissionais de saúde se mantenham atualizados, realizando cursos de capacitação e reciclagem periodicamente.

Ou mesmo utilizando ferramentas práticas como o treinamento via telemedicina, que disponibiliza conteúdos em vídeo, áudio, texto, infográfico etc.

O vídeo acima é um bom exemplo, e sugiro complementar sua capacitação baixando o e-book gratuito sobre Análise e Interpretação de ECG.

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Como descrever o resultado de um eletrocardiograma?

A forma mais completa e detalhada de se relatar um eletrocardiograma normal envolve a definição de todas as ondas e intervalos.

Segue um exemplo de laudo de eletrocardiograma:

  • Eletrocardiograma com ritmo sinusal
  • Frequência cardíaca de 70 bpm
  • Onda P positiva em todas as derivações, exceto aVR
  • QRS largo, com eixo elétrico do QRS normal, cerca de 45°
  • Intervalo PR considerado normal, em 0,15 s
  • QT corrigido normal em 400 ms
  • Segmento ST é isoelétrico e sem alterações relevantes
  • Onda T é positiva em todas as derivações, excetuando aVR
  • Não há onda Q patológica
  • Conclusão do eletrocardiograma: exame dentro dos limites da normalidade.

Lembrando que se trata de um exemplo apenas, não devendo se guiar pelos parâmetros informados.

Vantagens da telemedicina na interpretação do Eletrocardiograma

A interpretação satisfatória do ECG depende da qualidade do traçado

Vantagens da telemedicina na interpretação do eletrocardiograma

Como é possível perceber, o ECG conta com uma linguagem própria, que é melhor entendida por especialistas.

No entanto, nem sempre o cardiologista está à disposição do consultório, clínica ou hospital para fornecer um diagnóstico preciso adequadamente.

Essa barreira é rompida pela telemedicina, que permite que especialistas analisem o ECG a distância, de modo eficaz.

É só fazer login na plataforma de telemedicina e compartilhar a imagem do traçado de ECG para que um cardiologista inicie sua interpretação.

Ele elabora o relatório e insere sua assinatura digital, entregando o laudo eletrônico em minutos.

Tudo isso com a segurança do sistema de Telemedicina Morsch, que conta com mecanismos de autenticação e criptografia.

Veja mais vantagens:

No próximo tópico, esclareço o que é necessário para fazer uso do laudo a distância.

Como implantar o laudo a distância de eletrocardiograma?

Para aproveitar a praticidade dos laudos a distância, você precisa de uma estrutura básica, adquirindo pelo menos um aparelho de ECG, um computador ou tablet e internet banda larga.

Bastam esses itens para contratar uma empresa de telemedicina, que mantém um time de especialistas a postos para emitir os laudos online. 

Experiente na otimização de resultados de exames, a Telemedicina Morsch oferece diagnósticos para as especialidades cardiologia, neurologia, pneumologia e radiologia.

São laudos médicos produzidos em minutos por profissionais capacitados, trazendo praticidade, eficiência e comodidade.

Nosso sistema de telemedicina online oferece treinamento para os técnicos de enfermagem, que podem conduzir o eletrocardiograma e outros exames complementares com qualidade.

Todos os profissionais da Morsch têm registro regular no CFM e estão disponíveis para segunda opinião médica.

Negociamos os valores de acordo com a necessidade de cada clínica e médico, e podemos oferecer preços especiais, por exemplo, se o consultório já tiver um aparelho, necessitando apenas dos laudos.

É possível ainda realizar pagamentos em regime pré-pago e solicitar o eletrocardiógrafo sem custo adicional, aderindo ao aluguel em comodato.

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Conclusão

Saber como interpretar um eletrocardiograma é uma tarefa importante para os profissionais clínicos, o que resulta em um atendimento mais apurado, intervenções adequadas, menor possibilidade de reações adversas e complicações.

Espero ter contribuído para ampliar seus conhecimentos sobre esse importante tema!

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Leia mais artigos sobre cardiologia que publico aqui no blog.

Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin