Qual a diferença entre Telemedicina e Telessaúde?

Por Dr. José Aldair Morsch, 26 de julho de 2019
Telemedicina e telessaúde

Telemedicina e telessaúde estão entre as principais ferramentas de transformação dos cuidados em saúde no Brasil e no mundo.

São áreas que reúnem benefícios para pacientes, gestores e profissionais de saúde, que são conectados a partir de qualquer ponto com internet, independentemente da distância geográfica.

Como evidenciou um estudo publicado pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), investimentos em telemedicina e telessaúde em oito países melhoraram a acessibilidade e a qualidade dos cuidados médicos, além de reduzir custos com deslocamentos.

Por outro lado, a escassa regulamentação e também questões éticas criam barreiras que precisam ser transpostas para que as soluções tecnológicas alcancem mais pessoas.

Neste artigo, você vai conhecer mais sobre a importância, histórico e o papel da telemedicina e telessaúde no futuro das interações nesse campo.

Também vai ficar por dentro das diferenças entre os dois conceitos que, apesar de relacionados, têm diferenças pontuais e importantes..

Ficou interessado? Então, acompanhe este texto até o fim.

Conceito de Telemedicina e Telessaúde

Telemedicina e telessaúde têm sido utilizados, muitas vezes, como sinônimos, mas essas palavras têm significados distintos.

É verdade que ambas se referem a aplicações tecnológicas no campo da saúde, porém, em diferentes níveis.

Vamos começar pela telessaúde, que faz referência a um conceito mais amplo, englobando diferentes serviços remotos de assistência, diagnóstico, educação e pesquisa em saúde.

Cursos de ensino a distância (EAD), troca de conhecimentos, orientação profissional e estudos de doenças epidemiológicas locais a distância são exemplos de soluções viabilizadas pela telessaúde.

Dentro desse leque, encontramos também serviços de diagnóstico a distância ou telediagnóstico, que são o escopo da telemedicina.

Essa disciplina emprega tecnologias da informação e comunicação (TICs) para permitir o compartilhamento de informações médicas com finalidade diagnóstica.

Ou seja, a telemedicina é o braço da telessaúde que se dedica ao suporte diagnóstico remoto, por meio de soluções como laudos médicos a distância e segunda opinião qualificada.

Diferenças entre Telemedicina e telessaúde

Diferenças entre Telemedicina e telessaúde

Teleconsulta médica é um tipo de telemedicina

Em relação à telessaúde, diz a história que a sua primeira participação foi no início do século XX, quando a comunicação via rádio foi utilizada para oferecer serviços médicos na Antártida.

Já a telemedicina foi utilizada pela primeira vez em 1970, nos Estados Unidos, com o objetivo de melhorar o atendimento dos médicos nas áreas rurais.

A American Telemedicine Association (ATA) define a telemedicina como ferramenta tecnológica com o objetivo de oferecer um atendimento melhor aos doentes que necessitam de exames com laudos a distância.

Já a telessaúde se refere a toda e qualquer espécie de utilização de serviços de informação em relação à saúde a partir de instrumentos de comunicação tecnológica.

Como vimos, a telemedicina é uma categoria dentro da telessaúde, que, por sua vez, proporciona especializações e serviços diretos, voltados para os médicos e enfermeiros.

Graças à telessaúde, é possível, por exemplo, assistir a uma cirurgia que está acontecendo do outro lado do mundo.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define essa área como “o uso de tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) para prestar serviços de saúde à distância”.

A telemedicina é citada como “a oferta de serviços ligados aos cuidados com a saúde nos casos em que a distância é um fator crítico”, se tratando de um instrumento complementar às práticas médicas.

A história da telessaúde e telemedicina

Como mencionei no tópico anterior, a telessaúde e telemedicina como conhecemos hoje existem desde o início do século XX.

No entanto, dependendo da referência, podemos dizer que a história da telessaúde e telemedicina começou bem antes disso.

Considerando que essas soluções têm base na comunicação, há relatos de seu surgimento ainda na Idade Média, quando um médico se isolou do surto de pragas que assolavam a Europa.

O profissional se manteve na margem oposta do rio em seu povoado, onde recebia e orientava um agente comunitário, que contava ao médico quais sintomas a população apresentava.

Depois de ouvir recomendações, o agente se dirigia ao povoado e tomava as medidas sugeridas pelo médico.

Se, contudo, partirmos da primeira invenção que possibilitou a transmissão de informações de saúde a distância, tudo começou em meados do século XIX, com a criação do telégrafo, que permitiu o envio de laudos de exames radiográficos a locais distantes.

Já no início do século XX, foi inventado o estetoscópio eletrônico, que enviava sinais por aproximadamente 50 milhas graças a repetidores, amplificadores e receptores.

O equipamento ganhou publicidade na década de 1910, sendo citado no artigo “A Telephone Relay”, de S. G. Brown e veiculado no Journal of the Institution of Electrical Engineers, em Londres.

Décadas depois, veio o telefone e a oportunidade de formar redes de transmissão de dados médicos.

A combinação entre linhas telefônicas e máquinas de fax possibilitou o envio remoto de gráficos de eletrocardiograma (ECG) a cardiologistas, que os interpretavam a distância, beneficiando pacientes em zonas afastadas dos centros urbanos.

Simultaneamente, o rádio desempenhava um papel importante na comunicação em saúde, conectando médicos nas frentes de batalha da 2ª Guerra Mundial a colegas em hospitais de retaguarda, em 1946.

A partir da década de 1950, circuitos fechados de televisão foram empregados para viabilizar serviços de saúde mental e a troca de dados médicos entre o Hospital Estadual de Norfolk e especialistas do Instituto Psiquiátrico de Nebraska, nos Estados Unidos.

Sistema pioneiro

Essa tecnologia culminou na construção do primeiro sistema completo e interativo de telemedicina, em 1967.

Ele era usado para examinar, a distância, viajantes que passavam pelo posto médico do Aeroporto Internacional de Logan, em Boston.

Em 1969, os astronautas enviados à Lua tiveram a saúde (pressão sanguínea, temperatura, batimentos cardíacos) monitorada através da telemedicina, com o auxílio da videoconferência.

Nos anos 1970, países europeus com inverno rigoroso começaram a apostar na tecnologia para dispensar a necessidade de locomoção até os hospitais em dias de neve.

A telemedicina e telessaúde avançaram ainda mais com a popularização da internet no fim do século XX, conquistando empresas e governos em países emergentes, a exemplo do Brasil.

Legislação e normas da telessaúde e telemedicina

No Brasil, a maior parte dos serviços em telessaúde e telemedicina é permitida, com exceção da teleconsulta – consulta a distância entre médico e paciente.

Conselho Federal de Medicina e Ministério da Saúde são as principais entidades que regem o setor, respondendo pelas legislações de base para qualquer estabelecimento que empregue a tecnologia para ofertar serviços em saúde.

Uma das normas que vale destacar é a Resolução CFM nº 1.643/2002, que define e disciplina a prestação de serviços através da telemedicina, mas adota um conceito mais abrangente, fazendo referência à telessaúde.

Segundo o documento, telemedicina é:

“O exercício da Medicina através da utilização de metodologias interativas de comunicação audiovisual e de dados, com o objetivo de assistência, educação e pesquisa em Saúde.”

Outra legislação importante é a Portaria MS nº 2.546/11, que regula o Programa Nacional Telessaúde Brasil Redes – modelo para negócios nesse segmento.

Telessaúde Brasil Redes é uma iniciativa forjada pelo Ministério da Saúde para ofertar serviços de teleconsultoria, telediagnóstico, segunda opinião formativa e tele-educação no âmbito do SUS.

Aspectos éticos da telessaúde e telemedicina

Aspectos éticos do atendimento médico á distância

Segunda opinião médica

Tanto a prestação de serviços quanto a transmissão de informações de saúde envolvem uma série de aspectos éticos.

Primeiro porque o Código de Ética Médica (CEM) proíbe, em seu artigo 62, a prescrição de tratamento ou outros procedimentos sem exame direto do paciente.

O atendimento é permitido apenas em casos de urgência e impossibilidade comprovada de realizá-lo pessoalmente.

Houve um movimento do CFM em favor da aprovação da consulta a distância entre médico e paciente (teleconsulta) em fevereiro de 2019, por meio da Resolução 2.227/18.

Contudo, diversas entidades do setor se manifestaram contrariamente e/ou pediram tempo para contribuir com o tema, levando à revogação da norma alguns dias depois de publicada.

O tema segue em revisão pelo CFM, que deverá aprovar nova legislação em breve.

O Código de Ética também veda ao médico revelar informações de saúde sem o consentimento expresso do paciente, ou facilitar o manuseio e conhecimento dos prontuários médicos.

Portanto, como afirma este artigo publicado na Revista Panamericana de Salud Pública, os profissionais que trabalham com telessaúde devem seguir as normas atuais, prezando pela segurança ao compartilhar dados dos pacientes.

Os pacientes devem ser orientados quanto ao uso da tecnologia para transmissão de informações, a fim de que estejam conscientes ao autorizar esse serviço.

E os médicos, por sua vez, devem seguir a legislação que rege o setor, protegendo suas senhas e arquivos digitais para garantir o sigilo médico-paciente.

Qual a importância da telemedicina e telessaúde?

A telemedicina e a telessaúde são primordiais para aumentar o acesso à assistência básica em locais remotos, situações extremas ou na carência de mão de obra médica.

Com o auxílio da tecnologia, populações ribeirinhas, de cidades pequenas ou com acesso restrito são conectadas ao atendimento necessário, dispensando deslocamentos longos, difíceis e custosos.

Esse impacto positivo das soluções tecnológicas vem sendo percebido há décadas, motivando cada vez mais entidades a apostar na telemedicina e telessaúde.

Para se ter uma ideia, a própria Organização Mundial da Saúde recomenda, através da Resolution WHA58.28 eHealth, que seus 192 países-membros utilizem a telessaúde para melhorar a qualidade dos serviços.

A tecnologia também favorece atendimentos em casos de urgência, salvando vidas e reduzindo as sequelas de eventos como infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC).

Benefícios da telemedicina e telessaúde

Benefícios da telemedicina e telessaúde

Teleatendimento médico

Veja um resumo com os principais benefícios da telemedicina e telessaúde:

  • Aumento no acesso a serviços de saúde de qualidade
  • Redução de custos com deslocamento
  • Troca de informações entre profissionais de saúde, em tempo real
  • Educação a distância em saúde
  • Facilidade para discussão de casos e segunda opinião qualificada
  • Melhoria no atendimento a urgências com a orientação a distância de especialistas
  • Interpretação e emissão de laudos médicos remotamente
  • Agilidade na entrega de resultados de exames, graças ao laudo digital
  • Arquivamento de arquivos digitais com segurança na nuvem (local de armazenamento na internet)
  • Disponibilidade do prontuário médico eletrônico (PEP), que dispensa a guarda dos documentos em papel e pode ser acessado de qualquer dispositivo com internet.

Telemedicina e telessaúde no Brasil

 

No Brasil, as primeiras ações de telemedicina e telessaúde partiram da iniciativa privada, que iniciou a interpretação de eletrocardiogramas a distância na década de 1990.

Na época, instituições na área da educação também apostaram nessas soluções, resultando em videoconferências e laboratórios de telemedicina como o da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), inaugurado em 1999.

Porém, o maior impacto veio de investimentos públicos, como o já citado Programa Nacional Telessaúde Brasil Redes, que tem transformado a realidade de populações em diversos estados brasileiros.

Dez anos após o início do projeto, em 2016, o Ministério da Saúde já contabilizava mais de 3 milhões de diagnósticos a distância, 3 milhões de ações de tele-educação e 480 mil teleconsultorias (orientações entre profissionais de saúde).

Outro projeto de destaque é a Rede Universitária de Telemedicina (Rute), voltada para a melhoria da infraestrutura de comunicação em hospitais universitários e universidades públicas, fortalecendo o Telessaúde Brasil Redes.

Telemedicina e telessaúde no Mundo

 

Existem muitas iniciativas e estudos sobre telessaúde e telemedicina no mundo.

Conforme levantamento do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), é possível confirmar a melhoria na assistência em nações que possuem programas estruturados de telemedicina.

Na Austrália, por exemplo, o sistema público cobre a realização de teleconsultas em áreas rurais ou remotas, desde que um profissional de saúde acompanhe o paciente.

Videoconferências têm auxiliado médicos e pacientes na Albânia, país que tem apenas um centro especializado em trauma.

Através do programa de teleneurotrauma, equipes de saúde de outros estabelecimentos têm contato em tempo real com especialistas em trauma, que auxiliam na avaliação do paciente e decidem se é necessário removê-lo até o centro de referência.

Essa avaliação remota dispensou a transferência de 66% dos pacientes atendidos, melhorando seu prognóstico e enxugando gastos com deslocamento.

Telessaúde e Telemedicina: o futuro da saúde

Uma das maiores tendências para o futuro são os serviços prestados remotamente, o que já se reflete nas compras (com o e-commerce), suporte de TI e diferentes tipos de consultoria.

O mesmo raciocínio vale para a área da saúde, o que coloca a telessaúde e telemedicina na rota dos negócios de sucesso nesse segmento.

Devido a vantagens no compartilhamento de informações e diminuição das despesas, os serviços a distância continuarão crescendo nas próximas décadas, atendendo à demanda por mão de obra médica de qualidade.

Por isso, empresas que investirem nessas inovações saem na frente, conquistando uma parcela maior de um mercado em expansão.

Sobre a Telemedicina Morsch

Unindo a expertise de vários especialistas a uma plataforma completa e intuitiva, a Morsch já interpretou mais de 1 milhão de testes de diagnóstico a distância.

Através de um processo simples, clínicas, hospitais e consultórios recebem laudos médicos em cardiologia, pneumologia, radiologia e neurologia em minutos, com toda a comodidade e segurança.

Basta que treinem um técnico em radiologia ou enfermagem para que conduza os procedimentos com equipamento digital e compartilhe os registros via plataforma de telemedicina.

Oferecemos um sistema que protege o prontuário médico, sendo criptografado e acessível apenas mediante login e senha.

Além dos resultados de exames, nossos clientes contam serviços agregados como treinamento a distância, segunda opinião qualificada e comodato de aparelhos médicos.

Conclusão

Neste artigo, falei sobre aplicações, vantagens e diferenças entre telemedicina e telessaúde.

Ficou clara a contribuição dessas especialidades no passado, presente e futuro da assistência básica, tanto no Brasil quanto em outras nações.

Você também pode aproveitar os benefícios das soluções em telemedicina na sua clínica, com ganhos nas suas receitas a partir da emissão de laudos médicos a distância.

Conte com a Morsch para conduzir você e sua equipe à modernização nos serviços, conferindo rapidez e suporte para diagnósticos assertivos.

Entre em contato para saber mais, ou, se preferir, teste grátis nossa plataforma.

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Referências Bibliográficas

A telemedicina traz benefícios ao sistema de saúde? Evidências internacionais das experiências e impactos – Instituto de Estudos de Saúde Suplementar.

Resolução CFM Nº 1.643/2002 – Define e disciplina a prestação de serviços através da Telemedicina.

Programa Nacional Telessaúde Brasil Redes – Ministério da Saúde.

Portaria MS nº 2.546/11 – Redefine e amplia o Programa Telessaúde Brasil.

Novo Código de Ética Médica – Conselho Federal de Medicina. 2019.

WHA58.28 eHealth  / World Health Assembly – Organização Mundial da Saúde. 2005.

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REZENDE, Edson José Carpintero; MELO, Maria do Carmo Barros; TAVARES, Eduardo Carlos ; et al. Ética e telessaúde: reflexões para uma prática segura. Revista Panamericana de Salud Pública. 2009.

WEN, Chao Lung. Telemedicina e Telessaúde – Um panorama no Brasil. Informática Pública ano 10 (2): 07-15. 2008.

CASTRO FILHO, Eno Dias. Telessaúde no apoio a médicos de atenção primária. 2011.

Por que telemedicina e telessaúde são importantes para o Brasil – Inova.jor.

Ações de telemedicina e telessaúde mudam a realidade da saúde no Brasil – Rede Nacional de Ensino e Pesquisa.

Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin